Novo presidente da CBF é escolhido em eleições turbulentas

Naluh Braga Por Naluh Braga
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Ednaldo Rodrigues de 68 anos, vai comandar a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), pelos próximos quatro anos, até 23 de março de 2026. Ele também poderá disputar uma reeleição.  

Ednaldo é, agora, ex-presidente da Federação Baiana de Futebol e um dos oito vice-presidentes na gestão de Rogério Caboclo. Rogério foi afastado definitivamente no mês passado devido a denúncias de assédio sexual e moral contra funcionários. Vale ressaltar que Ednaldo foi o único candidado nas eleições desta quarta.

Ednaldo Rodrigues venceu por 137 votos, dos 141 possíveis. De todas as 27 federações, apenas a alagoana não compareceu, totalizando 78 votos. Foram ainda 40 votos dos 20 clubes da Série A, com peso 2 e outros 19 da Série B, com peso 1. Somente a Ponte Preta não votou por conta de uma irregularidade na procuração. 

O pleito ocorreu hoje, 23 de março, no Rio de Janeiro, mesmo após a decisão do juiz Henrique Gomes de Barros Teixeira, da 1° Vara Cível de Maceió, ter suspendido o encontro a pedido de um dos vices da CBF, Gustavo Feijó, que perdeu o cargo com a nova eleição. 

A entidade alega que há uma decisão da Justiça do Rio de Janeiro, determinando que ocorresse a eleição, entretanto, tentava derrubar a liminar nesta quarta pela manhã. A Comissão Eleitoral argumentou que, não foi notificada da decisão da Justiça de Alagoas e por isso não revogou a liberação. 

“Não foi um processo fácil, nove meses de injúrias, infâmias. E hoje a democracia venceu. Passei o tempo todo me defendendo, sobretudo do preconceito. Todos sabem da minha vida, tenho caráter ilibado. Nesses últimos meses, eu sofri todo tipo de pressão, de preconceito, tive meus telefones grampeados, meus e-mails violados, o e-mail do gabinete da presidência da CBF também violado. E preconceitos que ainda existem em todos os segmentos da sociedade por ser do Nordeste, por ser baiano, por ser do interior, de Vitória da Conquista e que me orgulho de ser filho. O preconceito por ser negro. Essa é a grande realidade, a grande resposta.” declara Ednaldo, que ainda acrescenta: 

“Quando nós assumimos interinamente a entidade, era uma embarcação numa tempestade. Tive que segurar no leme. Agora, a partir da democracia aqui, quero corrigir o rumo. Fazer o melhor, o que é legal, e expurgar toda e qualquer imoralidade que já aconteceu.”  

Gustavo Feijó sentou-se na cadeira que estava reservada para Ednaldo. Depois se retirou do auditório e reclamou do não cumprimento da decisão da Justiça Alagoana. 


Gustavo Feijó na eleição da CBF — Foto: Ronald LincolnGustavo Feijó comenta sobre as eleições da CBF (Foto: Ronald Lincoln)


“Existe uma determinação judicial de Alagoas que nós protocolamos nesta casa. A Comissão Eleitoral não está cumprindo. Espero que o judiciário veja o que está acontecendo nesta casa. ”, protesta Feijó antes da votação. 

Com a gestão de Ednaldo Rodrigues, a CBF terá quatro novos vice-presidentes, que eram presidentes das federações estaduais: Rubens Lopes (Rio), Reinaldo Carneiro Bastos (São Paulo), Hélio Cury (Paraná) e Roberto Góes (Amapá).  Eles ocupam as vagas que eram do próprio Ednaldo e de Gustavo Feijó, Castellar Guimarães Neto e Antonio Carlos Nunes, o Coronel Nunes. 

Os outros quatro vice-presidentes já ocupavam esses cargos na gestão de Rogério Caboclo: Fernando Sarney (MA), Francisco Noveletto (RS), Marcus Vicente (ES), que não têm ligações com as federações de seus Estados, e Antonio Aquino, presidente da Federação do Acre. 

Essa eleição foi uma das mais conturbadas da história da entidade, caracterizada por disputas internas de poder e ações na Justiça.  Gustavo Feijó tinha tentado suspender a ação na Justiça do Rio de Janeiro, mas não conseguiu, então recorreu a Justiça do seu próprio Estado, Alagoas. Além disso, Feijó havia tentado, sem sucesso, um recurso à Comissão Eleitoral da CBF.

Outra tentativa de impedir a realização da eleição na CBF foi desfeita na terça. A ONG Instituto Astro (Associação dos Trabalhadores Operantes) reclamou na Justiça que a CBF não convocou os presidentes dos clubes que disputam o Campeonato Brasileiro Feminino para a votação. O juiz Mario Cunha Olinto Filho, da 2° Vara Cível do Rio de Janeiro, decidiu que a ONG não tem legitimidade para fazer esse pedido e não o concedeu. 

A eleição desta quarta-feira é resultado de um acordo entre a CBF e o Ministério Público do Rio de Janeiro, que desde 2017 questionava as regras eleitorais da entidade nacional. Novas regras foram definidas após a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), homologado pela Justiça do Rio. 

O peso dos votos foi mantido: As federações têm peso 3, os clubes da Série A têm peso 2 e os clubes da Série B têm peso 1. Mas a cláusula de barreira foi reduzida. Antes, era necessário o apoio de 8 federações e 5 clubes da Série A para registrar uma chapa. Agora, basta o apoio de 4 federações e 4 clubes. 

Contudo, só a chapa de Ednaldo Rodrigues foi registrada. Ele teve o endosso formal de 26 federações estaduais, exceto Alagoas, e 37 dos 40 clubes das Séries A e B.  

O primeiro desafio interno de Ednaldo é uma denúncia apresentada por Gustavo Feijó contra ele na comissão de ética da  CBF. Uma das acusações é o aumento dos salários dos presidentes das federações estaduais, que votaram para elegê-lo. Os integrantes da comissão pediram novos documentos a Feijó, a fim de dar continuidade à investigação, mas ele ainda não os apresentou. 

Os presidentes das federações receberam sucessivos aumentos nos pagamentos mensais que recebem da CBF, durante o ano passado. Contracheques mostram que pelo menos dez presidentes tiveram seus salários aumentados de R$ 20 mil mensais para R$ 50 mil e depois para R$ 70 mil mensais. Eles também tiveram direito ao bônus que a CBF paga para seus funcionários e diretores no final do ano. Assim, faturaram R$ 860 mil brutos. 

Outro grupo de presidentes começou o ano ganhando R$ 40 mil mensais. Eles também tiveram seus salários aumentados para R$ 70 mil e receberam bônus. Ao menos um integrante deste grupo faturou R$ 952,5 mil brutos em 2021. 

Ednaldo Rodrigues nega a relação de aumento salarial dos presidentes das federações com fins eleitorais. Ele afirma que agiu para extinguir as diferenças de remuneração entre os presidentes. 

 Foto destaque: Martín Fernandez. Reprodução/Divulgação

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