Procurador venezuelano acusa Lula e Boric de serem agentes da CIA

O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, fez acusações polêmicas ao afirmar que os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e do Chile, Gabriel Boric, estariam atuando como agentes da CIA. Em entrevista à Globovisión, Saab reagiu às críticas feitas pelos dois líderes sobre o processo eleitoral venezuelano, sugerindo que ambos estariam envolvidos em uma campanha de interferência externa, orquestrada pelos Estados Unidos, contra o governo de Nicolás Maduro.

Esquerda controlada pela CIA

Saab alegou que há uma cooptação da esquerda latino-americana pela CIA, e que Lula e Boric seriam os principais porta-vozes dessa suposta articulação. “Quem é você, Boric? Quem é você, Lula?”, provocou o procurador, questionando a legitimidade das críticas e sugerindo que ambos os presidentes tentam impor um controle externo sobre as eleições na Venezuela. Ele ainda ironizou: “Agora existe um Conselho Nacional Eleitoral mundial?”


Lula e Gabriel Boric (Foto: reprodução/Ricardo Stuckert/PR/O Globo)

Teorias, controvérsias e comparações eleitorais

O procurador também teceu críticas diretas a Lula, sugerindo que o presidente brasileiro teria mudado completamente após seu tempo de prisão. “Lula foi cooptado enquanto estava preso. Ele não é mais o mesmo que fundou o PT e o movimento dos trabalhadores no Brasil”, afirmou Saab. Segundo ele, a eleição de Lula só foi possível graças ao Tribunal Superior Eleitoral, numa tentativa de deslegitimar o processo eleitoral brasileiro.

As comparações entre as eleições do Brasil e da Venezuela têm sido feitas repetidamente por figuras do governo chavista. O próprio Nicolás Maduro, em outra ocasião, afirmou que ninguém interferiu quando o ex-presidente Jair Bolsonaro questionou os resultados das eleições brasileiras que levaram Lula à presidência.

Relação conturbada entre Lula e Maduro

Essas declarações de Saab refletem o aumento da tensão entre Lula e Nicolás Maduro, antigos aliados. Desde as últimas eleições na Venezuela, Lula adotou um tom mais crítico em relação ao governo de Maduro, embora menos incisivo do que outros líderes, como Gabriel Boric, que acusou diretamente o chavismo de fraudar o processo eleitoral.

O presidente chileno, mais agressivo em suas críticas ao regime venezuelano, também se tornou alvo de Saab, que o acusou de traição aos jovens que protestaram contra o ex-presidente Sebastián Piñera e sugeriu que Boric age em conluio com interesses externos.

Enquanto isso, a tentativa do governo brasileiro de mediar a crise venezuelana tem sido frustrada pela falta de transparência nas eleições, com o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela não divulgando os dados das urnas, o que alimenta ainda mais as tensões entre os países.

Brasil, Colômbia e México emitem novo comunicado sobre eleições na Venezuela

Nesta quinta-feira (08), ministros das Relações Exteriores do Brasil, Colômbia e México publicaram um segundo comunicado cobrando o resultado detalhado da ata das eleições do último dia 28 de julho que teria elegido Nicolás Maduro novamente ao poder.

Os governos solicitaram a atuação do Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela (CNE), para que divulguem um resultado transparente após uma ação aberta do Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela (TSJ) para analisar as mais de 30 mil mesas de votação. 

Além disso, enfatizam a necessidade de uma “apuração imparcial”, com objetivo de garantir prevalência popular e pedem atuação das Forças Armadas para garantir a cautela e moderação em atos de manifestação para que respeitem os limites da lei. 

Em nota, os países reiteraram seu respeito à soberania Venezuela e a vontade do povo, afirmando que as soluções devem partir do próprio país, além de colocarem à disposição para manter “esforços de diálogo e busca de entendimentos que contribuam à estabilidade política e à democracia no país”.


Comunicado publicado no site oficial do Governo Federal do Brasil, nota de número 358 (Foto: Reprodução/gov.br)


Primeiro comunicado

No início do mês de agosto, os três países já haviam feito a primeira nota pedindo a divulgação dos resultados de forma detalhada, além da realização do processo de forma rápida mas eficiente e que traga veracidade e confiabilidade nas informações.

