Polícia Federal indicia Bruno Henrique por fraude em apostas

A Polícia Federal (PF) indiciou nesta segunda-feira (14) o atacante do Flamengo Bruno Henrique e mais nove suspeitos de envolvimento em um esquema fraudulento para manipulação de apostas esportivas, que envolvem uma partida da 31ª rodada do Brasileirão entre Flamengo e Santos, em 1º de novembro de 2023, disputada em Brasília. 

O indiciamento é resultado de investigações motivadas pelo alerta de três casas de aposta que identificaram que 98% de todas as apostas de cartões da partida em questão foram direcionadas para Bruno Henrique. Em outra, o percentual chegou a 95%. 

Manipulação de resultados

De acordo com as investigações, conversas de celular entre Bruno e o irmão, Wander Nunes Pinto Júnior, apontam que o jogador forçou uma falta para receber um cartão e favorecer familiares no mercado de apostas. O rubro-negro foi expulso no fim da partida. 

Bruno Henrique já tinha cinco cartões amarelos em 22 jogos até aquele momento. Nos acréscimos do segundo tempo, o atacante recebeu mais um cartão amarelo por causa de uma falta em Soteldo quando o Flamengo estava perdendo por 2 a 1. O jogador reclamou da penalidade e, por isso, o árbitro Rafael Klein o expulsou do jogo. 


Mauro Cezar e convidados comentam o envolvimento de Bruno Henrique em fraude de apostas (Reprodução/YouTube/UOL Esporte)

Em novembro de 2024, em uma operação chamada “Spot-fixing”, em parceria com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Distrito Federal, mais de 50 agentes da PF e seis promotores cumpriram 12 mandados de busca e apreensão de celulares, computadores e documentos em endereços ligados ao jogador no Rio de Janeiro (RJ), incluindo o Centro de Treinamento (CT) do Flamengo, Belo Horizonte (MG), Vespasiano (MG), Lagoa Santa (MG) e Ribeirão das Neves (MG). 

Conversa entre irmãos

A PF analisou 3.989 conversas no WhatsApp de Bruno Henrique, sendo muitas delas vazias ou apagadas, o que os investigadores pensam ser um indício de que o jogador tenha deletado parte dos registros. Mas em outros celulares apreendidos durante a operação, a PF encontrou conversas que mostram o envolvimento do atleta na fraude. 

Em uma das conversas com Bruno, o irmão do jogador pergunta quando ele tomaria o terceiro cartão amarelo e o atleta confirma que seria contra o Santos. 


Prints das conversas entre Bruno Henrique e irmão são divulgadas nas redes sociais (Reprodução/X/@futebol_info)

Entre os dias 9 e 10 de dezembro de 2023, Wander reclamou da demora em receber os valores da aposta feita no cartão amarelo recebido por Bruno Henrique no jogo do Brasileirão e pede um empréstimo de R$ 10 mil ao atleta. No dia seguinte, o jogador enviou o comprovante da transferência e reforçou que Wander o deveria pagar de volta assim que recebesse o prêmio da aposta. 

De acordo com a ESPN, Wander afirmou que apostou R$ 3 mil para ter um retorno de R$ 12 mil, mas os valores não foram pagos porque a aposta estava sob análise por suspeita de fraude.

O relatório da PF demonstra que há evidências suficientes para provar que os investigados cometeram crimes desportivos e criminais. 

Envolvidos no esquema

Além de Bruno Henrique e do irmão, a cunhada Ludymilla Araújo Lima e a prima Poliana Ester Nunes Cardoso também fizeram apostas e são alvos das investigações. Amigos de Wander também foram investigados e indiciados: Claudinei Vitor Mosquete Bassan, Rafaela Cristina Elias Bassan, Henrique Mosquete do Nascimento, Andryl Sales Nascimento dos Reis, Max Evangelista Amorim e Douglas Riberio Pina Barcelos. 

Bruno e Wander foram indiciados com base no artigo 200 da Lei Geral do Esporte, da Lei 14.597 de 14/06/2023, que configura “fraudar, por qualquer meio, ou contribuir para que se fraude, de qualquer forma, o resultado de competição esportiva ou evento a ela associado” como crime contra a incerteza de resultado esportivo. A pena pode ser de dois a seis anos de reclusão, além de multa. Também foram indiciados por estelionato, o que pode levar a uma pena entre um a cinco anos de prisão. Os demais citados foram indiciados por estelionato. 

A partir de agora, caberá ao Ministério Público do Distrito Federal analisar o relatório da PF e decidir se oferecerá denúncia à Justiça ou não.

Arquivamento na Justiça Desportiva

Uma investigação paralela do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) já havia arquivado o caso em setembro de 2024 por não ter encontrado evidências das acusações. O relatório do STJD se baseou no tripé “lance normal”, “lucro ínfimo” e “prática corriqueira” para tomar a decisão. Um dos argumentos do procurador foi que a prática de “forçar cartões” é normal dentro do Campeonato Brasileiro. 

