O poder legislativo do Estado de El Salvador aprovou, na última quinta-feira (31), um projeto de lei que autoriza múltiplas reeleições, além de aumentar o mandato presidencial de 5 para 6 anos e extinguir o segundo turno eleitoral. A proposta do partido governista Nuevas Ideas, que domina o Parlamento, recebeu o apoio de 57 dos 60 membros da Casa.
Como parte de sua implementação, a norma estabelece eleições federais extraordinárias para 2027, encurtando o segundo mandato de Nayib Bukele, planejado originalmente para acabar em 2029.
Na prática, a medida gera a possibilidade de um terceiro mandato do controverso Nayib Bukel. A reeleição não era uma realidade no país até 2021, quando a Corte Constitucional do país, composta em sua maioria por juízes indicados pelo atual presidente, mudou o entendimento sobre o assunto.
Cresce o autoritarismo no país
As recentes mudanças na Constituição salvadorenha ocorrem diante de escândalos envolvendo defensores de direitos humanos no país. É que Bukele persegue seus opositores e cala, de forma intimidadora, críticas ao governo.
Veja+ explica em profundidade a complexa situação atual de El Salvador (Vídeo: reprodução/Youtube/Veja+)
O constitucionalista Enrique Anaya, por exemplo, foi preso em 7 de junho por lavagem de dinheiro após chamar de inconstitucional o atual regime do país em rede nacional.
Já a chefe da unidade anticorrupção da organização de direitos humanos Cristosal, Ruth López, que denunciou ao menos 50 supostas irregularidades, foi detida em maio deste ano em um processo semelhante.
Os casos motivaram a saíde de 40 jornalistas independentes e 10 defensores de direitos humanos do país.
Bukele ascende sob política de segurança polêmica
Filho de imigrantes palestinos que fizeram fortuna em El Salvador, Nayib Bukele, quando jovem, largou a faculdade de Direito e passou a atuar como publicitário prestando serviços para o partido de esquerda Frente Farabundo Martí (FMLN). Por tal legenda, entrou na política em 2012 e foi eleito prefeito da capital salvadorenha em 2015. Foi expulso da FMLN em 2017 e fundou seu próprio partido, Nuevas Ideas, no mesmo ano.
Elegeu-se presidente em 2019, colocando-se como uma alternativa à política tradicional, nem de direita nem de esquerda. A partir das eleições legislativas de 2021, o Nuevas Ideas alcançou ampla maioria no Congresso salvadorenho, desbancando os maiores partidos (FLMN e ARENA – Alianza Republicana Nacionalista).
Bukele começou o governo negociando com as gangues locais, como fizeram todos os ex-presidentes desde o fim da guerra civil, mas, após o assassinato de 87 pessoas em dois dias, em 2022, mudou sua atitude. A partir de então, governa sob regime de exceção (renovado mais de 35 vezes) e uma política de prisões em massa, que já encarceraram 88 mil pessoas. Estima-se que cerca de 10% da população masculina salvadorenha está atrás das grades – o maior número do mundo. Em contrapartida, o índice de homicídios caiu de 36 para 1,9 a cada 100 000 habitantes — o menor da América Latina e mais de dez vezes inferior ao do Brasil.
Do lado conservador do espectro político, Bukele é aliado do americano Donald Trump, do argentino Javier Milei e, no Brasil, de Pablo Marçal e Eduardo Bolsonaro.
