Se analisarmos bem de perto, nós podemos dizer que as palavras maternidade e empreendedorismo são sinônimos porque apresentam muitos pontos em comum. Duas etapas encontradas tanto na maternidade quanto no empreendedorismo são geração e crescimento. Elas também exigem cuidados especiais nas primeiras fases da vida, devoção, abnegação e investimento de tempo e dinheiro.
Viver essa jornada de vida dupla simultaneamente evidencia dois predicados que toda mãe tem, e que são fundamentais para gerir um negócio: a capacidade de cuidar e a capacidade de se adaptar para conduzir episódios de instabilidade. Vale ressaltar que a capacidade de cuidar está ligada diretamente a “Economia do Cuidado”, e o ajuste rápido em momentos de crise para buscar a resolução do problema tem a ver com a “inteligência emocional”.
Construir um arcabouço que permita conciliar a formação de uma família e criar uma carreira consolidada num segmento tão competitivo como o empreendedorismo parece inviável, só que para algumas mulheres o impossível é o desejável, mesmo que o caminho rumo às conquistas profissionais seja árduo, afinal, o trabalho de mãe e empreendedora exige dedicação em tempo integral.
Empreendedorismo e maternidade, mostram as mulheres indo à luta. (Foto: Reprodução/personare).
No Brasil, 74% das empreendedoras são mães, segundo informações do Sebrae. Dados da Rede Mulher Empreendedora (RME) mostram que, 68% das mulheres iniciaram na vida empreendedora após a maternidade. A maioria delas preferem essa opção para ter mais tempo junto com a família. Mesmo assim muitos desafios ainda precisam ser superados.
Apenas 25% dos empreendimentos iniciados ou geridos por mulheres tiveram sucesso na hora de captar investimentos, por outro lado 55% das companhias masculinas tem êxito, segundo dados do Mapa de Negócios de Impacto Socioambiental de 2021. Mesmo com todas as dificuldades as mulheres conseguem mostrar mais resultados que os homens.
O First Round Capital coletou dados que mostram que os empreendimento fundados por mulheres possuem uma performance 63% melhor do que as companhias que são fundadas somente por homens. Esse resultado só deixa claro o quanto as mulheres se dedicam mais e dão atenção à aspectos fundamentais para o crescimento da empresa como a capacitação, a gestão e o empreendedorismo.
Agora vamos conhecer algumas dessas mães e empreendedoras que mostram ter qualidades em comum, além da superação dos desafios de uma trajetória vitoriosa nos diversos segmentos e atividades:
Muitas vezes a maternidade leva ao empreendedorismo. (Foto: Reprodução/OEspecialista).
1 – Natalie Pavan, fundadora e CEO da rede MyCookies;
Natalie Pavan é uma sul-matogrossense, advogada, com 33 anos. Sua vida empreendedora teve início de um jeito que não foi planejado, como tradicionalmente nós estamos acostumados a ver no mundo dos negócios, e tudo aconteceu em 2016. Esse foi o ano que ela resolver colocar a venda uma receita secreta de cookie, na portaria das escolas com o objetivo de aumentar mais um pouco da renda. A característica singular do biscoito, crocante por fora e tenro por dentro caiu no gosto e virou a sensação no bairro onde morava. Depois, ganhar a cidade de Campo Grande foi questão de tempo. O êxito da marca foi meteórico e em pouco tempo a barraca na porta das lojas virou uma loja. Em seguida a conquista de sua fabrica própria coroava um trabalho bem feito.
No ano de 2018 e empresa virou uma franquia que hoje possui mais de cinquenta unidades distribuídas pelo território brasileiro. Só no ano de 2021, a firma teve um faturamento de 16 milhões de reais, para esse ano de 2022 as estimativas para o faturamento são de 33 milhões de reais decorrentes do aumento dos pontos de venda espalhados pelo Brasil, agora são 120.
