Ex-sinhazinha Djidja Cardoso era agredida pela mãe, segundo inquérito

Encontrada morta em maio deste ano, Djidja Cardoso, empresária e ex-sinhazinha do Boi Garantido, sofria torturas físicas da mãe Cleusimar Cardoso. A revelação foi feita após a Justiça dar acesso do inquérito ao g1, que estavam em sigilo durante as investigações.

O caso Djidja Cardoso

Djidja foi encontrada morta em sua própria casa em Manaus no dia 28 de maio deste ano, com a suspeita de ter tido uma overdose de cetamina, anestésico humano e veterinário que se tornou ilícita no Brasil na década de 80.


Djidja Cardoso com a faixa de Rainha do A Bordo de 2021 (Foto: Reprodução/Instagram/@djidjacardoso)

Dois dias após a morte, a mãe Cleusimar Cardoso e o irmão Ademar Cardoso foram presos por fornecer e utilizar as drogas de maneira indiscriminada em um grupo religioso chamado “Pai, Mãe, Vida”. Antes da morte de Djidja, os três já estavam sendo investigados por envolvimento em um grupo religioso que utilizava a cetamina para alcançar uma “plenitude espiritual”.

Ampolas da droga foram encontrados pela polícia na casa onde Djidja morreu e nos salões de beleza que pertencia à família.

Além do irmão e da mãe, o ex-namorado de Djidja e outras sete pessoas foram presas pelo crime de tráfico de drogas. Entretanto, o grupo pode ser denunciado também por outros crimes como charlatanismo, curandeirismo, estupro de vulnerável, organização criminosa, etc.

Revelações do inquérito

Novos depoimentos foram revelados no documento, como o da empregada doméstica que trabalhava na casa da família. A mulher contou que Cleusimar Cardoso agia de maneira agressiva com a filha e a agredia de diversas formas. Nas imagens anexadas, Djidja aparece com um corte profundo na cabeça, porém a causa não pode ser confirmada.

Djidja estava fraca e mal conseguia se defender e inclusive sempre pedia para Cleusimar parar com o comportamento que a machucava”, revelou a testemunha.

Além disso, a empregada disse que além da cetamina, vinha se tornando frequente o uso de Potenay, substância veterinária utilizada para a recuperação física de animais de grande porte. Disse também que Djidja e o irmão faziam normalmente a encomenda dos analgésicos pela manhã no horário do café.

Uma pessoa da família que também deu seu depoimento, revelou que “ela ficou muito dependente” e que algumas pessoas da família já haviam denunciado o caso à polícia cerca de um ano antes da morte de Djidja.

Cleusimar Cardoso, mãe de Djidja, ex-Sinhazinha, é presa por tráfico

A empresária Djidja Cardoso fora encontrada morta na última terça-feira (28), na sua casa em Manaus. Após sua morte, sua mãe, Cleusimar Cardoso, foi presa por envolvimento com tráfico de drogas na última quinta-feira (30), junto com Ademar, seu filho.

Cleusimar é dona dos salões de beleza da família, Belle Femme, e foi indiciada pelas investigações como a responsável pela organização “Pai, Mãe, Vida”, em conjunto com Ademar. A organização fora criada pela família, e possuia cunho religioso extremo, baseando no uso de drogas a fim de adentrar “demais dimensões”.

“Pai, Mãe, Vida” trata-se de uma seita, a qual era mencionada em publicações em seu Instagram, e pode estar relacionada à morte de Djidja, ex-Sinhazinha do Boi Garantido.

Segundo a polícia, Cleusimar, Djidja e Ademar suponham ser, respectivamente, Maria Madalena, Maria e Jesus Cristo.

A vida de Djidja

Djidja Cardoso era conhecida por ter sido a Sinhazinha do Boi Garantido de 2016 a 2020.

A Associação Folclórica Boi-Bumbá Garantido, conhecida como Boi Garantido, compete com o Boi Caprichoso no Festival Folclórico de Parintins, em Amazonas, anualmente. Ele também é considerado o boi das massas populares, especialmente por ser o maior campeão do festival.

A Sinhazinha é a filha do dono da fazenda, representando a cultura europeia no Boi. Além de dançar, a Sinhazinha possui interações com o Boi, como acariciá-lo e lhe dar capim ou sal. Sua vestimenta da Sinhazinha costuma ser um vestido rendado, acompanhado de sombrinha e leque.


