Luz no fim do túnel: especialistas estudam futuro da Argentina

Marcos Flavio Nascimento Por Marcos Flavio Nascimento
5 min de leitura

Robin Brooks, um economista alemão, tem usado frases impactantes como “Suíça da América Latina”, “Bric do futuro” e “superpotência agrícola” para expressar seu otimismo em relação à economia brasileira nos últimos meses. 

Sua confiança é tão sólida que, em uma ocasião recente em 22 de setembro, Brooks sugeriu que, para a Argentina, vincular o peso argentino ao real brasileiro pode ser uma alternativa mais vantajosa do que considerar a dolarização.

Como economista-chefe do IIF, uma influente entidade global que representa instituições financeiras, Robin Brooks tem sustentado uma perspectiva otimista em relação ao Brasil por vários anos. Com uma presença ativa no Twitter, onde possui uma impressionante base de seguidores com 266 mil pessoas, o economista é conhecido por compartilhar análises econômicas concisas, frequentemente acompanhadas de gráficos e frases de impacto.

No Brasil, Brooks conquistou grande popularidade e se tornou um fenômeno nas redes sociais, sendo alvo de memes sob a alcunha “in careca we trust” (em careca nós confiamos), uma brincadeira que faz referência às projeções do economista para o real brasileiro. Especialista em câmbio, Brooks acumula experiência em instituições renomadas como o Goldman Sachs e o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Segundo Brooks, o valor adequado para o dólar no Brasil seria de R$ 4,50. Ele argumenta que existem razões fundamentais para que a taxa de câmbio se estabilize neste patamar, sendo a principal delas o papel sólido do Brasil como um grande exportador de commodities como soja, milho e petróleo. Essa posição de destaque impulsiona o crescimento econômico, fortalece a moeda brasileira em relação ao dólar e abre caminho para a redução das taxas de juros.

Relação com os commodities

Robin Brooks declarou recentemente que a década de estagnação econômica no Brasil chegou ao fim. O crescimento real do PIB retornou aos níveis registrados há uma década. Ele levanta a hipótese de que, possivelmente, nunca houve um problema fundamental com a economia brasileira, pois o Brasil é essencialmente um país exportador de commodities. Em 2014, a economia foi impactada negativamente pelo colapso nos preços globais das commodities, mas esse choque está gradualmente se dissipando, e o Brasil está se recuperando, conforme compartilhado por Brooks em um tweet no último dia 3.

A Argentina entrou em foco nas publicações do economista do IIF após a surpreendente ascensão do candidato de extrema direita, Javier Milei, nas eleições primárias do país vizinho em 13 de setembro. Em meio a uma inflação de 100% em 12 meses, uma das propostas mais marcantes de Milei é substituir o peso argentino pelo dólar, um plano controverso que parece estar alinhado com o perfil antissistema do candidato.


Principais commodities da Argentina (Foto: Reprodução/Brasil Independente)


Adoção do dólar

Contudo, de acordo com economistas que se opõem à dolarização, um dos riscos dessa medida é a falta de sincronia nos ciclos econômicos. Sem sua própria moeda, a Argentina não teria mais a capacidade de definir sua própria taxa de juros, ficando sujeita às decisões do Fed, o banco central dos Estados Unidos.

Dado que os ciclos econômicos na Argentina muitas vezes não estão alinhados com os dos Estados Unidos, surgiria um problema. Se ocorresse uma recessão na Argentina e fosse necessário reduzir as taxas de juros para estimular a economia, isso não seria possível caso o Fed aumentasse as taxas de juros devido a eventos internos nos EUA. Isso poderia resultar em uma desaceleração econômica adicional na Argentina, mesmo que já estivesse em um estado de estagnação.

Os ciclos econômicos da Argentina são mais semelhantes aos do Brasil devido ao considerável comércio entre os dois países e à exportação de commodities. Se os preços das commodities caírem, isso afetaria negativamente ambos os países. A Argentina desvalorizaria sua moeda em relação ao dólar, juntamente com o Brasil. 

No entanto, se a Argentina estiver dolarizada, essa flexibilidade cambial seria limitada. Comentários sarcásticos nas postagens de Robin Brooks não receberam resposta, com alguns fazendo piadas sobre a “Suíça da América do Sul” e a possível adoção da dolarização pela Argentina quando a taxa de câmbio do real atingir R$ 4,50 por dólar.

 

Foto destaque: Moeda americana está sendo cotada para circular na Argentina. (Reprodução/NeoFeed).

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