O Ministério das Finanças da China anunciou nesta terça-feira (13) que reduzirá as tarifas de importação sobre os produtos dos EUA de 34% para 10% a partir desta quarta-feira (14). Além disso, cancelará a taxa adicional de 91% que havia sido imposta em duas rodadas de medidas ao longo da guerra tarifária.
O acordo que, a princípio, durará por um período de 90 dias foi anunciado na madrugada desta segunda-feira (12). A decisão é fruto das negociações comerciais que aconteceram no último fim de semana em Genebra, na Suíça, entre os representantes das duas maiores economias do mundo e levaram à trégua temporária da guerra comercial.
Um comunicado oficial de Pequim diz que “a redução significativa das tarifas bilaterais entre a China e os EUA está alinhada com as expectativas dos produtores e consumidores de ambos os países e favorece as trocas econômicas e comerciais entre a China e os EUA e a economia global”.
Os Estados Unidos reduzirão as tarifas extras impostas à China de 145% para 30%.
Em entrevista concedida nesta terça-feira, o presidente Donald Trump disse que conseguia se ver negociando os detalhes finais de um acordo comercial entre os dois países diretamente com o presidente chinês Xi Jinping.
Trump afirmou que as taxas de importação dos produtos chineses não devem retornar ao índice de 145% ao fim dos três meses de trégua.
Análise do momento
Especialistas do mercado financeiro receberam muito bem o anúncio do hiato das tarifas recíprocas entre China e EUA. Contudo, economistas e analistas acreditam que o acordo deve ter efeitos ainda limitados para alavancar investimentos e o comércio internacional.
De acordo com o g1, especialistas dizem que a trégua não é uma questão definitiva e pode mudar ao fim dos 90 dias.
Welber Barral, ex-secretário do comércio exterior e sócio-fundador da BMJ Consultores Associados, diz que “é um prazo relativamente curto”. Barral afirma que, por enquanto, não haverá grandes efeitos nos mercados ou nos negócios; é um período para que China e EUA tentem um acordo mais amplo, que envolva o acesso a mercados e outros temas, além da redução da tarifa propriamente dita.
Para o diretor de investimentos da Azimut Brasil Wealth Management, Leonardo Monoli, a trégua é um teste decisivo para o futuro das relações comerciais entre China e EUA, enquanto o mercado observa os efeitos da decisão na economia do mercado internacional.
Parece que evitaram o pior cenário, de fracasso nas negociações. Com isso, abrem um caminho para tentar algo positivo.
Leonardo Monoli
Efeitos imediatos da trégua
O mercado financeiro reagiu positivamente ao acordo entre Pequim e Washington e o dólar voltou a ganhar força. Os riscos da economia reduziram após análise dos investidores.
Os títulos públicos dos EUA, as Treasuries, subiram com otimismo e houve valorização das commodities nas bolsas de valores ao redor do mundo.
André Valério, economista sênior do Inter, avalia que “é um acordo ainda recheado de detalhes a serem explicados, mas já é um avanço considerável e os mercados se mostram bastante aliviados desde o anúncio”.
Como a trégua diminui as incertezas acerca do crescimento da economia global, os riscos de uma recessão e de uma estagflação (inflação alta e crescimento econômico baixo) diminuíram bastante. Essa era uma das grandes preocupações do banco central dos EUA (Fed) na última decisão sobre os juros.
Ao g1, a analista de renda variável da Rico, Bruna Sene, afirma que “o movimento pode ser visto como uma correção do mercado, ajustando os excessos após reagir a uma desaceleração mais pronunciada do dólar”. Para ela, a recuperação da moeda ainda não significa uma retomada mais estrutural, o que leva à cautela dos investidores nas negociações.
Os analistas ainda observam o desenrolar do acordo definitivo entre China e EUA. Qualquer desavença pode desestabilizar o mercado nos próximos três meses e provocar o aumento da volatilidade dos investimentos.
Segundo Hudson Bessa, economista e professor da Fipecafi, o anúncio do acordo melhorou o humor dos empresários e do mercado, mas isso não significa um aumento dos investimentos ou de compras internacionais a longo prazo.
Do lado da China
De acordo com a InfoMoney, os futuros contratos de minério de ferro atingiram uma máxima em mais de cinco semanas nesta quarta-feira, graças ao acordo entre China e EUA para reduzir as tarifas. A ação aumentou as esperanças de uma solução mais definitiva para a disputa comercial.
O contrato de setembro do minério de ferro mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian (DCE), da China, fechou o dia com alta de 2,43%, a 737 iuanes (US$ 102,16) a tonelada, o maior valor desde 7 de abril.
O minério de ferro de referência para junho na Bolsa de Singapura subiu 2,3% para US$101,8 a tonelada, o maior valor desde 3 de abril.