Dinâmica da sucessão presidencial no Irã

De acordo com a Constituição Iraniana, quando o presidente morre, o primeiro vice-presidente assume os poderes e funções do presidente de forma interina e com a aprovação do Líder Supremo. O vice-presidente, o presidente do parlamento e o chefe do poder judiciário devem providenciar, no período de 50 dias, uma eleição para escolher um novo líder.

O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, é quem dá a palavra final para o vice-presidente assumir o cargo. Com esse poder de intervenção nos assuntos internos e externos na República Islâmica, o líder supremo ofusca os poderes do presidente no país.

Quem decide é o líder supremo

Khamenei, ao declarar cinco dias de luto, anunciou que Mohammad Mokhber irá assumir a presidência de forma interina, respeitando a Constituição Iraniana. Segundo analistas, a realização do pleito não deve mudar os rumos políticos do Irã. A expectativa é de que a linha-dura ligada aos setores religiosos permaneça no poder.


Líder Supremo do Irã: aiatolá Ali Khamenei (Foto: reprodução/ Majid Saeedi/Getty Images embed)


Não há expectativas de mudanças significtivas

Ebrahim Raisi, diferente de seu antecessor, fez uma aliança estreita com Ali Khamenei. Muitas pessoas acreditavam que ele seria o líder supremo quando Khamenei morresse. Gregory Brew, analista do Eurasia Group, fez suas considerações:

É muito provável que a liderança do regime, incluindo Khamenei, trabalhe para realizar uma eleição presidencial para garantir que um substituto adequado suceda Raisi, ao mesmo tempo que mantém fora candidatos reformistas ou moderados, como tem sido a prática desde 2021. 

Gregory Brew

Ainda de acordo com Brew, o clérigo Mojtaba Khamenei, filho do aiatolá, estaria sendo apontado como possível sucessor no cargo de líder supremo. Porém, essa nomeação iria contra uma tradição da Revolução Islâmica, que fundou o regime atual em 1979. Ela se opõe a qualquer sistema que se assemelhe à monarquia, derrubada pela revolução.

O acidente aéreo que vitimou Ebrahim Raisi no último domingo está sendo realmente um golpe para a linha-dura do regime teocrático de Teerã.

Mohammad Mokhber pode assumir presidência do Irã após morte de Ebrahim Raisi

O primeiro-vice-presidente Mohammad Mokhber deve assumir o governo do Irã após a morte do presidente Ebrahim Raisi em uma queda de helicóptero que aconteceu neste domingo (19). Raisi tinha mandato até 2025.

Contudo, a sucessão só poderá acontecer com a aprovação do líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, que decide todos os assuntos de Estado. O governo do vice é transitório, já que a Constituição do Irã determina que novas eleições devem ser organizadas em até 50 dias. 

Mohammad Mokhber

Mohammad Mokhber, de 69 anos, nasceu na cidade Dezful, localizada a cerca de 680 km da capital iraniana, Teerã, em 26 de junho de 1955.

Ele trabalhou no corpo médico durante a Guerra Irã-Iraque, através do Corpo de Guardas da Revolução Islâmica. Mokhber já foi chefe da Execução da Ordem do Imam Khomeini (EIKO), uma paraestatal que atua em quase todos os setores da economia do Irã, e presidente do conselho do Banco Sina, onde foi acusado de corrupção.

Antes da eleição, em 2021, o vice foi alvo de sanções internacionais pela sua participação na Eiko. Para os Estados Unidos, a entidade viola os direitos de alguns grupos, como minorias religiosas, iranianos exilados e dissidentes políticos, por meio de confiscos de bens. Já Mokhber acredita que a Eiko serve para promover uma economia de resistência no Irã.

Ebrahim Raisi


Ebrahim Raisi (Foto: reprodução/Getty Images Embed/AFP/Atta Kenare)


Ebrahim Raisi tinha 63 anos e havia sido eleito em 2021 para um mandato que duraria 4 anos. Ele venceu no primeiro turno, em 18 de junho, com abstenção recorde e muitos adversários foram impedidos de participar pelo Conselho de Guardiães da Constituição.

O presidente era considerado um ultraconservador e se declarava partidário do regime atual do país. Raisi era visto como um protegido do líder supremo Ali Khamenei e tinha fortes chances de suceder o aiatolá.

Raisi participou das comissões da morte, na década de 1980, que causaram a execução de 5 mil militantes que eram opositores ao regime dos aiatolás. 

Durante o seu governo, em 2022, cerca de 500 manifestantes foram executados em um protesto realizado pela morte da jovem Mahsa Amini, presa por não usar o véu em local público, de acordo com a Agência de Notícias de Ativistas de Direitos Humanos (Hrana). 

Tensões entre Irã e Israel

Em 1° de abril deste ano, 7 membros da Guarda Revolucionária foram mortos durante um ataque à embaixada iraniana na Síria promovido por Israel. O Irã realizou ataques aéreos com mísseis direcionados para Israel, no dia 13 de abril, que respondeu ao ataque cinco dias depois.