Mãe e irmão de Djidja Cardoso, ex-sinhazinha, são condenados por tráfico de drogas

Nesta terça-feira (17), foram condenados pela Justiça do estado do Amazonas, Ademar e Cleusimar Cardoso, irmão e mãe de Djidja Cardoso, a ex-sinhazinha. Além dos familiares, foram condenadas outras cinco pessoas, também pelo crime de tráfico de drogas. Djidja Cardoso foi encontrada morta na cidade de Manaus em maio de 2024, porém ainda não houve a liberação de um laudo oficial sobre a causa da morte. De acordo com a polícia, a causa mais provável seria uma overdose de cetamina. Bruno Roberto, ex-namorado de Djidja, e dois comerciantes também foram condenados, suspeitos pelo fornecimento da droga.

A investigação

De acordo com as informações levantadas pela investigação policial, a família integrava um grupo, o qual era chamado de “Pai, Mãe, Vida”, que incentivava e promovia o uso indiscriminado da droga. O grupo foi denunciado pelo Ministério Público em junho.

A lista de condenados inclui: Cleusimar Cardoso Rodrigues (mãe de Djidja), Ademar Farias Cardoso Neto (irmão de Djidja), José Máximo Silva de Oliveira (dono de uma clínica veterinária, que fornecia a cetamina), Sávio Soares Pereira (sócio de José Máximo na clínica veterinária), Hatus Moraes Silveira (coach, que se passava por personal da família de Djidja), Verônica da Costa Seixas (gerente de uma rede de salões de beleza da família de Djidja) e Bruno Roberto da Silva Lima (ex-namorado de Djidja).


Mãe de Djidja Cardoso, Cleusimar Cardoso, está entre os condenados. (Foto: reprodução/ X/ @CrimesReais)

Verônica Seixas e Bruno Roberto estão em liberdade provisória e poderão recorrer em liberdade, porém os demais condenados irão cumprir as penas, em regime fechado. As condenações são pelo o crime de tráfico de drogas, porém existem outras denúncias, como charlatanismo, estupro e adulteração de medicamentos, as quais serão encaminhadas para as respectivas varas judiciais.

A morte de Djidja

O corpo de Djidja Cardoso foi encontrado sem vida no dia 28 de maio, com sinais de overdose. A polícia encontrou diversos materiais usados na manipulação de cetamina, além de frascos enterrados.

Djidja foi uma das principais atrações do Festival de Parintins por 5 anos, um evento tradicional na região amazonense.

Ex-sinhazinha Djidja Cardoso era agredida pela mãe, segundo inquérito

Encontrada morta em maio deste ano, Djidja Cardoso, empresária e ex-sinhazinha do Boi Garantido, sofria torturas físicas da mãe Cleusimar Cardoso. A revelação foi feita após a Justiça dar acesso do inquérito ao g1, que estavam em sigilo durante as investigações.

O caso Djidja Cardoso

Djidja foi encontrada morta em sua própria casa em Manaus no dia 28 de maio deste ano, com a suspeita de ter tido uma overdose de cetamina, anestésico humano e veterinário que se tornou ilícita no Brasil na década de 80.


Djidja Cardoso com a faixa de Rainha do A Bordo de 2021 (Foto: Reprodução/Instagram/@djidjacardoso)

Dois dias após a morte, a mãe Cleusimar Cardoso e o irmão Ademar Cardoso foram presos por fornecer e utilizar as drogas de maneira indiscriminada em um grupo religioso chamado “Pai, Mãe, Vida”. Antes da morte de Djidja, os três já estavam sendo investigados por envolvimento em um grupo religioso que utilizava a cetamina para alcançar uma “plenitude espiritual”.

Ampolas da droga foram encontrados pela polícia na casa onde Djidja morreu e nos salões de beleza que pertencia à família.

Além do irmão e da mãe, o ex-namorado de Djidja e outras sete pessoas foram presas pelo crime de tráfico de drogas. Entretanto, o grupo pode ser denunciado também por outros crimes como charlatanismo, curandeirismo, estupro de vulnerável, organização criminosa, etc.

Revelações do inquérito

Novos depoimentos foram revelados no documento, como o da empregada doméstica que trabalhava na casa da família. A mulher contou que Cleusimar Cardoso agia de maneira agressiva com a filha e a agredia de diversas formas. Nas imagens anexadas, Djidja aparece com um corte profundo na cabeça, porém a causa não pode ser confirmada.

Djidja estava fraca e mal conseguia se defender e inclusive sempre pedia para Cleusimar parar com o comportamento que a machucava”, revelou a testemunha.

Além disso, a empregada disse que além da cetamina, vinha se tornando frequente o uso de Potenay, substância veterinária utilizada para a recuperação física de animais de grande porte. Disse também que Djidja e o irmão faziam normalmente a encomenda dos analgésicos pela manhã no horário do café.

Uma pessoa da família que também deu seu depoimento, revelou que “ela ficou muito dependente” e que algumas pessoas da família já haviam denunciado o caso à polícia cerca de um ano antes da morte de Djidja.

