Mini saias, micro shorts, looks agêneros, com underwears bordadas, óculos ovais e um forte investimento em tricôs, consagraram a irmã mais nova da Prada como personagem principal dos olhares de toda cadeia industrial da moda. Miuccia Prada transcendeu a inspiração inicial de seu guarda-roupa pessoal e elevou a pequena, historicamente deixada de lado Miu Miu, para o marca de luxo com mais pesquisas no ano de 2024 – segundo o Lyst Fashion Index, de 2020 para cá, as buscas cresceram em 208% e, no início deste ano, recuperou seu título de marca mais quente do mundo.
O motivo do sucesso? A marca soube transcrever o zeitgeist de toda uma nova geração em peças que traduzem o desejo de “menos é mais”. Com uma estética de beleza peculiar, a Miu Miu construiu efetivamente, durante suas três décadas de história, a imagem de força e ternura que resume a “Garota Miu Miu”. O adjetivo virou lentamente objeto de desejo, e essa necessidade vital de entrar para tal exclusivo clube, de uma maneira ou de outra, resultou em um crescimento de 93% das vendas – aproximadamente US$ 579 milhões somente no primeiro semestre de 2024.
Em entrevista, a fundadora e entusiasta principal da marca, Miuccia Prada, afirmou que a espontaneidade vital da grife, nasce de sua própria dualidade, podendo ser ‘‘uma garota de 15 anos ou uma senhora à beira da morte”. A fórmula teve sucesso e a identificação que nasce, para muito além de um visual perfeito, se concretiza no estilo de vida das garotas amantes da Miu Miu.
História da marca
Formada como doutora em ciência política e estudando para se tornar uma mímica, a herdeira do império Prada, caminhava em direções opostas às do resto da família. Miuccia aceitou trabalhar ao lado de sua mãe, desenhando bolsas, enquanto se mantinha energética no movimento ativista de direitos das mulheres. Apenas em 1978 ela assumiu a cadeira de seu avô, Maria Prada, como designer-chefe da tradicional grife italiana.
Ainda com o desejo de se expressar fora dos limites clássicos da grife, Miuccia, em 1992, decidiu criar sua própria linha de peças, uma coleção que refletisse seu estilo mais casual e, ao mesmo tempo, fugisse de sua ancestralidade. Assim, em meio a franjas, pradarias e camurças, nasceu a Miu Miu – nome que deriva do apelido de infância de sua criadora.
O atrativo exclusivo
A aposta da designer deu certo e a Miu Miu chegou na década de 90 com um dos maiores nomes na indústria. Deixando de lado o maximalismo dos anos anteriores, a irmã mais nova da Prada se consagrou ao andar em conjunto com as principais it girls do momento (se é que essa denominação já existia na época), como Chloë Sevigny, Juliette Lewis e Drew Barrymore.
A estratégia deu tão certo, que a construção da “Garota Miu Miu”, até hoje, é o arquétipo que os entusiastas e a imprensa especializada se referem ao comentar sobre novos nomes que aderiram ao clube, como a modelo Bella Hadid.
Bella Hadid desfilando a coleção primavera/verão 2023 (Foto: reprodução/Victor Boyko/Getty Images Embed)
Hoje, mais diversificada do que antes, ‘‘A garota Miu Miu’’ pode ser tudo: Da rapper Little Simz as atrizes Mia Goth e Cailee Spaeny, da escritora Miranda July à cantora indie Ethel Cain e a aposentada Qin Huilan, expressando cada vez mais a dualidade que Miuccia sempre desejou.
Itens que marcaram época
Ao longo dessa trajetória, a Miu Miu emplacou tendências que dominaram o que seria hit nas próximas temporadas. Desde dos mini vestidos rodados e das icônicas peep-toes que fecharam a década de 2010, até o suspiro de esperança (e uma ótima jogada de marketing) que a marca apostou para enfrentar a decaída em suas vendas, em 2021, ao lançar uma coleção baseada na moda dos anos 90 e convidar Lila Moss, filha de Kate Moss, o nome que mais representava a época, para desfilar a coleção primavera nas passarelas.
Novamente, as estratégias de Miuccia vingaram e a Miu Miu continuou trilhando um caminho de sucesso, e responsável pelo retorno de tendências como as sapatilhas, os office looks, a alfaiataria plissada e a ternura das cores bege e cinza. Tudo hit em 2023 e 2024, passou antes pelas passarelas da Miu Miu, por isso não é difícil de acreditar que esse reinado possa continuar em 2025 – assim como o aumentou de vendas no varejo em 58% em 2023.
Através das parcerias, e da conexão com a Geração Z, a Miu Miu desafiou todos os especialistas e continua em alta, contrariando a avalanche de desinteresse que as principais marcas de luxo enfrentam nos últimos anos.