Morre Dick Cheney, ex-vice-presidente dos Estados Unidos
Figura central do governo George W. Bush, Cheney foi um dos nomes mais influentes da política americana e um dos principais arquitetos da guerra do Iraque
Dick Cheney, ex-vice-presidente dos Estados Unidos entre 2001 e 2009, morreu na última segunda-feira (3), aos 84 anos, em decorrência de complicações cardíacas. O comunicado foi divulgado pela família de Dick nesta terça (4). Considerado uma das figuras mais poderosas da política norte-americana no início dos anos 2000, Cheney teve papel decisivo na formulação das políticas de segurança dos EUA e na condução da invasão do Iraque após os atentados de 11 de setembro de 2001.
Dick Cheney nunca buscou popularidade, porém, exerceu enorme poder nos bastidores da Casa Branca e do Partido Republicano. Lembrado como o vice-presidente mais influente da história dos Estados Unidos, conhecido por auxiliar nas decisões do governo Bush.
Anuncio da morte do ex-vice presidente Dick Cheney (Vídeo: reprodução/ You Tube/ CNN Brasil/Breaking News)
A trajetória de Dick Cheney
Antes de assumir a vice-presidência, Cheney construiu uma longa carreira pública em Washington. O ex-presidente foi secretário de Defesa, chefe de gabinete da Casa Branca e deputado pelo estado de Wyoming. Com uma postura vista como defensora de uma política externa partidária, estrategista de bastidores, respeitado e frequentemente temido por sua influência nos principais centros de poder político dos Estados Unidos.
Durante a invasão do Iraque, em 2003, Cheney foi um dos principais defensores da tese de que o regime de Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa, justificativa usada para o início do conflito. Nenhuma dessas armas, no entanto, foi encontrada.
Cheney também entrou em confronto com importantes membros do governo Bush, como os secretários de Estado Colin Powell e Condoleezza Rice, e defendeu o uso de técnicas de interrogatório “aprimoradas” contra suspeitos de terrorismo, práticas que incluíam afogamento simulado e privação de sono. Tanto o Comitê de Inteligência do Senado norte-americano quanto o relator especial da ONU para antiterrorismo classificaram essas ações como tortura.
Com uma postura vista como defensora de uma política externa partidária, estrategista de bastidores, respeitado e frequentemente temido por sua influência nos principais centros de poder político dos Estados Unidos.
Durante o período de 2001 a 2009, o ex-vice-presidente advogou pelo fortalecimento do poder da Casa Branca, argumentando que a autoridade do presidente havia sido abalada após o escândalo de Watergate, que resultou na queda de Richard Nixon.
Ruptura com o partido Republicano
Nos últimos anos de vida, Cheney viveu uma relação cada vez mais conturbada com o próprio partido. Embora tenha sido por décadas um símbolo do conservadorismo republicano, o ex-vice-presidente se viu isolado após a ascensão do ex-presidente Donald Trump, cujas ideias populistas e estilo combativo chocavam-se com a tradição política que Cheney representava.
O veterano político chegou a chamar Trump de “covarde” e o classificou como a “maior ameaça à república americana”. Suas declarações duras o afastaram da base republicana, mas aproximaram-no de setores moderados e de figuras democratas. Em um gesto que simbolizou essa mudança, Cheney revelou ter votado, nas eleições de 2024, em Kamala Harris, então candidata democrata e também ex-vice-presidente, destacando a importância de preservar os valores democráticos e as instituições do país.
Mesmo longe da vida pública, Cheney continuou sendo uma voz ativa nas discussões sobre política e segurança. Em entrevistas e memórias, refletia sobre as decisões tomadas ao longo de sua carreira e defendia a importância de um Estado forte para garantir a estabilidade global.
Despedida de um nome histórico
Cheney enfrentou problemas cardíacos desde jovem, sobrevivendo a vários ataques ao longo das décadas. Em 2012, passou por um transplante de coração, procedimento que prolongou sua vida e ao qual se referia como “o próprio dom da vida”. Após a cirurgia, optou por uma aposentadoria discreta, cercado pela família, mas ainda atento ao cenário político americano.
Sua morte encerra um capítulo importante da história dos Estados Unidos. Amado por uns, contestado por outros, Dick Cheney deixa um legado complexo — o de um homem que moldou o destino de uma nação em tempos turbulentos e que nunca temeu as controvérsias em nome de suas convicções.
