Inteligência artificial traz estrelas de cinema de volta às telas

Alexandre Kenzo Por Alexandre Kenzo
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James Dean, considerado por muitos como um ator lendário de Hollywood, morreu no dia 30 de setembro de 1955, aos 24 anos de idade. Hoje, 68 anos depois do acidente de carro que o levou, ele está escalado para voltar às telas do cinema.

A tecnologia que será utilizada no filme Back to Eden para realizar tal feito trata da inteligência artificial (IA), que em muito tem ocupado discussões recentes. Utilizando técnicas de deep learning, simulando novas performances a partir de gravações já realizadas, a estrela – ou melhor, um clone digital – poderá ser programado para caminhar, falar, e até interagir com outros atores do filme.

Visto o vasto potencial dessa tecnologia, não surpreende que muitos se pronunciaram à favor ou contra seu uso. Especialmente no clima político da greve dos roteiristas na Hollywood, que ocorre em 2023 pela primeira vez em 43 anos, existe o medo dos atores em serem substituídos pelo digital.

Como toda discussão em torno de inteligência artificial, o debate invoca a questão principal da tecnologia: é uma oportunidade, ou uma nova via de exploração? No cinema, qual seria o seu papel?


James Dean estrelará no filme Back to Eden, quase sete décadas após sua morte.

James Dean estrelará no filme Back to Eden, quase sete décadas após sua morte. (Foto:Reprodução/BBC/Getty Images)


Oportunidade

Para início de conversa, a tecnologia abre portas para o uso de um número maior de pessoas, quebrando certas barreiras. O avatar de James Dean, por exemplo, poderá atuar não somente na tela, mas também de forma mais interativa com o público, em plataformas de realidade aumentada, realidade virtual, ou até jogos. Tal registro, além de ter certa fidelidade, seria duradouro.

Eu poderia ser atropelado por um ônibus amanhã e pronto, mas minhas performances podem continuar indefinidamente,” disse Tom Hanks, indo além no Adam Buxton Podcast.

Um caso brasileiro já memorável, nessa questão de “ressuscitação“, é o vídeo de campanha da Volkswagen utilizando a imagem animada da cantora Regina Elis, morta há 41 anos, para fazer um dueto com a filha Maria Rita.


Elis Regina em propaganda polêmica, utilizando inteligência artificial.

Elis Regina em propaganda polêmica, utilizando inteligência artificial. (Foto:Reprodução/Volkswagen)


Exploração

Por outro lado, existem as diversas controvérsias associadas à ferramenta, desde o direito de imagem até a perda de empregos em massa. 

Se sua família quer vendê-lo e você está morto, não há muito que você possa fazer,” adverte o advogado Pou-I “Bonnie” Lee, que trata do caso nos Estados Unidos. No Brasil, alguns já tomam precauções antecipadas, a da atriz Susan Sarandon, que publicamente já alertou que a IA poderia fazê-la “dizer e fazer coisas sobre as quais não tenho escolha“.

Além disso, há a questão da substituição do trabalho humano pelo software, e todas as suas consequências.

Não há oportunidade para ninguém,” reclamou Tim Friedlander, presidente da National Association of Voice Actors (Nava) nos EUA. “Eles perderam o emprego para um dublador falecido porque ele é a voz original do Pernalonga, Gaguinho e outros [personagens do Looney Tunes].”

Com a greve da Writer’s Guild of America (WGA) ainda em andamento, o processo de automação que agora é aplicado para a indústria do entretenimento pode acabar com repercusões graves para os atores no cinema. Como que em um enredo de ficção científica, hoje os vivos podem perder emprego para os mortos. 

Foto Destaque: Sala de Cinema com filme em andamento. Reprodução/Krists Luhaers/ Unsplash)

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