O ator goianiense Filipe Bragança, de 20 anos, iniciou sua carreira na TV no ano de 2013, interpretando o personagem Duda, no remake da telenovela Chiquititas, no canal SBT. Desde então, foram muitos os papéis. Christian Figueiredo no longa “Eu Fico Loko”, Freddy Prince em “Cinderela Pop”, Benjamin Nasser em “Órfãos da Terra”, entre outros, ganhando o Prêmio Bibi Ferreira de Melhor Ator Revelação por sua atuação na peça Les Misérables, em 2017. Seu papel mais recente e mais desafiador é o de Victor Dantas na década de 70, na série original Prime Video, “Dom”, que estreou no dia 4 de junho.
Nosso Portal conversou com Filipe, que contou sobre os desafios de interpretar Victor Dantas, expectativa para a segunda temporada da série, novos projetos em sua carreira e hobbies que descobriu durante o isolamento social.
Primeiramente, gostaria de agradecer imensamente pela oportunidade! Sou grande admiradora de seus trabalhos e sinto-me lisonjeada por ceder um pouco de seu tempo para mim.
Eu é que agradeço a oportunidade. Obrigado pelo espaço e pela troca!
Em Dom, seu papel como Victor Dantas, lhe levou para uma época e um contexto diferentes do atual, porém, que possuíam mazelas muito atuais. Como foi atuar em meio à temática de tráfico e ditadura?
É muito louco, porque a década de 70 no Brasil tem o seu charme, as roupas, as cores, as músicas, as praias do Rio, mas apesar disso o Brasil passava pela ditadura militar, um período nada charmoso. Pelo contrário, um momento violento, repleto de repressão, tortura e morte. Inclusive, a minha parte da série se passa em 1970, portanto o AI-5 ainda estava em vigor.
Dito isso, acredito que em cena eu tinha o trabalho de encontrar e expressar essa sensação estranha causada pela falta de liberdade, pelo medo da repressão do Estado, ao mesmo tempo expressar a juventude de um Victor Dantas descobrindo o mundo, suas belezas, e desenvolvendo um senso de justiça ambíguo, que também é resultado da sociedade brasileira da época. E claro, existe a responsabilidade de tentar deixar claro, no Brasil de hoje onde alguns pedem a volta do AI-5 e da ditadura: aquela época não foi nada boa.
Filipe Bragança como Victor Dantas em “Dom” (Divulgação/Conspiração Filmes)
O jovem Victor era corajoso e cheio de sonhos, embora sentisse medo em alguns momentos. Se identifica em algo com o personagem?
Sou cheio de sonhos assim como ele, e corajoso também, mas ele era mais corajoso do que eu. Ele era meio louco na verdade, né? Eu não teria coragem de participar das missões que ele participou. Inclusive essa busca incessante por adrenalina é algo que liga o Victor com o Pedro na série.
No mais, eu diria que dadas as próprias circunstâncias das épocas da minha juventude e da dele, acho que eu consigo enxergar o mundo e a sociedade de forma mais complexa enquanto ele tinha algumas certezas rasas e deturpadas.
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Victor e a série Dom, em geral, são completamente diferentes de produções que atuou anteriormente. Como foi interpretar um papel tão complexo?
Foi delicioso. Tenho a sensação de que eu já vinha me preparando pra um papel como esse há anos, então quando chegou a oportunidade pra mim eu me sentia pronto e cheio de energia pro personagem. Mas é claro que houveram desafios durante o processo, e com isso eu aprendi muitas lições valiosas, como sempre acontece quando se trabalha com gente tão talentosa em cena e nos bastidores. Esses aprendizados são a melhor parte de qualquer processo.
Apesar da adrenalina ser basicamente um personagem da trama, Dom conta um drama familiar, dois lados de uma mesma moeda. De qual maneira você acredita que a jornada de Victor influencia na de Pedro?
