PEC das Praias teve aprovação de deputados de partidos de esquerda e direita

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) relacionada à mudança de cobrança dos tributos em terrenos de marinha, aprovada pela Câmara dos Deputados em 2022, teve repercussão na última semana, após uma audiência pública realizada no Senado. Na época de sua tramitação na Câmara, o projeto recebeu apoio tanto de políticos de esquerda quanto de direita, envolvendo partidos como PCdoB, PT, PSB e PP. O relator da proposta é o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

O projeto está sendo debatido na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Se aprovado, na prática, transferiria os terrenos de marinha, que segundo a Constituição pertencem à União, para os estados e municípios, podendo se tornar particular mediante pagamento. Esses espaços, que não possuem relação com a Marinha do Brasil, fazem parte do litoral do País e estão situados em uma faixa de 33 metros de largura a partir do mar. Além disso, as margens de grandes rios, lagos e lagoas também entram nesta categoria. A proposta foi elaborada pelos deputados Arnaldo Jordy (PPS-PA), José Chaves (PTB-PE) e Zoinho (PR-RJ), em 2011.

Em entrevista à GloboNews, após a polêmica de uma possível privatização das praias, o relator do caso, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou: “A PEC trata apenas de terrenos já ocupados. E não há esse risco [de privatizar praias]“. Atualmente, o governo estima que cerca de 2,9 milhões de imóveis estejam nos chamados terrenos de marinha. No entanto, apenas 565 mil deles estão cadastrados, de acordo com a Secretaria de Gestão do Patrimônio da União.

Foto: reprodução/Waldermir Barreto/Agência Senado

Apesar de serem propriedades do governo, certos terrenos de marinha já estão ocupados. Os moradores dessas regiões são obrigados a pagar, todo ano, uma taxa sobre o valor do espaço à União, o que faz parte do regime de aforamento. No entanto, mesmo que o imóvel já esteja em posse, a região litorânea pertence ao Estado e não pode ser fechada. Com a mudança na lei, o proprietário seria o único dono, tendo permissão de transformar a praia em uma propriedade privada e cobrar o acesso.

Quando estava em tramitação na Câmara dos Deputados, em 2022, a PEC teve a aprovação de 377 deputados no primeiro turno do plenário e, mais tarde, no segundo turno, recebeu 389 votos favoráveis ao projeto. Partidos de direita e centro-direita, como PL, PSL, PSC, DEM, PP e PSDB orientaram seus representantes para serem favoráveis, enquanto que PT e PSB se posicionavam contra, apesar de algumas dissidências dentro dos partidos de esquerda. Um dos maiores opositores aos partidos de direita, o PCdoB orientou sua bancada de deputados a votar a favor da PEC, enquanto que o PSOL foi unânime ao votar contra.

Irlanda vota em referendo para eliminar linguagem ‘sexista’ da Constituição no Dia Internacional da Mulher

A Irlanda se prepara para um importante referendo no Dia Internacional da Mulher, nesta sexta-feira (8), que decidirá sobre a mudança das referências aos “deveres domésticos” da mulher na Constituição. Após anos de pressão, o governo concordou em realizar este referendo duplo, visando também ampliar a definição de família na constituição.

Revisão constitucional

O referendo propõe a votação para a alteração do artigo 41º da Constituição irlandesa, acrescentando o estatuto do casamento e de outras relações duradouras, como casais que coabitam e seus filho, clarificando que uma família não tem de se basear no casamento, como indicam os artigos 41.1.1 e 41.3.1.

A segunda votação visaria alterar a Constituição, segundo agências internacionais, suprimindo os artigos 41.2.1 e 41.2.2.2. A Constituição irlandesa, que remonta a 1937 e atualmente reconhece os “deveres domésticos” das mulheres. O governo argumenta que esta linguagem é considerada “sexista” e “ultrapassada” e busca substituí-la por uma linguagem mais inclusiva e moderna, reconhecendo o cuidado familiar de forma igualitária.

O Artigo 41.2 da Constituição diz que “por sua vida dentro de casa, a mulher dá ao Estado um sustento sem o qual o bem comum não pode ser alcançado”. Uma segunda cláusula que será substituída afirma que o Estado “deverá se esforçar para garantir que as mães não sejam obrigadas, por necessidade econômica, a se envolver em trabalho em detrimento de seus deveres no lar“. De fato, até 1973, as mulheres solteiras eram obrigadas a renunciar aos seus empregos ao se casarem, e as mulheres casadas eram desqualificadas para se candidatarem a vagas.


Entenda mais sobre a votação que acontecerá esta sexta-feira (8) (Vídeo: reprodução/Dailymotion/Euro News)

Os artigos citados seriam substituídos pelo artigo 42B, com o seguinte texto:

O Estado reconhece a prestação de cuidados de um familiar a outro em razão dos laços que entre eles existem, dando à sociedade um suporte sem o qual o bem comum não poderia ser estabelecido, e esforçar-se-á por concretizar essa prestação“. A alteração não mais citaria a mulher como única responsável pelo cuidado ou pelo lar.

No entanto, alguns grupos de defesa de pessoas com deficiência e defensores dos cuidados familiares se opuseram à proposta do governo de substituir o texto por uma linguagem que reconheça o cuidado dentro das famílias, por não impor um maior ônus legal ao Estado para apoiar aqueles que prestam ou recebem cuidados.

O lugar de uma mulher é onde ela quiser, e nada menos do que isso é aceitável em nossa constituição“, disse Orla O’Connor, diretora do Conselho Nacional das Mulheres da Irlanda, ao defender um voto “sim” no centro de Dublin na quarta-feira (6).

Debate e expectativas

Pesquisas de opinião sugeriram apoio à proposta da ampliação das responsabilidades do lar e uma segunda votação que expandiria a definição de família. O risco de baixa participação nas votações é considerável, o que no passado auxiliou uma maioria que optou por preservar o status quo. O resultado final será anunciado no sábado (9), após a contagem dos votos em um centro de apuração central em Dublin.