Senado dos EUA aprova recomendação de romper com o Brasil em caso de golpe

Eliade Lisboa Por Eliade Lisboa
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Em meio a tensões nas eleições de 2022, no Brasil, causadas por suspeita de um possível golpe, na última quarta-feira, 28 de outubro, o Senado dos EUA aprovou uma resolução do democrata Bernie Sanders que defende a democracia brasileira. Nela, o Senado se compromete em apoiar o candidato que vencer as eleições presidenciais pelo processo democrático, seja qual for o resultado. A resolução também destaca a necessidade dos Estados Unidos de romperem laços com o Brasil, caso haja um golpe e passe a existir um regime ilegítimo.  

“Seria inaceitável que os Estados Unidos reconhecessem um governo que chegou ao poder de forma não democrática e enviaria uma mensagem horrível ao mundo inteiro,” disse Sanders após a aprovação da resolução no Senado. A aprovação, no entanto, não significa o seu cumprimento, já que se trata de uma resolução não-vinculante, ou seja, que não implica em uma decisão obrigatória, apenas destacando uma opinião conjunta da casa legislativa. 


Foto do senador Bernie Sander falando em um microfone com uma expressão de indignação

Bernie Sanders. (Foto: Reprodução/BBC Brasil)


A preocupação surgiu após o atual presidente do país, Jair Bolsonaro, fazer diversos ataques e acusações ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), questionando, sem provas, à legitimidade do sistema eleitoral brasileiro e, levantando suspeitas de um possível golpe caso o resultado das urnas não seja o esperado. 

Outro senador, Tim Kaine, presidente do Subcomitê de Relações Exteriores do Senado para o Hemisfério Ocidental, também se pronunciou sobre a importância da aprovação da resolução, para que a população brasileira não perca o seu direito legítimo de eleger seus candidatos.  

Resolução na íntegra:

Exortando o Governo do Brasil a garantir que as eleições de outubro de 2022 sejam conduzidas de forma livre, justa, crível, transparente e pacífica.

  1. Considerando que, em 1822, os Estados Unidos foram o primeiro país a reconhecer o Brasil como país independente;
  2. Os Estados Unidos e o Brasil são 2 das maiores democracias e economias do Hemisfério Ocidental;
  3. As relações bilaterais entre os Estados Unidos e o Brasil estão enraizadas em um compromisso compartilhado com a democracia e prosperidade e a promoção de paz internacional, segurança, respeito aos direitos humanos e cuidado com meio ambiente, incluindo a proteção da Amazônia brasileira;
  4. Os esforços para incitar a violência política, encorajamento às Forças Armadas do Brasil para intervir na condução dos processos eleitorais do Brasil, e questionar ou subverter as instituições democráticas e eleitorais do Brasil frente às eleições gerais do país em 2 de outubro de 2022, minam a base democrática das relações entre os Estados Unidos e Brasil e devem ser resolutamente rejeitados por ambos os países;
  5. Já, o segundo levantamento recente da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o Brasil vive um aumento de 335% na violência contra líderes políticos em 2022 em relação a 2019;
  6. Por fim, os brasileiros de todos os setores da sociedade têm expressado publicamente séria preocupação com os esforços em andamento para minar a democracia no Brasil, incluindo:

(1) cerca de 1.000.000 de brasileiros que assinaram uma carta aberta divulgada em 26 de julho de 2022, defendendo as instituições democráticas do Brasil e o Estado de Direito; e

(2) proeminentes empresários brasileiros, religiosos, políticos, e lideranças da sociedade civil que divulgaram uma declaração expressando confiança nos sistemas eleitorais do Brasil em 5 de agosto de 2022; e

Considerando que o Governo dos Estados Unidos expressou em várias ocasiões plena confiança na força do instituições democráticas do Brasil e a capacidade do sistema eleitoral do Brasil para realizar eleições livres e justas sem fraude: Agora, portanto, seja resolvido, que o Senado

(1) insta o Governo do Brasil a garantir que as eleições de outubro de 2022 serão realizadas em uma forma livre, justa, crível, transparente e pacífica que permita a todos os cidadãos do Brasil exercer o direito de voto; e

(2) apela ao Governo dos Estados Unidos

(A) a continuar a se manifestar contra os esforços para incitar a violência política e minar o processo eleitoral no Brasil e considerar o Governo do Brasil responsável por respeitar os direitos dos cidadãos do Brasil de acordo com as obrigações internacionais e a Constituição da República Federativa do Brasil;

(B) a reconhecer imediatamente o resultado da eleição no Brasil, se essa eleição for determinada por observadores e organizações internacionais como livre e justa; e

(C) a deixar inequivocamente claro que os Estados Unidos consideram que a assistência bilateral americana ao Brasil deve basear-se no compromisso histórico e contínuo do Governo e do povo do Brasil com os princípios democráticos e os direitos humanos e irá:

(i) rever e reconsiderar a relação entre os Estados Unidos e qualquer governo que chegue ao poder no Brasil por meios antidemocráticos, incluindo um golpe militar; e

(ii) garantir que a assistência de segurança dos Estados Unidos e outras formas de cooperação bilateral dos Estados Unidos ao Brasil permaneçam em conformidade com as leis relevantes dos Estados Unidos relacionadas com a transição pacífica e democrática de poder, incluindo restrições de longo prazo à prestação de assistência de segurança em caso de golpe militar.

Foto destaque: Senado. Reprodução/MELINA MARA / AFP

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