O presidente Jair Bolsonaro propôs às autoridades da Turquia a elaboração de uma comitiva de presidentes para visitar o líder russo Vladimir Putin, em Moscou. De acordo com uma parcela de diplomatas do Itamaraty, a proposta é exagerada. Já os mediadores do conflito com a Ucrânia consideram que não é o momento para uma medida como essa, e sim de movimentações maiores pelos bastidores.
Bolsonaro teve a ideia durante uma visita do chanceler turco, Mevlüt Çavuşoğlu, ao Palácio do Planalto, na última semana. Após o encontro, o ministro destacou que Bolsonaro elogiou o papel dos turcos nas tratativas de conciliação entre Rússia e Ucrânia. Nos últimos dias, o governo da Turquia foi um dos principais mediadores das conversas, buscando um cessar-fogo. Segundo reportagem do site UOL, membros do Itamaraty confirmaram que a proposta realmente foi feita.
Segundo Çavuşoğlu, o presidente brasileiro gostaria de “contribuir com seus esforços”. O turco ressaltou que antes faria um estudo e daria um retorno ao Planalto.
Bolsonaro e chanceler turco em encontro no Planalto (Foto: Reprodução/Poder360)
No meio diplomático, o esforço da Turquia é um dos poucos canais de diálogo entre russos e ucranianos e a ideia é manter uma maior discrição para facilitar possíveis conciliações.
Nesse sentido, a proposta feita por Bolsonaro não atenderia aos critérios seguidos. Para os negociadores, há uma impressão de que a visita não seja para solucionar problemas e sim uma tática para buscar votos e popularidade para os líderes que participaram da comitiva.
Vale lembrar que Bolsonaro realizou uma visita ao Kremlin, em fevereiro, após tentativas frustradas nos Estados Unidos e em outras nações da Europa. Buscando mostrar aos seus apoiadores que possui relações com líderes estrangeiros, foi para a Rússia. A viagem não foi vista com bons olhos por algumas potências ocidentais.
Recentemente, o governo brasileiro tem adotado uma postura de não condenar as ações russas nos organismos internacionais, não só defendeu a permanência da Rússia no G20, como também se absteve em diversas resoluções da ONU contra Moscou.
O governo russo passou a elogiar a postura brasileira e, inclusive, sugeriu que gostaria de ver o país como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, buscando diminuir a influência norte-americana.
Dessa forma, é provável que uma missão brasileira em Moscou seja bem vista por Putin, já que busca se aliar àqueles que não estão aderindo às sanções ocidentais. Portanto, um papel conciliador não seria incumbido ao Brasil, a não ser que Bolsonaro fizesse gestos, ou até uma visita à Ucrânia, o que, inicialmente, não foi considerado.
Em sua fala após o encontro com o presidente brasileiro, o ministro turco ainda destacou a proximidade nas posturas de Bolsonaro e Nicolás Maduro, líder venezuelano.
“Brasil e Venezuela, você sabe, estão em boas relações com a Rússia. Ambos os países disseram que a guerra deve parar”, frisou Çavuşoğlu.
Foto destaque: Bolsonaro e Putin se reúnem em Moscou. Repdrodução/Governo Federal