Decisão do Copom mantém Selic a 15% e alerta para riscos de inflação

Em um cenário de incertezas globais e pressões inflacionárias persistentes, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu manter a taxa básica de juros, a Selic, em 15% ao ano. Essa decisão, que já era amplamente esperada pelo mercado financeiro, consolida a Selic em seu patamar mais alto desde julho de 2006 e sinaliza um tom de cautela ainda mais reforçado por parte da autoridade monetária brasileira.

O comunicado emitido após a reunião destacou um ambiente internacional mais adverso, influenciado principalmente pelas políticas comercial e fiscal dos Estados Unidos, o que amplia a volatilidade nos mercados e exige vigilância.

Flexibilização na comunicação do Copom

A manutenção da Selic por um período prolongado se justifica pelo caráter contracionista da política monetária, buscando conter uma inflação que teima em se manter acima da meta. Embora o comunicado de setembro reforce a preocupação com a inflação, ele adota uma linguagem mais flexível em comparação à comunicação de julho, quando a “continuação da interrupção” do ciclo de alta foi mencionada.

A retirada dessa frase sugere que o Copom não descarta a possibilidade de novos movimentos futuros, seja de alta ou de baixa, dependendo da evolução do cenário econômico.


Mesmo com deflação de 0,11% em agosto, Copom decide manter taxa básica em 15% ao ano (Vídeo: reprodução/X/UOL)

Internamente, o Copom observa sinais de moderação na atividade econômica, mas ressalta que o mercado de trabalho continua aquecido. A inflação, por sua vez, segue resistente, com as expectativas para 2025 e 2026 ainda desancoradas.

O Comitê reconhece os riscos para a inflação em ambas as direções: para cima, com a resiliência dos preços de serviços e a possibilidade de um câmbio mais desvalorizado; e para baixo, com uma desaceleração econômica global mais acentuada e a queda dos preços das commodities.

Cenário internacional adverso reforça postura cautelosa do Copom

No âmbito externo, o comunicado enfatiza a preocupação com as tensões geopolíticas e, principalmente, com o comportamento da economia americana. A política do Federal Reserve, que horas antes havia anunciado um corte de 0,25 ponto percentual em sua taxa de juros, impacta as condições financeiras globais e requer uma atenção redobrada dos países emergentes. O comunicado ressalta que a conjuntura internacional mais adversa e as tarifas comerciais impostas pelos EUA ao Brasil contribuem para um cenário de maior incerteza.

A decisão do Copom e o teor de seu comunicado foram vistos pelo mercado como um sinal de que o Banco Central não fará concessões e que um afrouxamento monetário só deve ocorrer diante de uma melhora significativa do cenário. A avaliação de economistas é de que o balanço de riscos para a inflação segue elevado, e a cautela da autoridade monetária é a principal ferramenta para garantir a convergência da inflação à meta no médio prazo.

Crescimento da economia brasileira desacelera, apesar de alta de 0,4%

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil avançou 0,4% entre abril e junho de 2025 em relação ao trimestre anterior, atingindo R$ 3,2 trilhões em valores correntes, segundo dados divulgados nesta terça-feira (2), pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). No entanto, apesar do resultado positivo, o desempenho confirma uma desaceleração do crescimento econômico em comparação aos últimos anos.

Juros elevados impactam setores sensíveis e o PIB Brasil 2025

Também, a coordenadora de contas nacionais do IBGE, Rebeca Palis, explicou que a desaceleração do PIB está ligada à política monetária em vigor, marcada por juros elevados desde setembro de 2024. Segundo ela, setores que dependem mais de crédito, como a construção civil e a indústria de transformação, foram os mais afetados nesse cenário de restrição.

Em julho, o Copom manteve a taxa Selic em 15%, citando incertezas externas e os efeitos das tarifas aplicadas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, cuja vigência completa começou em agosto. Consequentemente, os impactos dessas medidas só devem ser totalmente refletidos nos próximos trimestres.

Serviços e indústria sustentam crescimento

No segundo trimestre, os serviços cresceram 0,6%, enquanto a indústria avançou 0,5%. Já a agropecuária registrou uma pequena queda de 0,1%, enquanto o consumo das famílias teve alta de 0,5%, ajudando a sustentar a atividade econômica no período.

Nas exportações de bens e serviços houve alta de 0,7%, e as importações diminuíram 2,9% em relação ao trimestre anterior. Assim, o desempenho do comércio exterior ajudou a sustentar, ainda que de forma limitada, o PIB do período.

Perspectivas do PIB Brasil 2025 para os próximos trimestres

Analistas mantêm projeção de crescimento anual próximo de 2,5%, porém com leve viés de baixa devido à desaceleração do segundo trimestre. Para Natalie Victal, economista-chefe da Sul América Investimentos, os resultados ajudam a afastar avaliações mais pessimistas e sustentam uma projeção favorável para 2025.

Dessa forma, o terceiro trimestre deve apresentar ritmo mais fraco, especialmente em setores cíclicos como construção, indústria e comércio, que são mais sensíveis à elevação das taxas de juros.


Governo projeta PIB com leve viés de baixa após resultado do 2º trimestre (Vídeo: reprodução/YouTube/CNN Brasil Money)

Agropecuária e indústria extrativa sustentam desempenho anual

Na comparação com o mesmo período de 2024, o PIB avançou 2,2%, impulsionado pela alta da agropecuária (10,1%) e das indústrias extrativas (8,7%). Além disso, no acumulado do semestre, a economia cresceu 2,5%, e em doze meses, 3,2%.

O crescimento do setor agrícola é explicado por safras recordes de milho e soja, enquanto a valorização das commodities brasileiras reforça o desempenho do setor externo. O consumo das famílias segue exercendo papel central no crescimento econômico, ainda que o cenário mostre sinais de desaceleração.

Desempenho por setor no 2º trimestre de 2025

Indústria

  • Indústrias extrativas: +5,4%
  • Eletricidade, água e gestão de resíduos: -2,7%
  • Indústrias de transformação: -0,5%
  • Construção: -0,2%

Serviços

  • Atividades financeiras e de seguros: +2,1%
  • Informação e comunicação: +1,2%
  • Transporte e armazenamento: +1,0%
  • Outras atividades de serviços: +0,7%
  • Atividades imobiliárias: +0,3%
  • Comércio: 0%
  • Administração pública, saúde e educação: -0,4%

Avaliação de especialistas

Rodolfo Margato, economista da XP, avaliou que o desempenho do PIB superou levemente as projeções do mercado. Ainda assim, ele destacou sinais de enfraquecimento da demanda interna, embora o consumo das famílias demonstre resiliência.

Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo, reforça que setores cíclicos continuam pressionados pela taxa de juros elevada, principalmente construção, indústria e comércio. Assim, a XP mantém a projeção de crescimento de 2,2% para 2025 e estima 1,6% para 2026.