Médico revela que Maradona não estava bem semanas antes da morte

Durante o julgamento que apura responsabilidades pela morte de Diego Maradona, uma fala atribuída ao ex-jogador chamou a atenção. Segundo relato de um dos médicos ouvidos nesta semana, o ídolo argentino teria dito, semanas antes de falecer: “Não estou bem”. A declaração foi feita em meio a homenagens por seu aniversário de 60 anos, em outubro de 2020. Pouco tempo depois, ele morreria em casa, onde estava sob cuidados médicos, após passar por uma cirurgia no cérebro.

Sete profissionais de saúde estão sendo julgados na Justiça argentina por suposta negligência. Eles respondem por homicídio com dolo eventual, o que significa que, de acordo com a acusação, tinham consciência de que as atitudes que tomaram — ou deixaram de tomar — poderiam levar à morte do paciente. Uma oitava profissional será julgada separadamente.

“Não estou bem”, teria dito Maradona

O ortopedista Flavio Tunessi, que trabalhava no Gimnasia y Esgrima La Plata, clube que Maradona comandou, contou que encontrou o ex-jogador durante uma cerimônia de aniversário no estádio da equipe, no fim de outubro de 2020. Ao vê-lo caminhando sozinho até uma ambulância, foi atrás dele e perguntou se precisava de ajuda. A resposta, segundo Tunessi, foi direta: “Não, estou indo embora. Não estou bem”.

Tunessi também relatou que Maradona parecia abatido, com aparência frágil, e que outras pessoas que estavam por perto naquele dia, incluindo o presidente da Associação de Futebol Argentino, também notaram que ele estava diferente.

Decisão por cirurgia foi questionada

No dia seguinte ao evento, o médico Leopoldo Luque, que também é um dos réus, resolveu internar Maradona para exames na Clínica Ipensa, em La Plata. Lá, foi detectado um hematoma entre o crânio e o cérebro. Mesmo com pareceres que diziam não se tratar de uma situação urgente, Luque decidiu transferi-lo para outra clínica, onde a operação foi feita no início de novembro.

Durante a audiência, o chefe do setor de neurologia do hospital afirmou que a causa do mal-estar de Maradona provavelmente não estava relacionada ao hematoma, e sim a outras condições de saúde que ele já apresentava. Para o médico, o momento não era adequado para uma cirurgia.


O povo argentino foi às ruas pedir justiça por Maradona (Foto: reprodução/Europa Press News/Getty Images Embed)


Exame cardíaco mais detalhado foi sugerido, mas não aconteceu

Outro ponto levantado no tribunal foi o acompanhamento do coração de Maradona. O cardiologista Oscar Franco, que também depôs, disse que em setembro realizou alguns exames, que não mostraram alterações. No entanto, ele sugeriu a realização de um teste mais específico, capaz de detectar possíveis problemas nas artérias coronárias.

A sugestão não foi adiante. Segundo Franco, Luque descartou o procedimento, alegando que o paciente não suportaria ficar tanto tempo em uma clínica. O cardiologista, no entanto, explicou que o exame duraria no máximo três horas.

O julgamento segue nos próximos meses e ainda há várias testemunhas previstas para depor. A próxima audiência está marcada para terça-feira. Se condenados, os acusados podem pegar de 8 a 25 anos de prisão.

Julgamento de Maradona: a busca por justiça após a morte de um ícone

Quase quatro anos após o falecimento de Diego Maradona, teve início, nesta terça-feira (11), na capital argentina, o julgamento dos profissionais de saúde que prestaram atendimento ao astro do futebol nos últimos dias de sua vida. A acusação é gravíssima: delito doloso contra a vida, em sua modalidade de homicídio simples, em razão do qual os médicos e enfermeiros acusados não pretendiam nada com isso, mas as suas condutas imprudentes e negligente foram o modo pelo qual levaram ao falecimento de Maradona.

A morte de Maradona ainda é uma dor viva para muitos. Para sua família e fãs, ele era muito mais que um jogador de futebol – era uma parte essencial de suas vidas. E, por isso, a busca por justiça é tão importante. O que está em jogo não é apenas a punição de quem errou, mas também a resposta para o vazio deixado pela partida de um ícone.

