Brasil participa de reunião do Tratado da Antártica para debater conservação de continente

O Brasil é um dos participantes da reunião do Tratado da Antártica. O encontro, que contará com a presença dos países signatários do acordo, servirá para debater propostas internacionais de proteção ambiental no continente. A reunião deste ano já acontece em Milão, na Itália e seu encerramento está previsto para o começo de julho.

Propostas de criação de novas Áreas Marinhas Protegidas (AMPs) estão em análise para serem discutidas na Comissão para Conservação dos Recursos Marinhos Vivos da Antártica (CCAMLR). No entanto, de acordo com especialistas, um pequeno grupo de países que são liderados pela Rússia e China têm impossibilitado de maneira sistemática a formação de um consenso na CCAMLR para que novas áreas protegidas sejam criadas na Antártica.

Clima do Brasil diretamente afetado

As mudanças climáticas que atingem os dois extremos do planeta afetam o Brasil de forma direta. A crise ambiental no Ártico e na Antártica é marcada pelo derretimento de geleiras, mudança nas correntes oceânicas e na circulação atmosférica. Estes fatores influenciam os padrões de chuva, períodos de seca e eventos extremos no Brasil, como as enchentes que aconteceram no Rio Grande do Sul e arrasaram o estado em maio do ano passado.


Geleira Thwaites, na Antártica, conhecida como “Geleira do Juízo Final” (Foto: reprodução/Wikimedia Commons/Nasa)

“A percepção pública acompanha o que a ciência já comprova: a crise climática antártica afeta diretamente o cotidiano dos brasileiros, da mudança nos padrões de chuvas às ameaças a atividades como o turismo de observação de baleias”, afirmou Ronaldo Christofoletti, professor da Unifesp e co-presidente do Grupo de Especialistas em Cultura Oceânica da UNESCO.

O inverso também pode acontecer. Fatores que interferem no clima no Brasil podem influenciar o continente antártico. O aumento das queimadas na Amazônia, por exemplo, podem soltar partículas que chegam na Antártica e escurecem o gelo da região, o que acelera o derretimento.


Reportagem da CNN explica como queimadas no Brasil agravam degelo na Antártica (Reprodução/Youtube/CNN Brasil)


Aumento do nível do mar

Em pesquisa recente, levantada pela Fundação Grupo Boticário, UNESCO, e pelo projeto Maré de Ciência e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), foi revelado que nove a cada dez brasileiros entendem o aumento do nível do mar enquanto uma ameaça real. A maioria também relaciona o aquecimento dos oceanos a catástrofes climáticas como secas e inundações, no entanto, apenas 7% dos entrevistados já participaram de alguma ação que contribua com a conservação marinha no último ano.

Tecnologia 3D recria navio perdido nas profundezas da Antártica há mais de um século

Um modelo 3D recém-divulgado revisitou detalhes impressionantes do HMS Endurance, navio do explorador antártico Ernest Shackleton, que afundou há mais de um século. Pratos, roupas e até uma pistola sinalizadora foram vistos em imagens capturadas a 3.008 metros de profundidade no Mar de Weddell. O registro faz parte de um documentário que estreia no Festival de Cinema de Londres neste sábado (12), e futuramente no Disney+.

Imagens detalhadas em 3D do navio

Descoberto em 2022, o Endurance, que naufragou em 1915 após ser esmagado pelo gelo, foi digitalizado em 3D, revelando artefatos impressionantes. Apesar da profundidade, a varredura mostra objetos intactos, como pratos usados pela tripulação, uma bota e uma pistola sinalizadora ainda no convés do navio.

O documentário “Endurance”, dirigido por Chai Vasarhelyi, Jimmy Chin e Natalie Hewit e produzido pela National Geographic Documentary Films, irá contar a história da fatídica expedição de Shackleton e a surpreendente descoberta do navio, além de mostrar a coragem do explorador, que liderou sua tripulação e conseguiu garantir a sobrevivência de todos os 27 homens.


Registro raro do HMS Endurance preso no gelo antártico (Foto: reprodução/Scott Polar Research Institute/University of Cambridge/Getty Images Embed)


O que aconteceu com o Endurance?