Ressaltaram ainda as missões de “manter a paz social e proteger vidas humanas” como prioridades do momento, que foi considerado “muito bom” por Maduro.

O governo venezuelano fez diversas prisões em meio às manifestações pós-eleitorais com alegações de fraudes e violações dos direitos humanos, acentuando a desconfiança da população em meio ao resultado obtido.


Civis manifestam contra resultados das eleições que elegeram Maduro (Foto: Reprodução/Pedro Rances Mattey/Anadolu/Getty Images)


Os observadores internacionais que tiveram restrições impostas pela Venezuela, criticaram o processo eleitoral e afirmaram que os padrões democráticos não foram atendidos, questionando a legitimidade das eleições. O Centro Carter, que trabalha como observador independente, afirma que Edmundo González recebeu a maior parte dos votos e, portanto, venceu as eleições.

O secretário do departamento de Estado dos EUA, Antony Blinken, afirmou por meio de nota que Nicolás Maduro perdeu as eleições com base em boletins divulgados pela oposição e destacou que a falta de retorno por parte do CNE, comprometeu a credibilidade dos resultados. Além disso, criticam as ameaças feitas contra líderes da oposição, solicitando uma transição tranquila conforme as leis.

Maduro rebateu as acusações e alegou que a declaração feita por Blinken foi uma resposta ao comunicado feito pelo Brasil, Colômbia e México, afirmando que os EUA têm interferido nas eleições da Venezuela.

O atual presidente comentou que tem estabelecido contatos com o Brasil por mediação do assessor Celson Amorim e do ministro Mauro Vieira, mas ainda não teve uma conversa direta com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 

Negociação da Oposição

A líder da oposição Maria Corina Machado, informou aos jornalistas as condições de negociação com o governo venezuelano que inclui o reconhecimento da vitória de González, uma transição pacífica com base na democracia, o respeito aos direitos constitucionais e a participação ativa nas discussões.

Machado deixou claro que não aceitará Maduro na presidência caso o resultado não tenha sido favorável a ele e que conta com a mediação dos três países, já em participação.

O Tribunal Supremo de Justiça da venezuela convocou nesta quarta-feira (07), candidatos de partidos para a certificação dos resultados, porém González não compareceu, temendo sua prisão, como explicou em comunicado:

“Se eu fosse, estaria em situação de absoluto desamparo (…) O trâmite não se corresponde com nenhum procedimento legal contemplado pela Lei Orgânica do Tribunal Supremo de Justiça ou de outra lei sobre a jurisdição eleitoral.”

Maduro afirmou após as eleições que os opositores deveriam ser presos, alegando que a justiça chegaria a eles. 

Machado comentou que teme a prisão devido aos últimos acontecimentos, lembrando ainda a detenção de uma coordenadora de campanha, María Oropeza, detida sem ordem judicial.

Oropeza que é a atual chefe da campanha de Edmundo González no estado de Portuguesa e ex-coordenadora de María Corina Machado, chegou a gravar o exato momento da prisão declarando que não fez nada de errado, enquanto homens encapuzados arrombaram a porta do seu imóvel.


Oropeza foi surpreendida por militares que invadiram sua residência e a levaram presa (Vídeo: Reprodução/YouTube/@cnnbrasil)


Maduro não respondeu diretamente a Oropeza, mas fez declarações justificando as prisões realizadas e citou as reações dos EUA em casos semelhantes:

“Se nos Estados Unidos alguém aparece no WhatsApp, ou em rede social, ameaçando matar o presidente, o que acontece com ele? Cadeira elétrica. ‘Tum tum’ Abra a porta”, afirmou Maduro.

O Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, que tem em sua maioria, aliados de Nicolás Maduro, justificou o atraso na divulgação dos resultados por suspeitas de ataque cibernético que logo foi negado por parte da oposição e dos observadores.

Entre o resultado final com 51,95% de votos para Maduro e 43,18% para González, há a esperança de que os dados sejam revisados pelo CNE e que prevaleça a constituição eleitoral e o pleito de eleitores, garantindo que a vontade do povo seja respeitada, contando ainda com os olhares de diversos países na defesa da democracia.