Greve geral agita a Argentina e governo Milei enfrenta protestos massivos contra reformas

Na última quarta-feira (24), o governo do presidente argentino, Javier Milei, enfrentou a primeira greve geral convocada pela Central Geral de Trabalhadores (CGT), principal sindicato do país.

A paralisação contou com a participação de cerca de 1,5 milhão de pessoas em todo o país, marcando um gigantesco protesto contra o Decreto de Necessidade e Urgência (DNU) e o controverso projeto de “lei ônibus”, que deve ser votado na próxima semana.

Adesão massiva da população


Os organizadores da greve alegam que 350 mil pessoas participaram da marcha na cidade de Buenos Aires, ao passo que o governo estima apenas 40 mil (Foto: reprodução/Notícias ao Minuto)

Os promotores da greve afirmam que 350 mil pessoas marcharam na cidade de Buenos Aires, enquanto o governo estima em apenas 40 mil. A divergência reflete a polarização em torno das reformas propostas por Milei. O projeto de “lei ônibus”, originalmente programado para votação nesta quinta-feira, foi adiado devido à falta de apoio da chamada “oposição dialoguista”.

A greve paralisou parcialmente o país, afetando setores-chave como transporte e bancos. No entanto, a verdadeira demonstração de força foi a mobilização nas ruas de Buenos Aires e de várias cidades argentinas. O professor Patricio Talavera, da Universidade Nacional de Buenos Aires, destaca que a greve levanta dúvidas sobre o resultado final das negociações no Congresso.

Lideranças sindicais enviaram recados diretos aos legisladores, destacando a importância do Estado e acusando o governo de querer destruí-lo. O secretário geral da CGT, Hector Daer, advertiu que os congressistas que apoiarem as reformas “não poderão andar tranquilos nas ruas”. A ministra da Segurança, Patricia Bullrich, implementou o protocolo antipiquetes, evidenciando a tensão política no país.

Pressões sindicais e sociais

Em meio às ameaças dos sindicalistas, internautas publicaram nas redes sociais fotos e nomes dos deputados que apoiaram o projeto de lei ônibus. Os governadores, por sua vez, enfrentam pressões do governo, que ameaça cortar remessas provinciais caso o projeto seja rejeitado no Congresso. O professor Diego Reynoso, da Universidade de San Andrés, aponta que a votação no Senado não será simples.

Argentina ultrapassa países como Líbano e Venezuela e apresenta maior inflação do mundo

Segundo a agência de notícias Reuters, a Argentina agora lidera o ranking de maior inflação econômica do mundo. Além disso, no dia 11 de janeiro, o Instituto de Estatística e Censos local divulgou que a hiperinflação do país havia encerrado 2023 com uma porcentagem total de 211,4%.

Anteriormente, países como o Líbano e a Venezuela ocupavam as primeiras posições no ranking anual. Vale lembrar que a Argentina vem passado por uma crise econômica intensa e que está sendo planejada uma reestruturação pelo então presidente, Javier Milei.

Resultados das inflações dos demais países

Como citado anteriormente, Líbano e Venezuela eram países recorrentes nas listas das grandes inflações globais. De acordo com o banco Credit Libanais, o país do Oriente Médio apresentou em 2023 um IPC (Índice de Preços do Consumidor) de 192,3%, que representa 20 pontos percentuais a menos do que a Argentina atualmente. A libra libanesa, que está em uma desvalorização acentuada assim como o peso argentino, causa o aumento desenfreado nos preços dos produtos.  

Já a Venezuela, que possuía um nível de inflação considerado fora da curva da América Latina nos últimos tempos, terminou o ano com um percentual de 189,8%. Conforme dados do Banco Central Venezuelano, a desaceleração da inflação do país vem ocorrendo desde 2020. Salienta-se que naquele ano, em decorrência da pandemia acima de tudo, a inflação local registrou uma taxa de 2.959,8%.

Como está a situação econômica da Argentina atual


Com a alta inflação, o preço dos alimentos cresceram absurdamente (Foto: reprodução/ Agustin Marcarian/Reuters/G1)

O povo argentino enfrenta uma das piores crises desde a década de 90, que também se sucedeu decorrente de uma alta desvalorização da moeda local. Atualmente, o pequeno apreço do peso argentino ocasiona instabilidades nas taxas cambiais do país e um crescimento constante do preço dos alimentos e outros recursos utilizados pela população.

Ao assumir o poder em novembro do ano passado, o populista Javier Milei implementou um plano de política financeira intitulado “Plano Motosserra”, na qual apresenta emendas um tanto polêmicas e radicais a fim de uma melhora na economia. Entre estas medidas, é possível destacar mudanças como, volumosos cortes em gastos públicos, redução de ministérios e secretarias durante seu governo e privatizações de empresas estatais.