Conciliar as obrigações da MyCookies com a família não é fácil, por isso, ela resolveu sair do trabalho que exercia em uma grande empresa, para focar especialmente na produção, buscando soluções com o objetivo de suplantar os problemas que apareciam durante o processo de construção da identidade da marca. “Hoje, com muito orgulho, gero emprego para mais de 200 famílias, com 80% de mulheres ocupando cargos”, fala com orgulho Natalie. Ela também faz palestras contando suas experiências e servindo de inspiração para outras mulheres.
A empreendedora Natalie Pavan está literalmente feliz com a mão na massa produzindo seu cookies para MyCookies. (Foto: Reprodução/BlogMyCookies).
2 – Izabelly Miranda, fundadora e diretora da rede Cuidare;
Depois de concluir a graduação de enfermagem, a potiguar Izabelly Miranda, 31 anos, resolveu começar um empreendimento junto com o marido Etevaldo Miranda, e nasceu a Cuidare, no ano de 2016, em Natal. A ideia do projeto teve início ainda na faculdade quando percebeu uma carência nos serviços de cuidadores de idosos, não havia cuidadores qualificados de forma humanizada. O crescimento da empresa se deu de forma rápida e depois de dois anos na liderança do mercado local, ela resolveu criar o formato de franquia da Cuidare, isso abria oportunidades para outras empreendedoras.
As mulheres correspondem a 80% das posições de liderança da rede. Nesse período a marca se transformou numa das grandes redes que atuam no segmento de cuidadores no Brasil, eles estão em 20 estados e no Distrito Federal no território brasileiro, e também possuindo 80 unidades em Portugal. Exitem operações na Argentina e no Canadá. A maioria dessa liderança executada por mulheres é formada por mães.
3 – Bia Willcox, fundadora e CEO do curso WOWL;
Bia Willcox é carioca, educadora, jornalista, palestrante, empresária, advogada e membro da comissão OAB VAI À ESCOLA, projeto com foco na conscientização dos alunos das escolas públicas sobre a relevância dos direitos humanos e da cidadania, por meio de palestras e debates conduzidos e mediados por advogados que atuam como voluntários dentro das salas de aula. Em 2009 ela inaugurou uma escola bilíngue batizada de WOWL Education, com metodologia própria, ela disponibiliza programas internacionais parecidos com as academias estrangeiras. O método de aprendizado mistura o inglês às disciplinas de história, matemática, biologia e educação socioemocional.
Bia Willcox é fundadora da WOWL, escola bilíngue que usa metodologia própria em seu propramas de ensino. (Foto: Reprodução/Flicker).
No período de pandemia o negócio expandiu quando Bia pensou e idealizou a plataforma do curso através de aulas ao vivo para adultos e crianças. Atualmente o projeto tem alunos em todo Brasil, e também em terras lusitanas. A criatividade da empreendedora não encontra limites e fazendo parceria com o ilustrador Atlan Coelho, deu vida a série de livros infantis, na língua inglesa, “The W Street Family”, com o primeiro livro publicado pela amazona em 2022. Já a palestrante Bia Willcox, desenvolve em suas apresentações tópicos como tecnologia, educação, empreendedorismo e desenvolvimento criativo, Geração Z, novos paradigmas das relações sociais e empreendedorismo nas escolas públicas. Ela também da aulas de Marketing, e atua na plataforma Descomplica e ICL (Instituto Conhecimento Liberta).
Comecei a empreender aos 24 anos com dois filhos pequenos. Por mais apoio que tenhamos, a vida se torna um desafio. Passei por planos econômicos, recessão, inflação, separação, nova paixão, e também decepção em diversos campos. As dificuldades me fazem querer inovar e fiz disso um hábito em minha vida. Esbarrei em machismos e pessoas tóxicas. Mas também fiz ótimas parcerias, e conheci tantos que me ajudaram em minha trajetória. Não dá para romantizar escolher ser uma mulher empreendedora, são muitas horas de trabalho, investimento de tempo e dinheiro. Há caminhos mais fáceis com certeza, mas nesse meu caminho, há algo que me faz acordar todo dia renovada em querer continuar a escrever esta história , rememora Bia.
