Maradona ‘morreu após 12 horas de agonia’, diz médico legista

O caso Maradona já teve muitos desdobramentos, sendo o mais recente a audiência desta quinta-feira (27). As investigações começaram acerca dos profissionais que cuidaram do jogador em seus últimos dias de vida.

Ao todo foram sete profissionais acusados de negligência em relação aos cuidados com um dos maiores ídolos do futebol argentino, que faleceu em novembro de 2020, aos 60 anos, durante a recuperação de uma cirurgia cerebral devido a um coágulo. 

O jogador estava se recuperando da cirurgia quando foi encontrado morto na cama, duas semanas após o procedimento. Desde então, uma investigação sobre um possível “homicídio por negligência” por parte da equipe médica acerca de seus cuidados, foi aberta.

Sexta audiência


Psiquiatra Augustina Cosachov e seu advogado (Reprodução/Luis Robayo/Getty Images Embed)


A sexta audiência sobre a acusação de negligência acerca dos cuidados com Diego Maradona aconteceu nessa quinta-feira (27), em San Isidro.

Estão sendo julgados Leopoldo Luque (neurocirurgião); Agustina Cosachov (psiquiatra); Carlos Diaz (psicólogo); Nancy Forlini (coordenadora médica); Mariano Perroni (coordenador de enfermagem); Pedro Pablo Di Spagna (médico); e Ricardo Almiro (enfermeiro). 

Este capítulo sobre as investigações de sua morte contou com o depoimento 200 testemunhas, dentre elas, o médico legista Carlos Mauricio Cassinelli. 

Causa da morte

O médico legista Carlos Mauricio Cassinelli apontou como causa da morte do ex-jogador um edema pulmonar agudo com insuficiência cardíaca e cardiomiopatia dilatada. Disse também que Maradona passou por uma agonia de 12 horas antes de morrer.

O período agonizante é o período em que, uma vez iniciada a morte, ela é inevitável. Pode ser curto ou longo, dependendo da patologia. Períodos ultracurtos não permitem que coágulos se formem dentro das cavidades; não há tempo suficiente”, afirmou.

Segundo Casselli, o coração de Maradona estava com o dobro do tamanho de um órgão normal. Ainda afirmou que o ideal para a recuperação do jogador era ser tratado no hospital e não em casa. Maradona estava em propriedade rural em San Andrés, ao norte de Buenos Aires. 

O legista ainda acrescentou que havia mais de quatro litros de água acumulados no corpo de Maradona, sendo dois terços do total presentes no abdômen. 

Julgamento de Maradona: a busca por justiça após a morte de um ícone

Quase quatro anos após o falecimento de Diego Maradona, teve início, nesta terça-feira (11), na capital argentina, o julgamento dos profissionais de saúde que prestaram atendimento ao astro do futebol nos últimos dias de sua vida. A acusação é gravíssima: delito doloso contra a vida, em sua modalidade de homicídio simples, em razão do qual os médicos e enfermeiros acusados não pretendiam nada com isso, mas as suas condutas imprudentes e negligente foram o modo pelo qual levaram ao falecimento de Maradona.

A morte de Maradona ainda é uma dor viva para muitos. Para sua família e fãs, ele era muito mais que um jogador de futebol – era uma parte essencial de suas vidas. E, por isso, a busca por justiça é tão importante. O que está em jogo não é apenas a punição de quem errou, mas também a resposta para o vazio deixado pela partida de um ícone.

Quem são os acusados

Os sete profissionais acusados incluem Leopoldo Luque, o neurocirurgião e médico pessoal de Maradona, e outros médicos e enfermeiros que o assistiram no seu tratamento, em decorrência da operação para a retirada de um hematoma em sua cavidade craniana.

A acusação é a de que, ele precisando de cuidados médicos intensivos, Maradona ficou abandonado, no final, numa casa, sem o necessário para a sobrevivência.