A missão do Endurance, que partiu da Inglaterra em 1914, era ambiciosa: realizar a primeira travessia terrestre do continente antártico. No entanto, o navio ficou preso no gelo no Mar de Weddell em janeiro de 1915, antes de afundar em novembro do mesmo ano. Durante meses, os 28 tripulantes enfrentaram condições extremas enquanto lutavam para sobreviver.

Liderados por Shackleton, o grupo se refugiou na Ilha Elefante após abandonar o navio e, em uma travessia de 1.200 km até a Geórgia do Sul, o explorador conseguiu organizar o resgate dos homens restantes. Nenhum membro da tripulação foi perdido, um feito notável que consolidou Shackleton como um dos maiores líderes da história da exploração polar.


Registro raro da tripulação do HMS Endurance (Foto: reprodução/Scott Polar Research Institute/University of Cambridge/Getty Images Embed)


O legado do Endurance

Embora a missão de atravessar a Antártica não tenha sido concluída, a jornada do Endurance é lembrada como uma das maiores histórias de resiliência e sobrevivência da exploração polar. Shackleton, conhecido por sua determinação e coragem, fez mais uma tentativa de retornar à Antártica em 1922, a bordo do navio Quest. Porém, ele faleceu durante a viagem, aos 47 anos, após um ataque cardíaco na Geórgia do Sul, onde está enterrado.

As novas imagens 3D do Endurance não apenas revelam os detalhes impressionantes do naufrágio, mas também preservam o legado de Shackleton, garantindo a preservação de sua história, sua tripulação e do navio naufragado no oceano antártico.

Cientistas divulgam estudos preocupantes sobre a geleira mais larga da Antártica

Nesta sexta-feira, dia 20, cientistas divulgaram um compilado de estudos com o resultado de seis anos de trabalho de pesquisa sobre a Geleira Thwaites, localizada na Antártica. No relatório divulgado, os resultados e as projeções feitas para o futuro da geleira e, consequentemente, do nível do mar, foram preocupantes.

De acordo com o conjunto de pesquisadores britânicos e norte-americanos, responsáveis pelo estudo, a geleira está recuando há mais de 80 anos, mas nos últimos 30 anos este processo acelerou consideravelmente. “Segundo nossos achados, a tendência é que a geleira recue mais e mais rápido no futuro”, afirmou Dr. Rob Larter, membro da CIGT e geofísico marinho do British Antarctic Survey, Instituto britânico responsável por assuntos relacionados à Antártica.


Infográfico com a localização da Geleira na Antártica (Foto: reprodução/Anadolu/Getty Images Embed)


A pesquisa

Desde 2018, cientistas da “Colaboração Internacional da Geleira Thwaites” (CIGT) descobriram e estudaram este complexo sistema. Por conta das rápidas mudanças identificadas no local, eles têm juntado esforços para entender mais sobre o que está acontecendo e as consequências para o planeta. Esta semana, de 16 a 20 de setembro, os cientistas se reuniram para discutir os resultados encontrados até aqui.

O principal objetivo do grupo é prever a taxa e a magnitude das mudanças no nível do mar que o derretimento da geleira pode causar. De acordo com a colaboração, esse aumento terá um grande impacto na costa de diversos países e poderá afetar a vida dos moradores de ilhas do pacífico, a Bangladesh, ou de Nova York até Londres.

Com o uso de novas tecnologias, modelos computacionais e até robôs, os cientistas têm conseguido enxergar com mais clareza o que ocorre abaixo da Geleira Thwaites. De acordo com as projeções, o derretimento do gelo pode acelerar no século XXII e levar ao colapso integral do sistema no XXIII. “Intervenções climáticas imediatas e contínuas terão um efeito positivo, porém atrasado, especialmente em moderar o fornecimento de água oceânica quente, sendo o que mais impulsiona o recuo do gelo”, afirmou o Dr. Ted Scambos, membro da CIGT e glaciologista da Universidade do Colorado, no site do projeto.

A Geleira Thwaites

Também conhecida como “Geleira do Juízo Final”, a Geleira Thwaites é a mais larga do mundo, com aproximadamente 120 km de largura. Localizada na Costa Oeste do continente antártico, observações recentes mostram que o Thwaites é o sistema gelo-oceano que está passando por maiores modificações. Segundo pesquisas, o aquecimento da atmosfera e do mar são os principais causadores dessas mudanças.

Matéria por Ana Costa (Lorena – R7)