6 – Monique Rodrigues, fundadora e CEO da rede Clinicão;
São 30 anos no mercado, isso faz com que a clinicãoseja a mais antiga franqueadora de serviços de veterinária no Brasil. Monique Rodrigues é quem comandou todo processo de criação do negocio que teve inicio no ano de 1987, mesmo ano em que ela foi aprovada no vestibular para veterinária na Universidade Federal Rural do Rio (UFRRJ). Já em 1994 conseguiu inaugurar o primeiro empreendimento, em Guaratinguetá (SP), e as inovações trazidas nos procedimentos viraram tendências quando o assunto é atendimento pet. O trabalho duro fez a clinica virar uma referencia e conseguiu ingressar no ramo de franquias com a finalidade de desenvolver veterinários empreendedores. O diferencial para o sucesso da franquia é que além do suporte tradicional entre franqueador e franqueado (a), Monique, que tem formação de MBA em Gestão Empresarial e Economia, dá um atendimento especial para os franqueados que normalmente tem formação na área de saúde animal. Isso tudo aconteceu durante o processo de gestação e nascimento de Leticia Cesário, que hoje está com 23 anos.
“A maternidade exige muito da mulher. Eu levava minha filha para o trabalho. Foi criada dentro da clínica”, fala Monique. As atividades da mãe acabaram inspirando a filha, que a acompanhava durante sua rotina de trabalho. Leticia Cesário hoje é aluna do curso de Medicina.
”O desafio de empreender é ainda maior para nós mulheres e mães, ao ter que gerenciar a nossa carreira profissional e função materna. Infelizmente, a responsabilidade dos cuidados com a prole ainda recai mais sobre as mulheres. Para mim, o que me ajudou a atender a todos estes aspectos foi a organização, e acredito que meus filhos têm orgulho de ver a mãe deles empreendendo e gerando emprego e renda – finaliza a CEO.
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7 – Lucia Borges Maggi, acionista Majoritária do Grupo Amaggi;
É conhecida como a mulher com mais posses no Brasil. Ela fundou junto com André Maggi, marido, a Sementes Maggi, no ano de 1977, a empresa especializada na cultura da soja ganhou notoriedade e expandiu investiu em outras opções de commodities. Nessa época, Blairo Maggi, seu único filho, estava com 21 anos.
O sucesso conquistado no Brasil ultrapassou fronteiras e abriu caminhos para que a companhia expandisse suas operações para fora do território nacional chegando aos países da Europa e da América Latina. Lucia assumiu como acionista majoritária da empresa em 2001, após falecimento de seu marido, André Maggi. Hodiernamente ela pertence ao conselho de administração da empresa como membro consultivo.
8 – Luiza Trajano, presidente do conselho da Magazine Luiza;
A presidente do conselho da Magazine Luiza, Luiza helena Trajano, delegou o cargo de CEO para seu filho, Frederico Trajano, ficando com mais de 17% de participação da empresa. A presidente da MAGALU que é mãe de Ana Luiza, Frederico e Luciana deu início a sua carreira aos 18 anos de idade ao se tornar uma jovem aprendiz na empresa de uma tia, que por coincidência se chamava Luiza. Durante a fase de aprendizado na companhia ela atuou nos diversos setores da empresa, entre eles o de vendas.
Aos 40 anos ela precisou assumir o comando da empresa quando sua tia precisou se ausentar dos negócios. No ano seguinte, ela transformou a empresa com uma série de modernizações aos processos da firma criando lojas online e as mega promoções. Todo esse esforço fez da Magazine Luiza um case de êxito na Universidade de Harvard. Luiza não atua só na varejista, ela é uma das fundadoras do grupo Mulheres do Brasil, que fomenta a defesa de causas que democratizam os espaços de educação e a diminuição da pobreza.
Foto destaque: Reprodução/D’Gitais.