Seguiram os médicos aceitando a sua permanência em casa para sua recuperação, mas isso não era o suficiente para um paciente com tanta condição de saúde a ser tratada – como as dificuldades cardíacas, hepáticas e neurológicas. Para a acusação, houve negligencia fatal.


Diego Maradona com a Taça Jules Rimet na Copa do Mundo de 1986 (Foto: reprodução/Paul Bereswill/Getty Images Embed)


A dor e a esperança da família

A dor da família é visível. Na abertura do julgamento, Veronica Ojeda, a ex-cônjuge de Maradona, foi fotografada chorando na porta do tribunal. As filhas de Maradona, Dalma e Jana, compareceram, demonstrando que, para elas, a dor pela perda de um pai ícone é irrecuperável. Elas não requerem apenas justiça, requerem esclarecimento, o que ocorreu em seu pai, e como isso é possível.


Veronica Ojeda, ex-parceira de Diego Maradona, chega ao tribunal em San Isidro, Argentina (Foto: reprodução/Marcos Brindicci/Getty Images Embed)


Nem o advogado de Diego Fernando, o filho de Maradona, camufla a revolta: “Há muitas evidências de como roubaram Maradona e de como deixaram que ele morresse. É o suficiente para irem todos presos. São assinaturas falsificadas, histórias clínicas adulteradas. O que eles dizem nos áudios e mensagens é para tentar fazer com que as filhas de Diego não o levassem, porque se o fizessem, perderiam o dinheiro”, diz.

Os documentos estão sendo exibidos, nos moldes que indicam que o encerramento da vida de Maradona poderia ter sido evitado se os profissionais tivessem se comportado de outra maneira – com mais zelo e mais humanidade.

Provas e mensagens de desespero

Entre as provas, uma das mais impactantes são as mensagens trocadas entre os acusados. Em áudios e mensagens, fica claro que os médicos estavam preocupados com as consequências legais e não com a saúde de Maradona. “Ele vai morrer”, “Podemos terminar presos” e “Manipulemos a história clínica” são algumas das frases que apareceram.

Essas mensagens mostram que, enquanto Maradona estava lutando pela vida, seus médicos estavam mais preocupados em se proteger de um possível processo. E mais: ao longo do processo, surgiram indícios de que a família de Maradona foi afastada, para que ele não fosse levado para um hospital, o que poderia revelar o quão precário estava seu tratamento.


Diego Maradona, técnico do Gimnasia y Esgrima, em 7 de março de 2020, em Buenos Aires, Argentina (Foto: reprodução/Jam Media/Getty Images Embed)


O legado de maradona e a busca por justiça

Maradona foi um homem de contrastes, um gênio do futebol e alguém marcado por seus próprios demônios pessoais. Mas para seus fãs, ele é lembrado com carinho e respeito. Para muitos argentinos, ele será sempre um herói, e a morte dele, tão trágica e cheia de mistérios, ainda é uma dor difícil de lidar.

Esse julgamento não é apenas sobre a culpa de médicos, mas sobre como ele foi tratado nos últimos dias de vida. Não se trata de condenar, mas de entender. Como um homem que trouxe tanta alegria para tantas pessoas pôde ser deixado para trás de uma forma tão cruel?

Para a família, as provas são claras: Maradona não merecia isso. Eles estão lutando não apenas pela memória dele, mas por justiça, para que outros não sofram o mesmo destino.

O futuro de maradona: uma homenagem merecida

Após o julgamento, o corpo de Maradona será transferido para o “Memorial M10”, um mausoléu em Buenos Aires, que será aberto ao público. Será um lugar para todos que o amavam, onde poderão ir e lembrar dele. E, mesmo com tudo o que aconteceu, Maradona ainda continuará vivo no coração de seus fãs.

O julgamento não é só uma busca pela punição de quem errou. Ele é, acima de tudo, uma tentativa de restaurar um pouco da dignidade perdida no fim da vida de um homem que, para muitos, nunca deveria ter partido.