Carlos Belmonte deixa direção de futebol do São Paulo após goleada histórica

O São Paulo vive uma das semanas mais turbulentas de sua temporada. A contundente derrota por 6 a 0 para o Fluminense, pelo Campeonato Brasileiro, desencadeou uma série de movimentos internos que expuseram rupturas políticas, desgaste de gestores e questionamentos profundos sobre a condução do departamento de futebol. Um dia após o revés no Maracanã, Carlos Belmonte decidiu entregar o cargo e não é mais diretor de futebol do clube. Sua saída ocorre em meio a disputas internas, perda de autonomia e crescente pressão de conselheiros e torcedores.

Paralelamente à decisão de Belmonte, um grupo de opositores iniciou nesta sexta-feira a coleta de assinaturas para protocolar um pedido de impeachment contra o presidente Julio Casares no Conselho Deliberativo. O documento apresentado menciona suposta gestão temerária e solicita o afastamento imediato do mandatário. O movimento amplia o clima de instabilidade e reforça a percepção de que o clube atravessa um momento crítico nos bastidores.

Poucas horas depois da articulação oposicionista, o São Paulo divulgou uma nota oficial confirmando a saída de Belmonte e de outros dois profissionais: Nelson Marques Ferreira e Fernando Bracalle Ambrogi. No comunicado, o clube afirmou que o executivo Rui Costa e o coordenador Muricy Ramalho permanecem no comando do futebol e responsáveis pelo planejamento de 2026, reforçando a continuidade da estrutura técnica apesar das mudanças na direção.

Ruptura política e desgaste crescente

A saída de Carlos Belmonte não foi um episódio isolado, mas o desfecho de um processo de desgaste que se intensificou nos últimos meses. A relação com Julio Casares já não era das mais harmoniosas, marcada por divergências políticas e disputas internas. A possibilidade de ambos se enfrentarem na próxima eleição presidencial, prevista para dezembro do ano que vem, fomentou ainda mais a tensão.

Mesmo antes da goleada no Rio de Janeiro, Belmonte já estava fragilizado dentro do clube. Suas decisões passaram a ser questionadas e sua influência no CT da Barra Funda diminuiu gradualmente. Interlocutores próximos apontavam que o diretor se sentia isolado, embora não demonstrasse intenção de deixar o cargo. Ainda assim, a pressão crescente, somada aos maus resultados em campo, corroeu seu espaço de atuação.

A derrota por 6 a 0 para o Fluminense, considerada uma das mais duras da história recente do São Paulo, funcionou como gatilho. A repercussão negativa e o clima de revolta entre torcedores e conselheiros aceleraram a decisão de Belmonte, que optou por antecipar seu desligamento.


São Paulo postou ima nota após saída de seu Diretor Esportivo (Foto: reprodução/Instagram/@saopaulofc)


Interferência e perda de autonomia no CT da Barra Funda

O episódio que mais simbolizou o enfraquecimento de Belmonte ocorreu em outubro, com a chegada do superintendente Marcio Carlomagno ao CT da Barra Funda. Determinada por Casares no dia seguinte à derrota por 3 a 0 para o Mirassol, a nomeação tinha como objetivo formal “contribuir no planejamento estratégico e orçamentário para 2026”. Na prática, porém, Carlomagno passou a exercer funções tradicionalmente atribuídas ao diretor de futebol.

O documento que oficializou sua atuação listava como responsabilidades o acompanhamento do orçamento do departamento, a participação nas metas esportivas e a promoção de alinhamento entre as áreas internas do CT. Tais atribuições interferiam diretamente no cotidiano de Belmonte, diminuindo seu poder decisório. Gradativamente, Carlomagno se tornou peça central na estrutura, enquanto o diretor passou a ser visto como figura secundária.

