A advocacia brasileira vive uma transformação silenciosa, mas profunda. Durante décadas, o exercício profissional esteve condicionado ao território da OAB local, ao deslocamento físico e às fronteiras estaduais que, na prática, limitavam o alcance de um escritório. Hoje, esse modelo já não representa a realidade do país. Com a consolidação dos processos judiciais eletrônicos, audiências virtuais e um mercado cada vez mais integrado, a atuação jurídica passa a ser, de fato, nacional.
A mudança acompanha o comportamento econômico. O empreendedor não opera mais apenas na cidade onde nasceu. Construtoras regionais se expandem para outros estados, loteadoras familiares buscam novas áreas de desenvolvimento e negócios que antes se restringiam a um polo crescem de forma multirregional. “A advocacia acompanha a forma como a sociedade se movimenta. O empreendedor não opera mais numa cidade só. O advogado também não”, afirma o tributarista João Pedro Pimentel, do escritório Tuany Barentin Advogados Associados.
Ao mesmo tempo, as barreiras que mantinham a advocacia limitada geograficamente foram gradualmente derrubadas. Peticionamento remoto, sessões de julgamento virtuais e plataformas integradas permitem que um processo iniciado em qualquer parte do país seja acompanhado à distância, com a mesma eficiência ou até maior que o atendimento presencial.
Mais do que uma modernização tecnológica, trata-se de uma reconfiguração estrutural da profissão. A advocacia deixa de ser essencialmente territorial para se tornar estratégica, acompanhando a jornada de crescimento do cliente aonde ele for.
Mas o avanço não se dá sem responsabilidade.
A atuação nacional exige preparo, estudo e respeito às particularidades legislativas de cada estado e município. Em matéria tributária, por exemplo, pequenas mudanças de enquadramento ou interpretações fiscais regionais podem alterar completamente o custo de uma operação. “O digital abre portas, mas quem dá segurança é o método.
Atuar nacionalmente exige responsabilidade redobrada”, reforça Pimentel. Isso significa que o profissional que se dispõe a atender fora de sua base deve dominar normas federais e, ao mesmo tempo, estar atento aos detalhes locais que sustentam a segurança jurídica.
Os efeitos dessa nova lógica já são visíveis. Escritórios estruturados não precisam mais abrir sedes físicas em diferentes capitais para acompanhar clientes em expansão. A relação se torna contínua, adaptada à velocidade dos negócios. O jurídico deixa de ser consultado apenas quando há um problema e passa a integrar as decisões que garantem o crescimento saudável das empresas — especialmente no setor imobiliário, onde erros de planejamento geram prejuízos significativos.
Com a advocacia nacionalizada, novos desafios também surgem. A concorrência se amplia, a exigência técnica aumenta e a reputação se torna ainda mais determinante. Ao mesmo tempo, quem se profissionalizou e construiu expertise consistente em áreas estratégicas tem diante de si um mercado inteiro em expansão.
No fim, a mudança revela uma nova função para o advogado brasileiro: não apenas solucionar conflitos, mas viabilizar o desenvolvimento. A advocacia deixa de estar limitada por CEP e passa a se mover junto com o país que cresce. O cliente não tem fronteiras. O advogado, agora, também não.