Entretanto, o STJD pode reabrir o caso se a PF e o Ministério Público provarem a participação de Bruno Henrique em alguma irregularidade. 

Pronunciamento e defesa

Em novembro de 2024, Bruno alegou ser inocente por ocasião das buscas:

“Recebi (a operação) de uma forma agressiva. Não esperava da forma que foi, mas eu acredito na justiça lá de cima. Deus é um cara que sempre sabe. Minha vida, minha trajetória, desde quando eu comecei a jogar futebol. Deus sempre foi comigo. E cara, eu estou tranquilo em relação a isso. As pessoas que estão aí nessa batalha comigo, eu só peço que a justiça seja feita e separar fora de campo com dentro de campo”, disse o atacante à SporTV.

Após o indiciamento desta segunda, o ge procurou a assessoria do jogador que afirmou que, por enquanto, Bruno não vai se manifestar. 

Após a notícia do indiciamento da PF nesta segunda-feira (14), uma nota informa que o “Flamengo não foi comunicado oficialmente por qualquer autoridade pública acerca dos fatos que vêm sendo noticiados pela imprensa sobre o atleta Bruno Henrique. O Clube tem compromisso com o cumprimento das regras de fair play desportivo, mas defende, por igual, a aplicação do princípio constitucional da presunção de inocência e o devido processo legal, com ênfase no contraditório e na ampla defesa, valores que sustentam o estado democrático de direito”

Durante as investigações, o Flamengo havia dito em nota em novembro de 2024 que confiava no jogador e que manteria Bruno Henrique no time, em defesa à presunção de inocência do atleta. 

Deolane não aparece para depor na CPI das Apostas após ser convocada por comissão do Senado

Aconteceu nesta terça-feira (29), no Senado, a sessão relacionada à CPI das apostas, um colegiado criado neste mês de outubro para apurar o vertiginoso aumento dos jogos virtuais e apostas esportivas, como também o envolvimento de organizações criminosas que fazem lavagem de dinheiro com essas apostas online.

Nomes envolvidos na investigação incluem o cantor sertanejo Gusttavo Lima e a influenciadora e advogada Deolane Bezerra, que não compareceu para depor. Com a ausência da influenciadora, o presidente da comissão autorizou a quebra de sigilo bancário e fiscal de Deolane.

O “presente de grego” e outros depoimentos

O presidente da CPI das Apostas, o senador goiano Jorge Kajuru, falou que o STF daria um presente à Deolane Bezerra. “Lamento profundamente a ausência porque quem não deve não teme, e quem não comparece sabe que está envolvido até o pescoço”, afirmou o senador. Deolane foi convocada pela no início de outubro, mas sua defesa se manifestou em nota, dizendo que iria se manifestar somente perante à Justiça.

Além de Deolane, outro nome importante para a investigação estava agendado para depor nesta quarta-feira (30) por videoconferência: o meio-campista da Seleção Brasileira, Lucas Paquetá, que teve participação declarada como obrigatória, pois a comissão de senadores aprovou requerimento para sua convocação.

Entretanto, o atleta teve seu depoimento adiado para 3 de dezembro, por conta de sua defesa perante a Federação da Inglaterra, que o investiga por forçar cartões amarelos durante as partidas para beneficiar apostadores esportivos. Paquetá é jogador do time inglês West Ham e nega as acusações de que teria propositalmente causado as punições durante quatro partidas da Premier League.


O jogador do West Ham é investigado desde o ano passado por conduta nos campos (Foto: reprodução/Richard Sellers/Getty Images embed)


O tio do jogador, Bruno Tolentino, deve ser ouvido hoje. Ele é investigado pela movimentação de 40 mil reais para o atacante botafoguense Luiz Henrique, que também é jogador da Seleção. A transferência ocorreu enquanto o jogador atuava pelo Real Betis, time espanhol, no início de 2023. O dinheiro foi transferido para a conta do jogador após ele receber três cartões amarelos, o que levanta a suspeita de manipulação de resultados de partidas desportivas. 

O envolvimento de influenciadores e atletas

A CPI das Apostas também mira a contratação e a conduta de influenciadores digitais que promovem sites de apostas esportivas e outros jogos de azar. Segundo a senadora Soraya Thronicke, que propôs a criação da CPI, tais jogos envolvem quantias muito grandes de dinheiro, que transitam rapidamente e de forma anônima, tornando o setor ideal para a prática de lavagem de dinheiro.

A instauração desta comissão veio após a criação da CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas em abril, após o recebimento de denúncias de que jogadores de futebol estariam sendo pagos por criminosos para realizar certas ações durante partidas para beneficiar as pessoas envolvidas no esquema. Essa CPI tem previsão de encerrar os trabalhos apenas em fevereiro de 2025.