Djidja Cardoso como Sinhá do Boi Garantido (Foto: reprodução/Instagram/@cleusimarcardoso)

Posteriormente à sua saída do posto de Sinhazinha, em 2021, Djidja participou do reality show A Bordo – O Reality, da emissora amazonense TV A Crítica. O reality show trata-se de um concurso de beleza que restringe mulheres em um barco localizado em Manaus.

Djidja fora a campeã do concurso, obtendo o prêmio de R$ 30 mil, além de ter sido consagrada, mediante voto popular, como a “Rainha do Peladão” da edição.

Em 1984, aos 14 anos, Cleusimar fora vencedora do concurso Rainha do Peladão, também por voto popular.

Prisão de familiares de Djidja

Cleusimar e o filho, Ademar, foram presos nesta quinta-feira (30), sob um mandado preventivo por tráfico de drogas e também por envolvimento com tráfico. No caso de Ademar, há também um mandado por estupro.


Djidja, Cleusimar e Ademar juntos em postagem homenageando Cleusimar (Foto: reprodução/Instagram/@cleusimarcardoso)

Foram emitidos também mandados contra três funcionários da rede de salões Belle Femme.

Nesta sexta-feira (31), ocorreu a audiência de custódia, onde houve a legalidade da prisão preventiva de Cleusimar e Ademar. Todavia, segundo o advogado de ambos, Vilson Benayon, eles não foram ouvidos, pois, estavam demasiadamente alterados devido o uso de drogas, estando assim impossibilitados de depor. Ainda conforme Vilson, grande fração do lucro dos salões Belle Femme era canalizado para suprir o vício.

Em entrevista para um programa na TV A Crítica, o delegado responsável pelas investigações do caso Djidja, relatou que houve um convite por parte de Cleusimar para que fizesse parte da seita “Pai, Mãe, Vida”.

O convite ocorreu após a prisão, durante contato com a equipe policial. Durante conversa para compreensão das ideias dispostas na seita, em determinado ponto, a dona dos salões disse que era preciso estar dentro da seita para entendimento, por haver transcendência para outra dimensão.

Drogas encontradas nos salões

Consoante o delegado Cícero Túlio, durante os procedimentos nas unidades do Belle Femme, foram localizadas inúmeras seringas, algumas inclusive prontas para o uso, fora doses de droga.

O advogado Vilson solicitou o toxicológico, bem como a internação compulsória de Cleusimar e Ademar. Ambos precisaram ser atendidos na enfermaria do complexo prisional, devido crise de abstinência. Segundo Vilson, a prisão os salvou da morte, devido à patologia que possuem.

Depois de terem sido presos, eles falaram para a defesa que alcançaram este estágio de vício em menos de um ano, além de obrigarem os funcionários a consumirem ketamina, um tipo de droga que possui efeitos alucinógenos.

A defesa alega que Cleusimar e Ademar estavam em um estado de insanidade mental, e não houve venda de medicamentos, visto que compravam drogas para uso próprio.

Investigação acelerada após morte de Djidja

O delegado Daniel Antony, da Delegacia de Homicídios, informa que a morte da ex-empresária possui peculiaridades, especialmente por haver a probabilidade do uso de fármacos psicotrópicos, sendo aquelas que agem no sistema nervoso central produzindo alterações de comportamento, humor e cognição. Segundo o delegado, o óbito pode ter ocorrido devido um abuso.

A possibilidade de homicídio não está sendo trabalhada, pois, não há elementos de autoria de morte violenta.

Vale ressaltar que a causa da morte de Djidja ainda não foi determinada, e a investigação ocorria antes mesmo do óbito.

A droga era adquirida em uma clínica veterinária ilicitamente, e as vítimas disseram à polícia que foram dopadas e mantidas em cárcere privado. Ademais, conforme o delegado Cícero Túlio, na conversação ocorrida durante a investigação, a narração de duas pessoas mencionam possível prática de estupro de vulnerável, além de uma das garotas ter possivelmente sofrido um aborto.

Através de postagem no Instagram, antes de ser presa, Cleusimar falou que as notícias quanto ao motivo do óbito da filha eram falsas e polêmicas.