Ondas de calor ameaçam espécies de tartarugas marinhas na Malásia 

Conforme a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), que dispõe sobre o estado de conservação de espécies em todo o mundo, as tartarugas marinhas estão sob ameaça de extinção. Na ilha de Redang, localizada no leste da Malásia, a situação é agravada pelos efeitos das mudanças climáticas, que levam ao aumento da temperatura do mar e da superfície, afetando diretamente a proporção dos gêneros dos filhotes e, consequentemente, a prolongação da espécie pela reprodução.

Observações científicas

Um pesquisador da Universidade da Malásia (UMT), Nicholas Tolen, explica que isso ocorre com base na temperatura do ambiente no momento da incubação: 

Qualquer temperatura média de incubação acima de 30 graus Celsius vai resultar em uma produção de eclosão 100% feminina, e em qualquer lugar mais perto de 28 graus Celsius e abaixo, resultará no efeito oposto de viés masculino”.

Nicholas Tolen

Isso foi descoberto após observadores constatarem uma rápida eclosão de ovos de tartaruga localizados nas regiões mais quentes da areia, o que ocasionou, no entanto, à “feminilização” da prole, com um número cada vez menor de nascimento de machos sendo observado nos últimos anos. 

Esforços de voluntários pela conservação

Com isso, conservacionistas do Santuário de Tartarugas Chagar Hutang, na ilha de Redang, estão somando esforços, juntamente a voluntários, para mover os ovos para um local mais fresco e sombreado, onde há mais árvores e seja possível manter a temperatura entre 28 e 30 graus Celsius. O sucesso da iniciativa ainda está sendo medido. 


Voluntários cavando um ninho de tartaruga marinha verde em busca de ovos eclodidos e não eclodidos na costa do Santuário de Tartarugas Chagar Hutang, na ilha de Redang (Foto: reprodução/Getty Images Embed)


Efeitos do El Niño

O fenômeno climático do El Niño – “O Menino” em português – costuma iniciar no mês de dezembro e é caracterizado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico Equatorial. Cientistas acreditam que a irregularidade na frequência do surgimento deve-se à interferência humana, visto que vem ocorrendo todos os anos desde 1990, quando seria esperado um intervalo a cada dois ou dez anos. Com isso, a temperatura da superfície do mar da Malásia vem enfrentando uma crescente, tendo atingido o recorde de 21 °C este ano, segundo a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos, fazendo com que a vida marinha na costa oeste dos EUA seja uma das mais afetadas.

Aquecimento dos oceanos causa danos aos corais; entenda

A morte de corais desencadeia em problemas que impactam a pesca e o turismo. Além disso, existem maiores riscos de tempestades nas áreas costeiras. Esse fenômeno do branqueamento dos corais se dá principalmente pelos recordes de calor que estão tendo efeito devastador nos mares.

Recordes de calor 

Nunca na história tantos corais perderam a cor devido ao aquecimento da água dos oceanos. Mais de 54 países no mundo inteiro têm corais passando pelo que a ciência chama de branqueamento severo. Os quatro primeiros meses de 2024 já estão se mostrando como o período mais quente para os oceanos de toda a história. E a previsão é de que continue esquentando nas próximas semanas.

No ano de 2023 já havíamos atingido o recorde de ano mais quente desde 1850, segundo o relatório do observatório europeu Copernicus. No mapa a seguir, é possível observar os detalhes. Onde está mais escuro, mais quente, e maior o impacto sobre os corais.


Mapa do Copernicus mostra as regiões do mundo que tiveram maiores temperaturas em 2023 (Imagem: reprodução/Divulgação/Copernicus)

Branqueamento severo dos corais 

Os corais existem há milhões de anos e já passaram por mudanças no clima. Porém, nunca na história elas foram tão rápidas e drásticas como a provocada por nós nos últimos anos e décadas. A primeira onda planetária de branqueamento foi há apenas 26 anos. E já estamos na quarta e mais grave. A maior rede de monitoramento do branqueamento de corais do planeta, que vai do Ceará até Santa Catarina, é o Instituto Coral Vivo. E dos vinte pontos monitorados pelo Instituto e parceiros, 17 já tem branqueamento, sendo 10 deles em situação muito grave. 


Recife de corais saudáveis (Foto: reprodução/Getty images embed)


Os corais, junto com outros organismos, formam barreiras, que são os recifes. Eles têm estrutura de calcário, e vivem em parceria com microalgas, chamadas de zooxantelas. Abrigadas no coral, as algas se protegem, e em troca, além de dar cor, entregam o excesso de energia que produzem ao fazer fotossíntese. 


Recife de corais após seu branqueamento severo (Foto: reprodução/Getty images embed)


Porém, quando a água fica muito quente e por muito tempo, as algas começam a produzir uma substância (semelhante a água oxigenada) que é tóxica para o coral. Devido a essa reação ao “estresse térmico” que passou, ele então expulsa seus hóspedes. E sem as algas, fica branco e não consegue se alimentar adequadamente.