Irã liberta temporariamente ganhadora do Nobel da Paz

Narges Mohammadi foi presa em 2021 por ativismo contra a pena de morte e pelos direitos das mulheres

Gabriella Vieira Por Gabriella Vieira
4 min de leitura
Foto Destaque: Ativista iraniana e vencedora do Prêmio Nobel da Paz, Narges Mohammadi. (Foto: Reprodução/Domínio Público/Wikimedia Commons)

A iraniana Narges Mohammadi, vencedora do Nobel da Paz, que estava presa desde novembro de 2021, foi libertada temporariamente nesta quarta-feira (4) por um período de três semanas. A liberação aconteceu por motivos médicos, conforme anunciado por seu advogado em uma publicação nas redes sociais, mais especificamente na plataforma X.

Ativista iraniana e vencedora do Prêmio Nobel da Paz, Narges Mohammadi. (Foto: reprodução:AFP PHOTO/NARGES MOHAMMADI FOUNDATION)

O motivo da liberação temporária de Narges Mohammadi foi o seu estado de saúde debilitado, resultante de uma recente cirurgia. Segundo o advogado da ativista, ela passou por um procedimento delicado que envolveu a remoção de um tumor e a realização de um enxerto ósseo, intervenções que ocorreram há apenas 21 dias. O advogado detalhou que, devido às complicações e ao processo de recuperação dessas cirurgias, as autoridades decidiram suspender a execução da sentença e conceder a Mohammadi uma liberação temporária para que ela possa se recuperar de forma mais adequada, levando em consideração a fragilidade de sua condição física.

Saída de Narges Mohammadi

Narges Mohammadi deixou a prisão levantando o slogan “Mulher, Vida, Liberdade”, um grito de resistência que se tornou símbolo do levante popular iniciado em 2022 na República Islâmica do Irã. Segundo o marido da ativista, Taghi Rahmani, Mohammadi saiu da prisão com um bom estado de ânimo e um espírito combativo, apesar de sua saúde estar muito fragilizada.

A ativista de 52 anos tem sido uma voz forte contra o regime iraniano, especialmente na luta pelos direitos das mulheres, sendo uma das principais opositoras ao uso obrigatório do véu. Ao longo dos últimos 25 anos, ela foi condenada e presa diversas vezes por sua militância, que também se estende à defesa contra a pena de morte. Sua liberação temporária, após anos de prisão e perseguições, representa uma vitória simbólica para o movimento feminista iraniano e para aqueles que lutam contra as injustiças do regime.

Mais detalhes da prisão

A libertação temporária de Narges foi considerada “insuficiente” pelo comitê de apoio à ativista em Paris. Em um comunicado, a Fundação Narges Mohammadi destacou que, após mais de uma década de detenção, a ativista necessita urgentemente de atendimento médico especializado em um ambiente seguro, algo que não pode ser garantido dentro do sistema prisional iraniano.

Narges cumpre sua pena na ala feminina da penitenciária de Evin, localizada na zona norte de Teerã, onde está confinada ao lado de quase 50 outras detentas, conforme relatado por seu marido. Considerada uma “presa de consciência” pela Anistia Internacional, ela enfrenta condições extremamente adversas, agravadas por sua saúde debilitada. Além disso, Mohammadi não vê seus filhos, Kiana e Ali, desde 2015, quando eles se mudaram para a França, o que agrava ainda mais o sofrimento emocional da ativista. A libertação temporária, embora um passo importante, não resolve as graves questões de saúde e segurança que ela continua enfrentando em sua luta contra o regime iraniano.

Vencedora do Prêmio Nobel em 2023

Devido à sua prisão, Narges Mohammadi não pôde receber pessoalmente o Prêmio Nobel da Paz, que lhe foi concedido em 2023, como reconhecimento por sua luta incansável contra a pena de morte e pelos direitos das mulheres no Irã. A ativista, que tem sido uma voz fundamental contra as injustiças do regime iraniano, não teve a oportunidade de participar da cerimônia de premiação e de compartilhar sua mensagem com o mundo, devido à sua detenção contínua.

Além disso, em junho de 2023, Narges foi novamente condenada a mais um ano de prisão sob a acusação de “propaganda contra o Estado”.