Crise política na Argentina: paralisação geral desafia o governo de Javier Milei

Desde que assumiu a presidência da Argentina, em dezembro, Javier Milei enfrenta nesta quarta-feira (24) um desafio crucial: a primeira paralisação geral convocada pelas principais centrais sindicais do país.

A Confederação Geral do Trabalho (CGT), maior central sindical argentina, e a Confederação de Trabalhadores Argentinos (CTA), a segunda maior, convocaram a paralisação com o lema “O país não está à venda”. Setores do peronismo também aderiram ao movimento, destacando a amplitude do protesto.

A adesão ao movimento por trabalhadores do transporte aéreo resultou no cancelamento de 33 voos da Gol e Latam, afetando turistas brasileiros e argentinos. Bancos permanecerão fechados, e ônibus, trens e metrô operarão até as 19h, parando até a meia-noite. Caminhoneiros também aderiram à paralisação.


Convocado pela maior central sindical do país, o ato conta com a adesão de funcionários de bancos, do comércio, do setor bancário e de caminhoneiros (Foto: reprodução/Agência Brasil)

“Decretaço” e Lei Omnibus na mira

O objetivo principal do protesto é manifestar repúdio ao “decretaço”, uma Medida Provisória que altera significativamente a economia e as leis trabalhistas, e à chamada lei omnibus, que confere “superpoderes” a Milei e propõe a privatização de empresas estatais. Ambas necessitam de aprovação do Congresso, sendo que o “decretaço” já está em vigor.

Algumas manifestações se concentrarão em frente ao Congresso Nacional, buscando pressionar deputados e senadores a rejeitar as leis propostas. Surpreendentemente, o governo de Milei tem cedido em alguns pontos na tentativa de aprovar a lei omnibus.

Ministério da Segurança anuncia táticas rígidas

A ministra da Segurança, Patricia Bullrich, anunciou que repetirá o “protocolo antipiquetes” testado em dezembro, restringindo os manifestantes às calçadas. No entanto, confrontos ocorreram no último protesto contra as medidas de Milei, questionando a eficácia dessa abordagem.

A paralisação geral convocada pela CGT representa a primeira desde 2019, durante o governo de Mauricio Macri. Nos anos subsequentes, a CGT não promoveu paralisações sob o governo de Alberto Fernandéz.

Confronto de ideias entre o governo e a população

O porta-voz do governo, Manuel Adorni, argumenta que a população é contra a paralisação, acusando a CGT de estar “do lado errado da história”. Para Adorni, a liberdade dos trabalhadores tem sido perdida nos últimos anos, e quem deseja trabalhar deveria poder fazê-lo sem interferências.

O governo de Milei anunciou que descontará o pagamento dos funcionários públicos que aderirem à paralisação. Contudo, há exceções; na província de Buenos Aires, governada por Axel Kicillof, os trabalhadores do Estado não terão desconto, evidenciando divergências políticas na abordagem ao direito de greve.

Companhias aéreas cancelam voos para a Argentina devido à greve

Devido à greve geral na Argentina, já foram cancelados 33 voos para o dia 24. O governo de Milei vem causando represálias à classe de trabalhadores e, com isso, o movimento ganha mais força para a greve convocada pelo CGT (Confederação Geral do Trabalho). Nesta sexta-feira (19), o governador Axel Kicillof da província de Buenos Aires declarou apoio à greve.

O que é a greve geral na Argentina

A greve convocada pelo CGT (Confederação Geral do Trabalho) é contra as medidas tomadas pelo novo governo de Javier Milei. Governadores, sindicalistas, líderes de movimentos sociais e artistas se opõem a aceitar o ajuste fiscal anunciado pelo governo. Eles são contra o mandato ultraliberal de extrema-direita que se iniciou no final de 2023, devido a reformas econômicas e trabalhistas. Já foram cancelados 33 voos de ida e volta, entre Brasil e Argentina, no dia 24. Na companhia aérea da Gol, já teve 22 cancelamentos, já na Latam são 11 e apenas um com posição de atraso.


Presidente argentino Javier Milei (Foto: reprodução/18/10/2023REUTERS/Matias Baglietto/CNN Brasil)

Medidas tomadas pelas companhias aéreas Gol e Latam

Em nota, a Gol para seus passageiros, ela afirma que foi necessário o cancelamento dos voos, porque a greve acabara afetando toda atividade aeroportuária nas cidades em que a companhia opera (Buenos Aires, Córdoba, Mendoza e Rosário). A Latam em nota fala apenas em “possíveis cancelamentos” nos voos de ida e volta entre Brasil e Argentina. Como medida para os passageiros, todos podem solicitar o reembolso integral das passagens e realizar a alteração da data sem custo algum ou multa. Os cancelamentos serão apenas para o dia 24, voltando ao normal no dia seguinte.