Número de crianças do 2º ano que não sabem ler e escrever sobe mais do que o dobro no Brasil

Sara Corrêa Por Sara Corrêa
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As crianças do 2º ano do ensino fundamental do Brasil que ainda não sabem ler e escrever nem palavras isoladas, como “bola” e “vovó”, mais do que dobrou de 2019 a 2021, de acordo com os dados do Sistema de Avaliação Básica (Saeb), divulgados nesta sexta-feira (16) pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Nesses dois anos, o índice subiu de 15% para 34 %, tendo em vista que em 2020, as aulas presenciais foram suspensas por causa da pandemia de Covid-19, sendo esse um fator crucial para esse aumento. Para calcular o desempenho, uma prova nacional foi feita em uma amostra de alunos de escolas públicas e privadas, as edições anteriores não tinham alunos nessa faixa etária.

Desde 2019, a Política Nacional de Alfabetização determina que o processo de aprendizagem, da leitura e escrita ocorra no 1º ano do fundamental, quando, em média, os estudantes têm 6 anos.” Nessa faixa etária, a mediação presencial [do professor] é especialmente importante”, afirma Clara Machado da Silva Alarcão, coordenadora-geral substituta do Saeb.

Segundo a União Nacional do Dirigentes Municipais de Educação (Undime), o Saeb 2021 também evidencia as consequências mais acentuadas da pandemia nas redes de ensino com menor infraestrutura que não puderam oferecer conectividade a seus estudantes e professores, o que foi agravado pela condição socioeconômica das famílias mais vulneráveis. Diante dos resultados, o órgão aconselha que as redes municipais reúnam seus profissionais da educação para analisar o impacto da pandemia na aprendizagem dos alunos.


Número de crianças do 2º ano do ensino fundamental que não sabem ler e escrever sobem mais do que o dobro. Foto: (Reprodução/Brasil de Fato)

 


O Saeb também analisou os conhecimentos dos alunos em matemática, e no 2º ano do ensino fundamental, 22% das crianças não conseguiram fazer operações básicas, como soma e subtração, em 2021. Em 2019, eram 16%.

Para os especialistas a situação pode ser ainda mais preocupante, porque quando a prova foi aplicada (em novembro e dezembro do ano passado), muitas escolas ainda não tinham voltado 100% de forma presencial. No caso delas, é provável que a adesão ao exame foi menor do que a registradas nos colégios que já funcionavam normalmente.

“É complicado comparar uma rede em que 95% dos alunos fizeram a prova com outra em que 50% prestaram o exame. Aqueles alunos que não compareceram tendem a ser os que estavam em maior vulnerabilidade, afastados da escola. Mesmo que de forma não proposital, isso seleciona os alunos participantes e interfere na nota”, explicou Gabriel Corrêa, líder de Políticas Educacionais da ONG Todos Pela Educação.

A presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), Maria Helena Guimarães de Castro, diz que uma comparação entre os resultados deve ser evitada.

De acordo com o Inep, na média nacional, 71,3% dos alunos-alvo fizeram a prova em 2021. Já em 2019, 80,99%. Existe desigualdades entre os estados, como em Roraima, que apenas 27% dos municípios entraram nos cálculos nacionais dos anos iniciais de ensino fundamental, já que a adesão à avaliação foi insuficiente.

Foto destaque. Número de crianças do 2º ano do ensino fundamental que não sabem ler e escrever sobem mais do que o dobro. Foto: Reprodução/ Acontece Botucatu.

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