Lula e Trump reatam diálogo com foco no comércio e nas tarifas bilaterais

Em um telefonema realizado nesta segunda-feira (6), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em um diálogo que durou cerca de 30 minutos. A ligação ocorreu às 10h30, com a presença de ministros e assessores no Palácio da Alvorada. Segundo nota oficial do Planalto, “em tom amistoso, os dois líderes conversaram por 30 minutos, quando relembraram a boa química que tiveram em Nova York por ocasião da Assembleia Geral da ONU”. O foco principal foi o pedido de Lula pela retirada da sobretaxa de 40% imposta a produtos brasileiros e o fim das sanções contra autoridades do país.

Trump elogia Lula e indica visita ao Brasil

Logo após o telefonema, Donald Trump publicou em uma rede social que teve “uma ótima conversa” com o presidente brasileiro, destacando que ambos discutiram economia e comércio entre as nações. Durante entrevista à imprensa na Casa Branca, Trump voltou a mencionar Lula, a quem chamou de “homem bom”, afirmando que pretende “começar a fazer negócios”. Ao ser questionado sobre a possibilidade de visitar o Brasil para a COP, o presidente norte-americano respondeu: “Eu iria em algum momento. Ele (Lula) virá aqui. Nós conversamos sobre isso”. A troca de elogios e o tom conciliador marcaram o primeiro gesto concreto de reaproximação entre os governos.

A retomada do diálogo ocorre em meio ao impasse gerado pelas medidas impostas por Trump em julho, quando o governo norte-americano elevou de 10% para 40% as tarifas sobre produtos brasileiros e aplicou sanções a autoridades, com base na Lei Magnitsky. O Brasil chegou a declarar que não conseguia abrir um canal de negociação até que, em setembro, os presidentes se encontraram brevemente na Assembleia da ONU. O novo contato representa, segundo fontes do Itamaraty, “um passo importante para o destravamento das relações comerciais”.


Lula e Bolsonaro conversam (Vídeo: reprodução/YouTube/@bandjornalismo)

Lula pede “diálogo sem preconceitos” e contato direto com Trump

Donald Trump designou o secretário de Estado, Marco Rubio, como responsável pelas tratativas com o Brasil. Pelo lado brasileiro, participarão o vice-presidente Geraldo Alckmin e os ministros Fernando Haddad e Mauro Vieira. Alckmin avaliou positivamente a conversa entre os presidentes: “Foi muito boa a conversa. Melhor até do que esperávamos. Então, estamos muito otimistas aí, que a gente vai avançar”. Lula, por sua vez, declarou à TV Mirante que o diálogo foi “extraordinariamente bom”, ressaltando o clima amistoso e a importância da comunicação direta entre as lideranças.

Durante a entrevista, Lula destacou que as discussões sobre as tarifas começam nesta terça-feira (7) e pediu “diálogo sem preconceitos” com o Brasil. “Eu pedi para ele para dizer ao Marco Rubio que converse com o Brasil sem preconceito, porque as entrevistas que ele deu parecem que têm um certo desconhecimento da realidade do Brasil”, afirmou. O presidente revelou ainda que ambos trocaram números pessoais: “Ele me deu um telefone pessoal dele. Eu dei o meu para ele, para que a gente não precise de intermediário”. Lula concluiu afirmando que a conversa simboliza um “jogo de ganha-ganha” entre as duas maiores democracias do Ocidente.

Lula denuncia estímulo a ataques e diz que Brasil não se submeterá

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), criticou neste sábado (6) tentativas de interferência estrangeira nos rumos do país. Em pronunciamento transmitido em rede nacional, Lula afirmou que o país “não aceitará ordens de quem quer que seja”.

Ele também chamou de “traidores da pátria” os políticos que, segundo ele, incentivam sanções contra o Brasil. A princípio, a fala foi interpretada como recado indireto a Eduardo Bolsonaro (PL-SP), citado como articulador junto ao governo americano.

Defesa da soberania nacional

No discurso, Lula usou a palavra “soberania” diversas vezes e disse que o Brasil não voltará a ser colônia de ninguém. Ainda assim, o petista destacou que governar significa cuidar do povo brasileiro, sem interferência estrangeira.

Em discurso, o presidente havia afirmado que “somos capazes de cuidar da nossa terra e da nossa gente, sem interferência de nenhum governo estrangeiro”.

Além disso, Lula já havia reforçado e defendido a independência do Judiciário dizendo que não cabe ao presidente interferir nas decisões da Corte. Ocasionalmente, o recado responde a críticas de Donald Trump, que chamou o julgamento de Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal de “vergonha internacional”.

Críticas a políticos e defesa do Judiciário

O presidente classificou como inadmissível a atuação de políticos brasileiros que, segundo ele, estimulam ataques ao país. Ele declarou que a História não perdoará essas ações. Desse modo, as críticas miraram aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, sobretudo seu filho, Eduardo Bolsonaro.


Financial Times analisa defesa do PIX (Vídeo: reprodução/YouTube/CNN Brasil)

O deputado e filho do ex-presidente é investigado por incentivar sanções americanas contra o Brasil e, em agosto, foi indiciado pela Polícia Federal. Para Lula, tal conduta representa traição aos interesses nacionais.

Em contrapartida, aos ataques, o petista também reforçou a defesa do Pix e da regulamentação das redes sociais. Ele afirmou que o sistema de pagamentos é público, gratuito e símbolo de soberania. Sobre as redes, declarou que elas não podem servir como espaço para crimes, discursos de ódio e fake news.

Por fim, Lula prometeu defender as riquezas nacionais e as instituições democráticas contra qualquer tentativa de golpe. “Defender nossa soberania é defender o Brasil”, concluiu.