A nova dinâmica provocou desconforto e alimentou especulações sobre uma transição velada no comando do futebol. Fontes internas relatavam que o ambiente ficou mais tenso, com disputas por protagonismo e indefinições sobre responsabilidades. Mesmo assim, Belmonte tentava manter uma atuação discreta e evitar confrontos diretos com o presidente.

Crise institucional e incertezas para 2026

A conjunção entre a goleada histórica, a renúncia do diretor de futebol e o pedido de impeachment intensifica a sensação de crise no São Paulo. A oposição se movimenta para responsabilizar Casares por decisões administrativas e pelo desempenho irregular da equipe. O pedido de afastamento, ainda em fase inicial de coleta de assinaturas, indica que a disputa pelo comando do clube deve se acirrar nos próximos meses.

Com a confirmação das saídas, Rui Costa e Muricy Ramalho assumem maior protagonismo na reconstrução do departamento de futebol. Ambos já estavam envolvidos no planejamento para 2026, mas agora terão de lidar também com o desafio de reorganizar o ambiente interno e retomar a confiança dos torcedores.

O clube ainda não anunciou substitutos para as funções vagas, mas a expectativa é de que novas definições ocorram nos próximos dias. Em meio à pressão por resultados, o São Paulo enfrenta a necessidade urgente de reestruturar sua gestão, garantir estabilidade e recuperar a competitividade após semanas marcadas por turbulências e decisões dramáticas.

A saída de Carlos Belmonte simboliza mais do que a mudança de um dirigente: evidencia um São Paulo imerso em conflitos internos, questionamentos políticos e incertezas profundas sobre seu futuro imediato e a condução de seu projeto esportivo.

Leila Pereira fala, pela primeira vez, após incidente no último jogo do Palmeiras contra o São Paulo

Nesta terça-feira (05), no primeiro pronunciamento desde o embate acalorado no MorumBIS, Leila Pereira, presidente do Palmeiras, quebrou o silêncio para abordar as controvérsias e insultos provenientes da diretoria do São Paulo após o empate de 1 a 1 no último domingo, pelo Paulistão.

Durante uma entrevista ao Globo Esporte, a presidente expressou sua indignação diante dos eventos recentes e revelou estar explorando com seus advogados a viabilidade de restringir a presença do diretor de futebol do São Paulo, Carlos Belmonte, nos jogos do Palmeiras como mandante.

“Vi o vídeo horrível do senhor Carlos Belmonte xingando o nosso treinador e acho que tudo na vida a gente tem que refletir primeiro antes de falar. Por isso que estou aqui hoje, com a cabeça fria, dizendo que espero que as autoridades tenham uma atitude exemplar, punindo Belmonte para que isso não aconteça novamente. Vou conversar com meus advogados que eu gostaria até que ele não fosse mais no Allianz. É uma persona non grata nos nossos ambientes. Temos que coibir essa violência insana, e nós como dirigentes temos que ser os primeiros a levantar essa bandeira”

Leila Pereira

Leila Pereira também expressou sua revolta com todo o ocorrido recente de forma violenta e enfatizou a importância da punição como meio de coibir esse comportamento, começando pelos dirigentes. Ela criticou a atitude de incitar violência para agradar torcida, ressaltando que isso afeta não apenas o São Paulo, mas outros clubes. A presidente reiterou sua determinação em não tolerar agressões físicas ou verbais contra os profissionais do Palmeiras.

Tentativa de paz

O mais recente incidente entre os clubes marca o fim de uma tentativa de reconciliação liderada por Leila Pereira e Júlio Casares, presidente do São Paulo, no ano passado. Ambos os dirigentes se envolveram publicamente na promoção da paz, chegando até mesmo a trocar estádios em demonstração de boa vontade.

Ao longo do ano de 2023, houve duas ocasiões em que o Palmeiras atuou no MorumBIS, enquanto o São Paulo jogou no Allianz Parque durante as quartas de final do Paulistão. A rivalidade em confrontos eliminatórios se evidenciou e, de acordo com Leila, revelou uma rivalidade institucional por parte do Tricolor.

