Coca-Cola anuncia versão com açúcar de cana nos EUA após pressão de Trump

A Coca-Cola anunciou, nesta terça-feira (22), que vai lançar uma nova versão da bebida adoçada com açúcar de cana nos Estados Unidos. A decisão ocorre após declarações do presidente Donald Trump, que demonstrou interesse público em alterar a receita do refrigerante. “Tenho conversado com a Coca-Cola sobre o uso de açúcar de cana de verdade na Coca nos Estados Unidos, e eles concordaram em fazer isso”, publicou Trump em suas redes sociais.

Mais opções, mais polêmica

Nos EUA, a Coca-Cola tradicional é adoçada com xarope de milho com alto teor de frutose — alternativa mais barata, mas criticada por seu impacto negativo na saúde. Segundo comunicado da empresa, o novo produto chegará ao mercado no outono (setembro a dezembro), como parte da “agenda contínua de inovação” da marca e para “oferecer mais opções para diferentes ocasiões e preferências”.

Apesar da mudança agradar parte dos consumidores e seguir a tendência por produtos “mais naturais”, ela enfrenta resistência de setores agrícolas. John Bode, presidente da Associação de Refinadores de Milho dos EUA, afirmou que a substituição pode provocar milhares de demissões na indústria alimentícia, reduzir a renda agrícola e aumentar as importações de açúcar estrangeiro — tudo isso, segundo ele, “sem nenhum benefício nutricional comprovado”.

Saúde pública e impacto econômico

A substituição do xarope de milho levanta também questões de saúde pública. A nova fórmula ainda conterá açúcar em grandes quantidades, o que mantém os riscos associados ao consumo excessivo. Especialistas alertam que a mudança não resolve problemas estruturais na dieta americana. Os EUA estão entre os países com maiores índices de obesidade adulta masculina no mundo, segundo a Federação Mundial de Obesidade.


Medição da circunferência abdominal de homem obeso (Foto: reprodução/Peter Dazeley/Getty Images Embed)


No campo econômico, o desafio será abastecer a nova demanda com açúcar de cana — produto que os EUA não produzem em volume suficiente. Estima-se que o país precisará importar entre 3 e 5 milhões de toneladas da commodity por ano, principalmente do México e, em segundo lugar, do Brasil. No entanto, o açúcar brasileiro pode perder espaço após a tarifa de 50% imposta por Trump às importações.

Mudança simbólica ou real transformação?

A iniciativa da Coca-Cola marca uma mudança simbólica na indústria americana de bebidas, com potencial impacto no setor agrícola e no comércio internacional. No entanto, especialistas avaliam que, se não vier acompanhada de medidas estruturais voltadas à saúde e educação alimentar, a novidade corre o risco de ser apenas um aceno político — ainda que envolto em muito açúcar.