Investigação da PF indica ocultação de valores por Eduardo e Jair Bolsonaro em contas das esposas

O relatório final da Polícia Federal (PF), concluído em 15 de agosto de 2025 e disponibilizado ontem, quarta-feira (20) pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), declarou que há indícios de que o deputado federal Eduardo Bolsonaro teria usado a conta bancária da esposa, Heloísa, como estratégia para ocultar transferências recebidas de seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, além de movimentações semelhantes envolvendo a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. 

Segundo a PF, tais ações teriam o objetivo de driblar eventuais bloqueios judiciais e dificultar o rastreamento dos recursos. Para a Polícia Federal, as movimentações financeiras de Eduardo e Jair Bolsonaro buscavam interferir no andamento da Ação Penal 2668, que investiga a tentativa de golpe de Estado no STF. 

Valores transferidos

O relatório foi enviado à Procuradoria-Geral da República (PGR) e está nas mãos do ministro Alexandre de Moraes para análise. Em decisão na data de ontem, quarta-feira (20), Moraes deu 48 horas para que a defesa do ex-presidente esclareça “possíveis violações de medidas cautelares”, “repetição de condutas ilegais” e “risco de fuga”.

No corpo do relatório entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF), a PF aponta que Jair Bolsonaro transferiu R$ 2 milhões para Eduardo em maio de 2025. Esse valor, o ex-presidente confirmou ter enviado para o filho “não passar necessidade”. No entanto, a investigação realizada pela PF destaca que os registros financeiros indicam “repasses adicionais”, fracionados em “seis transações ao longo deste ano” de 2025, totalizando cerca de R$ 111 mil, os quais foram omitidos, segundo a investigação, no depoimento à polícia. 


Publicação do STF sobre o relatório final da Polícia Federal enviado a PGR (Foto: reprodução/X/@STF_oficial)

A PF também ressaltou que, logo após receber os valores de Jair Bolsonaro, Eduardo teria realizado duas transferências para a conta bancária de Heloísa Bolsonaro, sua esposa. Conforme declararam os investigadores, houve duas transferências, uma no valor de R$ 50 mil e outra, no valor de R$ 150 mil, em 19 de maio e em 5 de junho, deste ano, respectivamente. Para os investigadores, essas transferências configuram um “artifício para dissimular a origem e evitar bloqueios” na conta do deputado federal.

A investigação da PF também detectou uma movimentação semelhante envolvendo a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro. Na véspera de seu depoimento à PF, o ex-presidente Jair Bolsonaro, de acordo com a investigação, transferiu R$ 2 milhões para a conta de sua esposa, Michele. Essa operação foi considerada sem justificativa adequada pelos policiais, que a entenderam como uma “manobra” para se livrar de recursos em posse imediata, dificultando o bloqueio dos valores.  

O relatório

Além dessas transações financeiras entre familiares, a PF também levantou registros de operações de câmbio realizadas por Jair Bolsonaro. De acordo com as investigações, cerca de R$ 105 mil foram trocados em dólar, além de saques em espécie, totalizando mais de R$ 130 mil. Para os investigadores, as ações reforçam o cenário de tentativas de evitar rastreamento financeiro. 

O relatório final possui cerca de 170 páginas e documenta o suposto uso de contas das esposas de ambos para ocultar e direcionar recursos financeiros que apoiariam, segundo a PF, as “atividades ilícitas” do deputado federal no exterior. Jair Bolsonaro e seu filho, Eduardo Bolsonaro, foram indiciados por coação no curso do processo e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito no contexto da ação penal que investiga os “atos antidemocráticos” de 08 de janeiro de 2023.


Publicação do STF que impôs medidas cautelares contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (Foto: reprodução/Instagram/@supremotribunalfederal)


A defesa de Eduardo Bolsonaro nega qualquer intenção de interferência no andamento do processo no STF ou tentativa de obstruir investigações. O deputado federal afirma que sua atuação nos Estados Unidos destinou-se apenas à promoção de liberdades individuais, por meio de canais institucionais. A PF, porém, conclui que os indícios evidenciam planejamento e operação consciente por parte de Eduardo e Jair Bolsonaro, para ocultar recursos com ”fins ilegítimos”, segundo investigação.

Lula terá que indenizar Bolsonaro e Michele sobre a questão dos móveis

Nessa segunda-feira (9), a 17ª Vara Federal da Justiça do Distrito Federal assinou decisão condenando o governo Lula a pagar R$ 15 mil, por danos morais, ao ex-presidente Jair Bolsonaro e à ex-primeria-dama Michelle Bolsonaro, no caso dos móveis do Palácio da Alvorada. Em janeiro de 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante uma coletiva de imprensa, comentou que “antigos ocupantes da residência oficial teriam ‘levado’ e ‘sumido’ com 83 móveis”.

Para a Justiça, as falas “alcançaram grande repercussão na mídia nacional e internacional, acarretando mácula à sua imagem e reputação de Bolsonaro e Michelle. Dessa maneira, à luz da subsequente comprovação de que os itens em referência sempre estiveram sob guarda da União durante todo o período indicado, entendo configurado dano à honra objetiva e subjetiva da requerente”.

Bolsonaro e Michele usaram seus próprios móveis no Alvorada

Segundo a defesa dos acusados, o casal teria optado por levar seus móveis para o Alvorada. Os móveis do acervo federal teriam sido guardados em um depósito. A informação foi comprovada pela União.


Presidente Lula durante as comemorações do dia 7 de setembro (Foto: reprodução/Andressa Anholete/Getty Images embed)


O juiz também declarou que os comentários de Lula teriam ido além do “direito de crítica” ao sugerir que Bolsonaro e Michele estariam envolvidos “em desvio de móveis do palácio presidencial que, conforme apurado, sequer ocorreu”.

A Casa Civil localizou os móveis

Em setembro do ano passado, os móveis foram localizados. “Concluídos os trabalhos da Comissão de Inventário Anual da Presidência da República, os 261 bens não localizados anteriormente, da unidade patrimonial do Palácio da Alvorada, foram localizados”, comunicou a responsável pela administração dos palácios, a Casa Civil da Presidência, respondendo a um pedido de informações feito em janeiro daquele ano.

Foi a segunda vez que Bolsonaro acionou a Justiça para solicitar indenização. Da primeira vez, ele teria recorrido ao TJDF, movendo uma ação contra Lula. O pedido foi negado, porque a ação deveria ser protocolada contra a União, pelo fato de os bens serem públicos.

A Advocacia Geral da União vai recorrer.