“A rivalidade é só dentro de campo, ou deveria ser. Com todos os outros clubes a rivalidade é dentro de campo e não pode deixar que isso transborde para fora porque é perigoso. Fora de campo tem que exigir respeito. Da minha parte, a rivalidade continua dentro de campo. Eu tenho profundo respeito por todo torcedor, todos os jogos que vou no Morumbi, torcedores do São Paulo me param para tirar foto”

Leila Pereira

A presidente destacou que o futebol é uma forma de entretenimento e deve ser uma atividade familiar. Ela argumenta que a rivalidade deve ser controlada, e isso começa com o respeito mútuo entre os clubes. Leila criticou a postura agressiva do São Paulo e a inconsistência entre palavras e ações dos dirigentes. Ainda acrescentou que o sucesso no futebol moderno não está mais ligado a comportamentos ultrapassados de dirigentes autoritários, mas sim a uma gestão responsável e respeitosa.

O Palmeiras divulgou uma nota na última segunda-feira (04), onde afirmou que os ataques direcionados a Abel Ferreira foram considerados xenofóbicos e desrespeitosos. Leila Pereira, por sua vez, opina que tais ataques foram motivados por inveja por parte do São Paulo.

“No fundo eu acho que tudo é despeito, inveja do trabalho ímpar do Abel aqui no Brasil. Tenho orgulho imenso, poder contar com o Abel por tanto tempo, vou ser candidata à reeleição e se for reeleita meu trabalho vai ser manter o Abel até o último dia do meu mandato. Está totalmente adaptado, tem uma ligação muito forte conosco. Atacar gratuitamente um treinador…Se acham que o Abel está procedendo de uma forma que acham que não seja correta com arbitragem, a arbitragem que tem que dizer”

Leila Pereira

De acordo com Leila Pereira, Júlio Casares não entrou em contato com ela desde que os problemas ocorreram. Ela afirmou que não é sua responsabilidade procurar o presidente do São Paulo, pois foi desrespeitada na casa dele. A presidente espera que ele a contate e faça um pedido público de desculpas, além de se comprometer a evitar que incidentes semelhantes ocorram no futuro.


Leila Pereira e Júlio Casares (Foto: reprodução/Marcelo Braga)

Resposta do São Paulo

Após ser procurado pela Globo, o São Paulo emitiu um comunicado assinado pelo presidente Júlio Casares.

“Carlos Belmonte não é xenofóbico. Conversei com ele sobre o assunto, e ele me explicou que, de cabeça quente após os erros de arbitragem na partida, usou a nacionalidade do treinador como forma de identificação, e não qualificação. E, ele destacou que naquele momento, o próprio treinador não estava no local.

Lamento que em 2022 a presidente Leila Pereira não pensou de forma inclusiva e em promover a paz nos estádios. Na ocasião, após o término da final do Paulistão, não houve qualquer comoção ou pedido de desculpas da instituição sobre o ato homofóbico em relação ao São Paulo Futebol Clube.

Dirigentes, técnicos, jogadores e demais pessoas envolvidas no futebol não devem agir com violência. Repudio quem maltrata jornalista retirando seu instrumento de trabalho das mãos, quem chuta microfone, quem peita jogador do time adversário mesmo não sendo atleta. Enfim, temos todos juntos de trabalhar para combater esse tipo de situação, tanto dentro como fora de campo.

Respeito ao adversário também deve ser dado com boas instalações em seu estádio próprio, condições para jornalistas trabalharem e segurança. Sempre recebemos bem a Leila, como ela mesma diz, no MorumBIS. Mas não podemos dizer o mesmo do São Paulo no Allianz. Já tivemos diversos incidentes com nossos profissionais por lá. Não podemos viver como dirigentes do passado, mas não podemos deixar de ter o amor por nosso time do coração.”