Há dez anos, no dia 6 de março de 2013, o Brasil acordava com o impacto do falecimento do músico e ex-líder da banda Charlie Brown Jr., Alexandre Magno Abrão, conhecido como Chorão. A morte do cantor emocionou o país na época e levantou o debate para um tema que, até então, era pouco falado pela maior parte dos brasileiros: a depressão.
O fenômeno permanece, ainda, como uma causa recente do afastamento de grandes profissionais dos palcos, entre eles, nomes consagrados como Anitta, Demi Lovato e Adele. Além disso, tem levantado debates acerca da sua perigosa associação ao consumo excessivo de substâncias químicas como uma certa forma de escapismo.
Álcool, maconha, cocaína, crack e heroína são algumas das substâncias utilizadas, mas que causam danos a diversas partes do corpo, incluindo o cérebro. Seu consumo, comumente associado à recreação, mescla os riscos de potencializar transtornos e de dependência química. Sendo assim, qualquer pessoa pode ter um surto psicótico, devido ao uso das drogas, e o agravamento de doenças mentais.
É o que pode ser observado nos casos de Chorão e personalidades como Amy Winehouse, por exemplo, em que o uso de cocaína em níveis elevados contribuiu para “dopar” o cérebro, fazendo com que tivesse efeitos contrários ao que realmente se desejava, acarretando uma consequência fatal.
Outros fatores estão atrelados às condições mentais ou psicológicas do indivíduo, aliados ao abuso ou
à abstinência de substâncias, pois podem alterar o sistema nervoso central e o seu desempenho, fazendo com que os usuários sofram fisicamente e mentalmente. Dessa forma, acarreta uma mudança de percepção e maior dificuldade de identificação do que é ou não é real.
Para a psicóloga Andrea Chaves, casos como os encontrados em artistas revelam que tais substâncias psicoativas têm poder devastador nas emoções e nos pensamentos do indivíduo, gerando uma certa confusão mental. “A pessoa acaba usando cocaína, tida como uma droga estimulante, para sair dos efeitos da depressão, que dá sinais como baixo humor, desesperança, desamparo, tristeza e melancolia. Entretanto, ao passo que a substância gera um pico na estimulação, posteriormente, causa uma queda de euforia e, em sequência, um esgotamento”, explica Andrea. que ressalta o uso desses estimulantes como a causa que leva ao aumento dos efeitos.
A psicóloga ressalta, ainda, que o uso contínuo de substâncias estimulantes também acarreta aumento nos sintomas depressivos. Hormônios como a dopamina e a noradrenalina são outras duas fontes que trazem uma sensação imediata de alívio. Porém, são mais exemplos de efeitos temporários, que cessam e fazem com que o indivíduo volte ao estágio inicial, desejando, sempre, aquela primeira sensação de novo.
Processos de humanização
Chaves explica que, dentro da Psicologia, não há uma técnica exata para tratar dependentes. Entretanto, a literatura já vem investindo em casos específicos, como o uso da terapia cognitivo-comportamental, por ser diretiva e trabalhar com metas claras. Além disso, a terapia engloba o tratamento de múltiplos comportamentos disfuncionais, incluindo o uso abusivo de drogas. “O objetivo é sempre trabalhar com um plano de política de redução de danos e mapear as desfuncionalidades do uso de drogas”, aponta Andrea.
Iniciativas governamentais e do terceiro setor
É com o objetivo de eliminar o uso de substâncias psicoativas em países como o Brasil, onde a taxa de pessoas que sofrem com a dependência química é alta, que programas de Atenção Primária à Saúde (APS), tornam-se a porta de entrada para o cuidado do indivíduo. Tais programas desempenham papel fundamental na abordagem dos transtornos por uso de substâncias (TUS). O nível de conhecimento da população, o território e as determinantes sociais que interferem nas mudanças comportamentais são outros fatores de contribuição na hora de tratar cada pessoa.
A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) também orienta o paciente nos caminhos que devem ser seguidos até o tratamento definitivo, podendo ser necessário o encaminhamento para a atenção especializada. “Esses programas surgem com a ideia de focar no paciente, além de mapear seus comportamentos, fazer um plano terapêutico de acordo com as suas necessidades e com a rede de apoio que cada um possui”, pontua Andrea ao mencionar os benefícios de tais programas.
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