A Procuradoria Federal do Consumidor do México (Profeco) entrou em negociação com a rede de cinemas Cinépolis após consumidores abandonar a sessão de cinema do filme “Emilia Pérez” e solicitar reembolso por insatisfação com o conteúdo apresentado.
Com base em uma suposta “garantia de insatisfação” proposta pela rede de cinemas, diversos telespectadores do longa exigiram reembolso após o descontentamento com a produção que aborda o país em questão dirigida por Jacques Audiard, diretor e roteirista francês.
Jogo de palavras e conflito
Nas redes sociais, os internautas interpretaram o termo “Garantia Cinépolis” de forma literal, entendendo-o como uma garantia de reembolso caso a sessão não agradasse, desde que a insatisfação fosse manifesta nos primeiros 30 minutos do filme. Contudo, a rede esclarece que a expressão representa apenas um “selo de recomendação para filmes considerados de alta qualidade” e, portanto, não está vinculada a qualquer política de reembolso, de fato.
Profeco, por sua vez, em função das diversas reclamações, entrou em argumentação com a rede de cinemas para apurar os termos usados na comunicação, verificando se são claro e conforme o sugerido pela legislação.
A Lei Federal de Proteção ao Consumidor determina que se usem termos como “garantia” de forma clara e objetiva, além de fornecer explicações para evitar ruídos e desvios de comunicação.
Polêmicas de “Emilia Pérez”
Ambientada no México, um diretor francês e produzida com um elenco majoritariamente norte-americano, “Emília Pérez”, durante sua trajetória, a produção enfrentou diversos percalços, como o abuso de estereótipos e uma abordagem desprovida de embasamento, o que gerou críticas imediatas dos mexicanos, que consideraram o longa-metragem desrespeitoso à sua cultura.
As críticas se tornaram ainda mais contundentes após Jacques Audiard, diretor do longa, afirmar em suas entrevistas que não se dedicou a pesquisa a respeito do país para a produção de “Emilia Pérez” por já entender o suficiente.
As críticas também apontaram a ausência de atrizes mexicanas no elenco principal, composto por duas norte-americanas (Zoe Saldaña e Selena Gomez) e uma espanhola, Karla Sofía Gascón, escolhida como protagonista. Além disso, a falta de fluência de Selena Gomez no espanhol gerou ampla repercussão negativa, já que sua habilidade no idioma é praticamente inexistente.
A polêmica de elenco não culmina apenas no resultado, mas também na declaração feita por Carla Hool, diretora de elenco, que respalda a escolha, afirmando que mesmo após uma grande busca no México, Estados Unidos, Espanha e América Latina, conclui que os melhores profissionais não eram nativos do país ambientado na trama. No entanto, a produção conta com a presença de uma única atriz mexicana, Adriana Paz, com poucos minutos de tela.
Nas redes, nativos do país não pouparam críticas a produção, definida como “uma piada racista e eurocêntrica”
“Quase 500.000 mortos [pelo narcotráfico] e a França decide fazer um musical sem mexicanos no elenco ou equipe.”
Enredo
Inspirado na trama do livro “Écoute”, de Boriz Razon, Audiard escreveu e dirigiu “Emilia Pérez”. A história, ambientada no México, acompanha uma traficante de drogas transgênero que decide realizar a cirurgia de redesignação sexual para abandonar seu passado criminoso e iniciar uma nova vida. Para isso, ela conta com o apoio da advogada Rita, interpretada por Zoe Saldaña, enquanto tenta lidar com o complexo relacionamento com sua esposa Jessi, vivida por Selena Gomez.
A história se desenvolve por atos musicais em inglês e espanhol, o que novamente chama atenção pelo diretor não ter proficiência em nenhuma das duas línguas.
Mesmo com todas as polêmicas repercutindo na mídia internacional, a produção ainda chama atenção pela quantidade de prêmios e indicações que vem acumulando desde o Festival de Cannes de 2024, Globo Ouro e também as recentes 13 indicações ao Oscar 2025.
Nas redes sociais, internautas mexicanos têm demonstrado apoio ao filme “Ainda Estou Aqui”, que também recebeu uma indicação ao Oscar. Por meio de postagens e memes, os mexicanos expressam seu desejo de que a produção brasileira e Fernanda Torres conquistem a estatueta.
As polêmicas ainda não têm um fim prometido e, dependendo do desenrolar do Oscar 2025, é possível que esse fim esteja bem distante e prometendo muita repercussão não apenas do México mas também dos brasileiros em defesa de “Ainda Estou Aqui” na maior premiação do cinema mundial.