Olha, eu nem enxergo como dois lados da mesma moeda. Victor e Pedro estão praticamente do mesmo lado, eles são a mesma moeda e essa moeda se chama Brasil.
Evidentemente que Victor se tornou um policial com o objetivo de combater os crimes e as drogas, e o Pedro se tornou um adicto criminoso, mas tudo isso é um grande paradoxo. De que adianta combater o crime e as drogas sem inteligência e cautela? De que adianta ter um objetivo nobre, mas executá-lo violando direitos básicos dos cidadãos brasileiros, resultando em uma guerra às drogas sem fim? Talvez a dedicação do Victor fosse nobre, mas acabou participando na formação de uma realidade trágica que consumiu seu filho e criou o Pedro que vemos na série.
Gabriel Leone, Flávio Tolezani e Filipe Bragança (Reprodução/Instagram)
A cocaína chegou ao Rio de Janeiro nos anos 70 e em 2021, ainda existe uma guerra sem previsão de fim contra ela. Vendo o cenário anterior e o atual, vê muitas semelhanças?
Vejo semelhanças, mas me parece que nos anos 70 era compreensível que se tentasse combater as drogas dessa forma, com guerra. Hoje, em 2021 já não é mais. A começar pela nossa própria experiência, dinheiro público gasto durante décadas pra fazer uma guerra que acumula violência, cadáveres e não resolve o verdadeiro problema: adictos, doentes, e famílias destruídas. São anos investindo nessa guerra e o resultado é um país mais violento e incapaz de pensar o futuro.
E pra além disso, 2021! Informação é poder! Sabemos, pela ciência e pela experiência de outros países inclusive, que as drogas são um problema que deve ser combatido de outras formas. O pai do Victor diz isso pra ele em uma cena: “Drogas são uma questão de saúde pública.”
Dom foi renovada para sua segunda temporada recentemente. Quais as suas expectativas para a nova fase da série?
Não conta pra ninguém mas eu já li os roteiros, e a segunda temporada promete. Como qualquer série, uma segunda temporada tem que expandir aquele universo e se aprofundar ainda mais nos personagens, e estou ansioso pra isso, principalmente sendo executado por uma equipe de profissionais extraordinários.
Filipe Bragança e Fábio Lagos como Victor Dantas e Ribeiro em “Dom” (Reprodução/Instagram)
A pandemia trouxe um grande atraso para a classe artística, mas apesar disso, você tem um projeto novo, em que atuará como dublador. Quais spoilers pode nos dar sobre?
É um filme de animação brasileiro, o que por si só já me faz sentir honrado. Mas pra além disso, é uma animação linda, inteligente, sensível e necessária, bem ao estilo Pixar. E eu interpreto um abacaxi, então se você já me imaginou sendo um abacaxi, tá aí sua oportunidade.
Em suas redes sociais, você mostra seu talento como cantor, publicando covers internacionais e nacionais. Pretende, em algum momento, criar um projeto autoral na música?
Eu amo música. É um combustível importante pra mim, enquanto artista, ator e pessoa. E eu escrevo algumas coisas, mas acho que ainda não é o momento de um projeto profissional como músico. Mas esse momento vai chegar, tenho certeza.
Para finalizar. Impossibilitado de praticar hobbies como frequentar cinema ou teatro, quais outros divertimentos descobriu no período de isolamento?
Meu violão e meu piano são parceiros importantes, meus livros e filmes também. Eu escrevi um roteiro de um longa-metragem no início da pandemia, foi interessante. Quem sabe um dia. Aprendi a me dedicar mais seriamente a exercícios físicos e alimentação. E aprendi a cozinhar! Mas cozinhar mesmo, receitas complexas e tal. Recomendo muito, é terapêutico e, se você for bom, ainda dá pra agradar a família e descolar um romance
Foto destaque: Filipe Bragança fotografado por Ángel Castellanos (Reprodução/Instagram)