Há dois meses, centenas de combatentes ucranianos, entre eles 53 feridos, estavam encurralados na siderúrgica Azovstal. O resto da cidade já estava sob controle russo, após uma incursão sangrenta, que matou milhares de ucranianos. Os últimos defensores de Mariupol, resistiram contra força russas desde o início do conflito, há 82 dias. Esse é o último bastião de resistência à Rússia em Mariupol, anunciou a vice-ministra ucraniana da Defesa, Hanna Malyar.
“Em 16 de maio, 53 feridos graves foram evacuados de Azovstal para Novoazovsk para receber assistência médica e outros 211 foram levados para Olenivka através de um corredor humanitário”, declarou a vice-ministra em um vídeo.
Nesta terça-feira (17), a Ucrânia confirmou que seus combatentes em Azovstal foram evacuados.
Cinco ônibus participaram da operação ao longo do dia, de forma coordenada entre Kiev e os russos. Os 53 feridos mais graves foram levados para um hospital em Novoazovsk, cidade ocupada por Moscou a 32 km do complexo siderúrgico Azovstal, onde os ucranianos estavam escondidos em condições apavorantes.
Soldado ferido chega a Novoazovsk, cidade dominada por rebeldes apoiados pela Rússia (Foto: Reprodução/Reuters)
O governo de Volodimir Zelenski buscou tratar a derrota como um exemplo de heroísmo. “A Ucrânia precisa de seus heróis vivos“, disse o presidente, comentando a operação para retirar os feridos. Ainda não se sabe o contingente exato a participar da evacuação: há relatos de que 600 militares chegaram a se esconder na siderúrgica.
A vitória russa é de grande simbolismo numa guerra em que seus fracassos vem chamando a atenção, como na retirada do entorno de Kiev e, agora, de Kharkiv. Mariupol era uma cidade próspera e sede do principal porto do mar de Azov, um trecho separado do mar Negro que banhava grande parte da costa ucraniana. Agora, toda a região que vai do Donbass à península da Crimeia, anexada por Vladimir Putin em 2014, está sob controle de Moscou.
Mariupol foi transformada em uma ruína, com a prefeitura local estimando 90% de prédios danificados e talvez 20 mil mortos, entre os mais de 400 mil habitantes do pré-guerra. Houve ataques notórios, como a destruição de um teatro e de uma maternidade. Ninguém sabe os números exatos. Soldados russos da Tchetchênia, conhecidos por sua ferocidade, estiveram na linha de frente do cerco.
A resistência ucraniana foi possível pela grande rede de túneis e bunkers no complexo, desenhada nos tempos da União Soviética para aguentar até um ataque nuclear. Sem água, comida ou reforços, contudo, ela ficou impossível. “Eles estão no inferno. Estão sem pernas e braços, exaustos, sem remédios“, disse no começo do dia Natalia Zariskaia, mulher de um soldado do Azov, à agência Reuters.
Os comandantes das forças locais se queixaram, em pelo menos duas ocasiões, de terem sido abandonados à própria sorte por Kiev. Criticaram também o que chamaram preparação insuficiente para a guerra na cidade.
Foto Destaque: Visão aérea da cidade de Mariupol, na Ucrânia. (Foto: Andrey Borodulin/AFP)