Desperdício têxtil resultado do fast fashion impacta prejudicialmente o meio ambiente

Relatório inédito do governo americano aponta um aumento de 50%, nos últimos 20 anos, de resíduos a base de poliéster

Por Bianca P. Athaide
5 min de leitura
Foto destaque: Fast Fashion é sinônimo de devastação ambiental (Reprodução/Tekstila.com)

Realizado a pedido da deputada americana Chellie Pingree, o primeiro relatório federal obrigatório sobre o impacto do fast fashion no cenário ambiental foi divulgado com exclusividade, na última quinta-feira (12), pela Teen Vogue americana. O documento foi solicitado por Pingree – fundadora do Slow Fashion Caucus, um movimento que promove a economia circular de têxteis nos EUA – ao Government Accountability Office, com o intuito de demonstrar, de maneira clara, mediante dados, o que o desperdício resultante da produção de fast fashion está causando ao meio ambiente. 

Os números são alarmantes, mas não surpreendentes. O relatório concluiu que nos últimos vinte anos, houve um aumento de cerca de 50% dos resíduos à base de poliéster em aterros sanitários. Mas, segundo Pingree, a constatação é incerta e pode esconder dados ainda mais perigosos, já que a indústria da moda possui um grande déficit de informações – o desperdício nunca foi medido até hoje e, os poucos dados fornecidos, são desatualizados. Assim, o documento também auxilia na constatação desses números e facilita o caminho para encontrar soluções.

Uma cadeia de problemas

A descoberta mais oportuna relatada no relatório é a descrição do problemático sistema de desperdício têxtil. Para Teen Vogue, a deputada americana afirmou:

As pessoas estão comprando muito mais roupas agora, usando-as por um período de tempo muito mais curto, jogando-as fora, e elas estão acabando em nossos aterros sanitários. E elas não estão apenas sendo jogadas fora, mas, como o relatório enfatiza, elas podem se transformar em qualquer número de elementos nocivos, seja gás metano na atmosfera ou microfibras de plástico que podem levar para as águas subterrâneas ou para o oceano.”

Esse relato valida a opinião de diversas fontes ao redor do mundo, que a muito tempo confirmam o aumento desses resíduos e sua problematização.


Aterro sanitário abarrotado com resíduos têxteis (Foto: reprodução/ \Royalty-free/Getty Images Embed)


Além do desenfreado aumento na produção de roupas por parte das marcas, a preocupação também recai na falta de uma infraestrutura que viabilize aos consumidores uma circulação dessas peças. O relatório também deixa evidente a necessidade de regulamentação que torne as marcas que comercializam nos Estados Unidos responsáveis por esses resíduos.


Cada vez mais, aumenta a necessidade de um consumo de moda mais sustentável (Foto: reprodução/Royalty-free/Getty Images Embed)


Apesar de já existirem medidas e leis federais americanas que promovem o consumo de moda mais sustentável – como o projeto de lei Americas Act, da American Circular Textiles, que busca melhorar a reciclagem, e o The Fabric Act, que tem o intuito de aumentar os salários da indústria e, como consequência, criar mais empregos – agora, a grande preocupação é simbolizada por uma Casa Branca e um Senado preenchidos de republicanos, que historicamente não trazem a agenda ambiental como sua prioridade. 

Sobre essa questão, Pingree argumenta que posteriormente já trabalhou com muitos políticos republicanos, e acredita que apesar de seu foco não ser a poluição, o número crescente de importações da China e a perda da manufatura de trabalhadores americanos, pode significar um caminho estratégico na busca de apoio.

Outra questão levantada pela deputada é a dor de cabeça e a preocupação com o alto custo que os aterros sanitários representam para diversos governos do país e como a possibilidade de transferência desse fardo de volta para os fabricantes externos pode resultar em um movimento de atração. Pingree sugere que a criatividade será essencial para atrair apoio e visibilidade para essa questão.

Ainda há esperança

Com um suspiro de alívio, Chellie Pingree acredita que os jovens cada vez mais priorizam movimentos de revenda e reutilização de vestuário, e podem ser os responsáveis por liderar um caminho de consumo mais sustentável, apesar da preocupação com os prejudiciais cortes de orçamento. 

O relatório finaliza com seis recomendações diferentes sobre como as agências governamentais podem lidar com o desperdício, talvez estabelecendo um mecanismo que coordene os esforços federais na circularidade têxtil e envolver participantes federais para estabelecer metas e necessidades, visando resultados que beneficiem a sociedade na totalidade.

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