Poucos momentos na moda são capazes de unir surpresa, emoção e um senso palpável de fim de ciclo. Hoje, esse raro sentimento tomou conta da indústria com o anúncio da saída de Silvia Venturini Fendi da direção criativa da Fendi, marca que carrega não apenas seu sobrenome, mas sua linhagem e legado. A notícia veio sem rumores, sem previsões e sem nenhum prenúncio nos bastidores do recente desfile de verão 2026.
Em suas palavras, Silvia relembra não apenas a trajetória criativa, mas também a herança afetiva que moldou sua passagem pela Fendi. “Meu coração se volta a Karl”, escreveu, em referência a Karl Lagerfeld, parceiro histórico que dividiu com ela o comando criativo da marca por mais de 20 anos. A diretora ainda cita sua avó Adele, fundadora da maison em 1925, além de sua mãe Anna e das tias todas mulheres fortes que fizeram da Fendi sinônimo de luxo.
Legado e transformação
Silvia Venturini não foi apenas uma guardiã do legado familiar, foi uma inventora incansável. Sob sua liderança, a Fendi consolidou a força de suas linhas de acessórios, sendo ela a mente por trás de ícones como a Baguette bag, um dos maiores fenômenos da história recente da moda, além de conduzir com firmeza a direção masculina da casa. Nos últimos anos, compartilhou a direção da linha feminina com Kim Jones, numa parceria equilibrada entre o clássico e o contemporâneo.
Despedida de Silvia (Foto: Reprodução/Instagram/@Fendi)
Seu olhar sempre foi além da tendência. Havia em Silvia uma sensibilidade rara: a de entender que a modernidade não precisa apagar o passado, mas pode coexistir com ele. Seu trabalho era, ao mesmo tempo, suave e potente. Ela costurou tradição com inventividade e transformou sua própria herança em ferramenta de inovação. A Fendi de Silvia soube preservar o DNA romano e artesanal da marca, enquanto abraçava o presente com inteligência estética e emocional.
Despedida Silvia (Foto: Reprodução/Instagram/@silviaventurinifendi)
O jogo muda (mais uma vez)
O ano de 2025 já havia sido marcado por outras trocas de comando, reposicionamentos e reestruturações estratégicas em grandes maisons. Agora, uma pergunta inevitável ecoa nos corredores das redações e dos ateliers: quem será capaz de suceder Silvia Venturini Fendi em uma casa que é, ao mesmo tempo, empresa e dinastia?
A resposta ainda não foi anunciada e pode demorar. A marca, que hoje pertencente ao grupo LVMH, deve considerar com cuidado o próximo passo, já que a figura de Silvia é insubstituível não apenas pela sua visão criativa, mas por sua conexão visceral com a origem da Fendi. Substituí-la será mais do que uma escolha estética: será uma decisão sobre como a grife enxerga o seu próprio futuro.