Quem são os acusados

Os sete profissionais acusados incluem Leopoldo Luque, o neurocirurgião e médico pessoal de Maradona, e outros médicos e enfermeiros que o assistiram no seu tratamento, em decorrência da operação para a retirada de um hematoma em sua cavidade craniana.

A acusação é a de que, ele precisando de cuidados médicos intensivos, Maradona ficou abandonado, no final, numa casa, sem o necessário para a sobrevivência.

Seguiram os médicos aceitando a sua permanência em casa para sua recuperação, mas isso não era o suficiente para um paciente com tanta condição de saúde a ser tratada – como as dificuldades cardíacas, hepáticas e neurológicas. Para a acusação, houve negligencia fatal.


Diego Maradona com a Taça Jules Rimet na Copa do Mundo de 1986 (Foto: reprodução/Paul Bereswill/Getty Images Embed)


A dor e a esperança da família

A dor da família é visível. Na abertura do julgamento, Veronica Ojeda, a ex-cônjuge de Maradona, foi fotografada chorando na porta do tribunal. As filhas de Maradona, Dalma e Jana, compareceram, demonstrando que, para elas, a dor pela perda de um pai ícone é irrecuperável. Elas não requerem apenas justiça, requerem esclarecimento, o que ocorreu em seu pai, e como isso é possível.


Veronica Ojeda, ex-parceira de Diego Maradona, chega ao tribunal em San Isidro, Argentina (Foto: reprodução/Marcos Brindicci/Getty Images Embed)


Nem o advogado de Diego Fernando, o filho de Maradona, camufla a revolta: “Há muitas evidências de como roubaram Maradona e de como deixaram que ele morresse. É o suficiente para irem todos presos. São assinaturas falsificadas, histórias clínicas adulteradas. O que eles dizem nos áudios e mensagens é para tentar fazer com que as filhas de Diego não o levassem, porque se o fizessem, perderiam o dinheiro”, diz.

Os documentos estão sendo exibidos, nos moldes que indicam que o encerramento da vida de Maradona poderia ter sido evitado se os profissionais tivessem se comportado de outra maneira – com mais zelo e mais humanidade.

Provas e mensagens de desespero

Entre as provas, uma das mais impactantes são as mensagens trocadas entre os acusados. Em áudios e mensagens, fica claro que os médicos estavam preocupados com as consequências legais e não com a saúde de Maradona. “Ele vai morrer”, “Podemos terminar presos” e “Manipulemos a história clínica” são algumas das frases que apareceram.

Essas mensagens mostram que, enquanto Maradona estava lutando pela vida, seus médicos estavam mais preocupados em se proteger de um possível processo. E mais: ao longo do processo, surgiram indícios de que a família de Maradona foi afastada, para que ele não fosse levado para um hospital, o que poderia revelar o quão precário estava seu tratamento.


Diego Maradona, técnico do Gimnasia y Esgrima, em 7 de março de 2020, em Buenos Aires, Argentina (Foto: reprodução/Jam Media/Getty Images Embed)


O legado de maradona e a busca por justiça

Maradona foi um homem de contrastes, um gênio do futebol e alguém marcado por seus próprios demônios pessoais. Mas para seus fãs, ele é lembrado com carinho e respeito. Para muitos argentinos, ele será sempre um herói, e a morte dele, tão trágica e cheia de mistérios, ainda é uma dor difícil de lidar.

Esse julgamento não é apenas sobre a culpa de médicos, mas sobre como ele foi tratado nos últimos dias de vida. Não se trata de condenar, mas de entender. Como um homem que trouxe tanta alegria para tantas pessoas pôde ser deixado para trás de uma forma tão cruel?

Para a família, as provas são claras: Maradona não merecia isso. Eles estão lutando não apenas pela memória dele, mas por justiça, para que outros não sofram o mesmo destino.

O futuro de maradona: uma homenagem merecida

Após o julgamento, o corpo de Maradona será transferido para o “Memorial M10”, um mausoléu em Buenos Aires, que será aberto ao público. Será um lugar para todos que o amavam, onde poderão ir e lembrar dele. E, mesmo com tudo o que aconteceu, Maradona ainda continuará vivo no coração de seus fãs.

O julgamento não é só uma busca pela punição de quem errou. Ele é, acima de tudo, uma tentativa de restaurar um pouco da dignidade perdida no fim da vida de um homem que, para muitos, nunca deveria ter partido.