Um terrível acidente aéreo no Vale dos Andes, em 1972, obrigou 45 passageiros a enfrentar condições árduas, passando fome e frio até serem resgatados. Apenas 16 deles voltariam às suas famílias com vida. Meia década depois, o que resta no local do acidente é parte da fuselagem do avião, janelas, antena de rádio, itens pessoais e o lembrete de uma história inspiradora de sobrevivência.
Milagre dos Andes
Muitas pessoas temem um acidente aéreo, pois as chances de sobreviver são quase nulas. Em 13 de outubro de 1972, um avião da Força Aérea uruguaia caiu na Cordilheira dos Andes, na fronteira entre o Chile e a Argentina. O avião se chocou contra as montanhas na região do Valle de las Lágrimas, na província de Mendonza. O avião transportava 45 pessoas, incluindo uma equipe de uma equipe escolar de rugby acompanhada por seus familiares e amigos.
Os sobreviventes do Milagre dos Andes, 1972 (foto: reprodução/Oglobo)
Como em muitas histórias de queda de aeronaves de porte pequeno que se repetem até hoje, os pilotos decidiram voar apesar do mau tempo. Em entrevista ao The Guardian, Nando Parrado, um dos sobreviventes, relata como decolaram no pior momento, com o ar quente da tarde subindo e criando instabilidade atmosférica.
Ele reflete sobre a própria ingenuidade na época. “Hoje, eu jamais chegaria perto daquele avião. Um Fairchild FH-227D com motores muito fracos, cheio de pessoas, completamente carregado, sobrevoando as montanhas mais altas da América do Sul, com mau tempo. De jeito nenhum”, apontou Parrado.
Cercados por neve e pedras, não havia o que comer. Depois de dez dias sem comer nada, o canibalismo foi um recurso necessário. Os sobreviventes se viram obrigados a se alimentar da carne de seus companheiros mortos.
“Foi um golpe brutal. Um choque enorme saber que, para viver, eu teria de me alimentar de amigos com quem tinha convivido até a semana passada”, disse Antonio Vizintín, outro sobrevivente do acidente.
A salvação do grupo veio por meio dos esforços de dois de seus companheiros, Nando Parrado e Roberto Canessa. Eles caminharam por dez dias rumo leste da montanha para encontrar ajuda. Eles escalaram os Andes, dormiram no frio extremo e caminharam por vários dias até encontrarem um vaqueiro, que acionou as autoridades chilenas para resgatarem os outros sobreviventes, 72 dias após a queda do avião.
Os objetos encontrados
Hoje, o Vale ainda é visitado por turistas e aventureiros, refazendo o caminho de Canessa e Parrado. O percurso de 38 quilômetros é desafiador, com condições atmosféricas extremas. Com o passar dos anos, as várias expedições ao local conseguiram trazer de volta alguns pertences dos passageiros, mas ainda há muitos objetos ainda enterrados na área. O local se tornou um santuário para as vítimas.
Os itens recuperados foram recolhidos e destinados ao Museu dos Andes, no Uruguai. Descobriram-se itens como o blazer de um dos sobreviventes e uma bolsa com passaporte e 100 dólares dentro.
A camiseta do time de rugby Old Christian Club de Gustavo Zerbino, um dos sobreviventes (foto: reprodução/Nationalgeographic)
A fuselagem do avião, que serviu de abrigo aos sobreviventes, continua enterrada na neve. Segundo o jornal argentino Clarín, as equipes de resgate encontraram um trem de pouso com duas rodas, parte dos assentos e suas capas, um apoio de braço e algumas peças de roupa, como calças, camisas e meias.
O suporte onde ficava a antena Collins, que captava sinais de rádio chilenos, continua no mesmo lugar. Subindo a montanha, é possível ver alguns pedaços da fuselagem, parte das janelas e da hélice.
A história do “Milagre dos Andes” foi contada em adaptações algumas vezes, por meio de um documentário, o filme “Vivos” (1993), estrelado por Ethan Hawke, e a mais recente produção da Netflix, “A Sociedade da Neve”, candidato espanhol ao Oscar desse ano. A história também inspirou o seriado “Yellowjackets”, também disponível no serviço de streaming.
Foto destaque: a história do “Milagre dos Andes” é contada na mais nova produção da Netflix (Reprodução/Cnn)