República Dominicana desautoriza a permanência indeterminada de premiê do Haiti no país

Alexandre Kenzo Por Alexandre Kenzo
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Foto destaque: crise política agrava situação dos haitianos (Reprodução/Hector Retamal/AFP/RFI)

Nesta quarta-feira (06), a República Dominicana informou que não autoriza a permanência do primeiro-ministro haitiano, Ariel Henry, a continuar no território por tempo indeterminado. A razão de Henry estar politicamente refugiado é a crise de violência no Haiti, que culminou neste domingo (03) com mais de quatro mil detentos escapando da maior prisão do país, que declarou estado de emergência.

Desde semana passada, quando a capital haitiana Porto Príncipe registrou crescentes ondas de violência coordenadas por gangues, o premiê Henry esteve no Quênia, tentando negociar o envio de uma missão multinacional de apoio ao seu país. Quando as tensões nacionais explodiram, com várias facções haitianas insatisfeitas com o governo do primeiro-ministro, os governos dos Estados Unidos e do Haiti “consultaram de maneira informal” se a República Dominicana permitiria a escala indefinida de Henry no seu país, o que foi negado.

Nas duas ocasiões o governo dominicano comunicou a impossibilidade de tal escala, sem receber um plano de voo definido,” afirmou o porta-voz do governo dominicano. “A República Dominicana mantém a disposição de continuar cooperando com a comunidade internacional para facilitar o retorno do Haiti à normalidade. Mas é imperativo que qualquer ação adotada não comprometa nossa segurança nacional.


Marcha de gangue contra o primeiro-ministro do Haiti (Foto: reprodução/REUTERS/Ralph Tedy Erol)

Insegurança nacional

No terremoto de 2010, o Haiti sofreu um terremoto que levou a mais de 200 mil mortes, e marcou o maior período de intervenção política internacional na história do país (2004-2017), que tem histórico de guerras civis e golpes militares. O atual primeiro-ministro Ariel Henry tem governado desde 2021, após o assassinato do Jovenel Moïse, e é impopular para grande parcela dos haitianos.

Ariel Henry tem que ir,” afirmou um manifestante, na capital haitiana Porto Príncipe, descontente com a deterioração da situação nacional e com o aumento da violência. “Estamos vivendo em total precariedade. Estamos vivendo no lixo, no esgoto. Não tenho nada, estou vazio. Não posso trabalhar, não posso sustentar minha família, não posso mandar meus filhos para a escola.”

Com Henry fora do país, as gangues aproveitaram para atacar delegacias e prisões, e hoje já controlam mais de 60% da capital. O Haiti e a República Dominicana, países vizinhos nas Ilhas do Caribe, agora têm maior tensão geopolítica, com o governo dominicano reforçando o número de tropas na fronteira.

Crise humanitária

Optamos por tomar nosso destino em nossas próprias mãos. A batalha que travamos não derrubará apenas o governo de Ariel. É uma batalha que mudará todo o sistema,” disse Jimmy “Barbeque” Cherizier, um ex-policial que lidera uma das principais gangues haitianas. O mesmo já advertiu que uma guerra civil pode começar caso o primeiro-ministro não renuncie.

De acordo com a ONU, só a guerra entre gangues já forçou mais de 300 mil pessoas a abandonarem suas casas, com várias famílias fugindo especialmente da capital. Já foi alertado que se trata de uma das mais graves crises humanitárias no país.

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