Caso Djidja: família planejava criar vila para ampliar seita e fazer uso de cetamina 

Em novas informações divulgadas a respeito da investigação do caso envolvendo Djidja Cardoso e sua família, foi descoberto o planejamento para a criação de numa vila na Zona Norte de Manaus a fim de ampliar o grupo religioso fundado e comandado por eles. O envolvimento indiscriminado de cetamina também fazia parte das motivações da família.  

Cenário do caso

Após a conclusão do inquérito policial sobre o caso, foi divulgado nesta quinta-feira (20), mais informações sobre o aterrorizante caso envolvendo a ex-sinhazinha do Boi Garantido e sua família. A descoberta do terreno comprado a fim de promover atividades ilegais selou um dos principais cenários do caso. 

De acordo com o laudo da necropsia, a morte da empresária Djidja Cardoso foi causada por “depressão dos centros cardiorrespiratórios centrais bulbares; congestão e edema cerebral de causa indeterminada”. A polícia ainda investiga se o quadro pode ter sido causado por overdose de cetamina — anestésico de uso humano e veterinário; a droga se tornou ilícita na década de 1980 e só pode ser vendida com receita.

Pelas palavras do delegado Cícero Túlio, as investigações relataram que a família da empresária, responsável pela fundação de uma seita que incentivava o uso da droga, queria criar um lugar para que indivíduos viciados no anestésico pudessem usar de forma indiscriminada.  

Segundo as investigações, Djidja foi vítima de tortura praticada por Cleusimar, sua mãe.


Djidja Cardoso em fotos pessoais (Foto: reprodução/ Instagram/ @djidjacardoso)

“Eles almejavam a criação de uma comunidade, a partir da compra de um terreno na Região Norte aqui de Manaus, para criar uma espécie de vila onde as pessoas iriam ali residir naquele ambiente e fazer uso indiscriminado da cetamina, além de promover os cultos de forma criminosa”

Cícero Túlio, delegado do caso.

Cleusimar Cardoso e Ademar Cardoso, mãe e irmão respectivamente, foram indiciados por doze crimes além de tráfico de drogas e tortura com resultado de morte. Mais nove pessoas com envolvimento no caso também foram indiciados.

Algumas delas eram pessoas próximas de Djidja, como o ex-namorado, Bruno Rodrigues além de Hatus Silveira, apresentado como personal da ex-sinhazinha. Além deles, funcionários de uma rede de salões de beleza comandado pela família e funcionários de um petshop.

Como exposto pelo delegado, os funcionários do salão envolvidos são: Claudiele Santos da Silva; Verônica da Costa Seixas; e Marlisson Vasconcelos Dantas. Todos eles operavam o esquema criminoso, promovendo a realização de cultos religiosos com a utilização de entorpecentes. Espera-se que o Ministério Público deva denunciá-los à justiça. 

Ainda segundo Cícero, o grupo queria criar uma comunidade ou algo próximo, para fomentar as práticas da seita na utilização de cetamina. Também fazia parte dos planos montar uma clínica veterinária para facilitar o acesso e a compra de medicamentos de uso controlado com ajuda dos donos das clínicas, Sávio Pereira, José Máximo de Oliveira e Roberleno Fernandes.

A polícia também apontou Hatus Silveira como elo entre os autores e fornecedores das drogas, principalmente José Máximo, Sávio e Roberlano. De acordo com o titular do 1º DIP, ainda existe entre os indiciados um indivíduo identificado como Emicley, este que teria ajudado na dissimulação de provas durante buscas em uma das clínicas veterinárias.

A polícia também atuou pela conversão da prisão temporária em preventiva de Bruno Rodrigues, ex-namorado de Djidja, nesta semana, com base nas provas coletadas em seu aparelho celular que indicam participação do indiciado também na gestão da seita criminosa.  

Bruno também integrava a seita religiosa, atuando como auxiliar durante as meditações. Foi por meio dele que a família conheceu Hatus, que serviu de ponte de ligação entre a família e um dos fornecedores, José Máximo. Hatus já utilizava substâncias usadas no ramo veterinário, facilitando a aquisição dos entorpecentes para que a família pudesse continuar com as atividades da seita

Cícero Túlio, delegado do caso.

Crimes atribuídos e presos do caso

Os quatorze crimes atribuídos aos indiciados são: tráfico de drogas; associação para o tráfico; perigo para a vida ou saúde de outrem; falsificação, adulteração ou corrupção de produtos destinados a fins terapêuticos ou medicinais; aborto provocado sem consentimento da vítima; estupro de vulnerável; charlatanismo; curandeirismo; sequestro e cárcere privado; constrangimento ilegal; favorecimento pessoal e real; exercício ilegal da medicina além de tortura com resultado de morte.

Quanto aos envolvidos, já foram presos: Ademar Farias Cardoso Neto, irmão da ex-sinhazinha; Cleusimar Cardoso Rodrigues, mãe de Djidja; Verônica da Costa Seixas, gerente do salão de beleza Belle Femme; Marlisson Vasconcelos Dantas, cabeleireiro do mesmo salão; Claudiele Santos da Silva, também funcionária do salão; Bruno Roberto, ex-namorado da empresária; Hatus Silveira, o então identificado como personal trainer de Djidja além de José Máximo de Oliveira, dono da clínica veterinária suspeita de fornecer a substância para a família Cardoso.

Outros dois funcionários da clínica veterinária também foram presos mas sem nomes divulgados.