Árbitra Deborah Cecília se pronuncia sobre tentativa de agressão

Naluh Braga Por Naluh Braga
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Após 107 anos, Deborah Cecília quebra paradigmas e se torna a primeira mulher a arbitrar um jogo do Campeonato Pernambucano. Entretanto essa conquista acabou sendo marcada por um outro acontecimento:  O meia Jean Carlos, do Náutico, avançou para cima de Deborah após ser expulso. A atitude do jogador foi relatada como tentativa de agressão na súmula e teve repercussão nacional.

Jean Carlos foi expulso com cartão vermelho, após a intervenção do VAR quando o jogador deu uma cotovelada em Yuri Bigode, do Retrô, aos 22 minutos do primeiro tempo. Na sequência, partiu para cima de Déborah Cecília e  no final, foi contido por atletas e pela equipe de arbitragem que estava presente no campo.

Veja o vídeo: 


(Registro do momento da tentativa de agressão/ Reprodução YouTube)


Nesta segunda-feira, 02, a árbitra se pronunciou pela primeira vez desde o ocorrido. Deborah reafirmou o relato escrito na súmula e cobrou uma punição.

“Isso não cabe mais no meio do futebol, seja com homem ou mulher. Espero que tenha uma punição. Não pode perder a cabeça e partir para cima de pessoas. Isso não pode passar impune. Não pode passar a mão por cima disso”,  disse a árbitra em entrevista para o Globo Esporte.

“As imagens estão aí. Ficou claro a atitude dele com relação à cotovelada no jogador. E ficou claro o meu cuidado de dar dois, três passos atrás para expulsá-lo. Se eu não dou esses passos, coisa pior iria acontecer.” Deborah diz, reforçando o justo recebimento do cartão vermelho e destacando sua própria postura em autodefesa em campo. Ela ainda afirma que: 

“E se as pessoas que estão envolvidas ali, os jogadores da outra equipe, e até os próprios companheiros e a arbitragem, não entram, eu com certeza teria sido peitada e agredida sim. A gente não pode perder a cabeça e partir para cima de qualquer pessoa. No mínimo, respeito. Em qualquer profissão e qualquer gênero”.

O meia, em um vídeo publicado por ele mesmo nas redes sociais, disse ter “pedido a cabeça” durante o lance e que não tinha intenção de agredir. Apesar de ter pedido desculpas à árbitra no vídeo, o jogador não procurou Déborah Cecília desde o episódio.

 
“Eu não vi se ele passou próximo a mim. Tem um fluxo muito grande de pessoas no campo, não observei de fato. Ele também não chegou a me procurar”, confirma Deborah.

 O incidente ocorrido não apaga o fato de deborah ter sido a primeira mulher a apitar uma final do Campeonato Pernambucano.

“Deixei meu nome escrito para que outras também possam vir a fazer história também. Provei de fato que a gente também tem capacidade de apitar, seja qualquer jogo, e de exercer qualquer função que o homem exerça” declara a árbitra. 

Jean Carlos pode ser denunciado ao TJD através do relato da súmula, mas ainda não houve decisão neste âmbito.  O clube, Náutico, enviou uma nota ao Globo Esporte e também marcou uma entrevista coletiva de Jean para a tarde dessa segunda. 

Confira a nota: 

O Clube Náutico Capibaribe reafirma que é veementemente contra qualquer tipo de agressão ou discriminação, em todas as esferas, dentro ou fora de campo. E busca cumprir este princípio na prática, razão pela qual tem contrato com consultorias de gestão interna, a exemplo da Women Friendly, cuja atuação se insere no tema em debate.

No caso que envolve o atleta Jean Carlos, o seu histórico como jogador e cidadão apresenta-se, de partida, como um importante reforço à versão que o profissional publicou: não houve sequer a intenção de praticar uma agressão à integridade física da árbitra. Ele reconhece a forma exaltada da sua reclamação, pela qual externou desculpas nas suas redes sociais, após a partida.

Além da conduta do atleta, ao longo da carreira, as próprias imagens servem para atestar suas declarações. O movimento, interpretado como suposta tentativa de agressão, era uma repetição do que se passara no lance, quando se buscou se desvencilhar do atleta adversário, que o segurava. Não resta dúvida de que ele foi enfático, inconformado com a punição, ao tentar esclarecer o ocorrido. explicar a árbitra que não tentou agredir o adversário, mas, sim, se desvencilhar do mesmo. Ele refaz exatamente o mesmo gesto, repetidamente, à beira do gramado momentos antes da decisão ser tomada, após a consulta do VAR.

Internamente, institucionalmente, seguiremos avançando no debate e na prática para que o futebol seja um ambiente de rivalidade, disputa, mas sempre com respeito às pessoas e combate a qualquer tipo de violência ou preconceito, onde nem mesmo situações como esta, de excesso nas reclamações, voltem a ocorrer.

 

 

Foto destaque: Reprodução/Esportes DP

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