Pesquisa revela projeções climáticas preocupante para São Paulo até 2050

Pesquisadores do Instituto Geológico juntamente com a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) realizaram um estudo que aponta a possibilidade do estado ficar até 6°C mais quente até o ano de 2050, além de apresentar ondas de calor que ultrapassam os 100 dias.

Pesquisa Climática

Divulgado pela Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC), o artigo analisou dados climáticos entre as décadas de 1960 e 1990 em comparação com projeções para o período de 2020 a 2050. Os estudo foi assinado pelos pesquisadores Gustavo Armani e Nádia Lima, do Instituto de Pesquisas Ambientais, por Maria Fernanda Pelizzon Garcia, da Cetesb, e Jussara de Lima Carvalho, da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de SP, e publicado no fim de 2022.

Em nota, o governo do estado se pronunciou a respeito do artigo divulgado pela APqC visto que a associação cobra do governo paulista medidas para conter o avanço do aquecimento do estado.

A Secretaria do Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística de SP tem compromisso com a sustentabilidade ambiental e resiliência climática e possui um aparato de programas voltados para o equilíbrio ambientalista do Estado. Desde 2022, a pasta possui o Plano de Ação Climática (PAC) 2050 e o Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE-SP), que mapeiam cenários climáticos globais para aplicação e gestão de riscos ao estado.”

Foi projetado dois cenários possíveis com o estado divulgado: um otimista e um pessimista. O cenário otimista consiste em possibilidades mais positivas para o quadro climático durante os próximos anos como a estabilidade de níveis de gás carbônico (CO²) após o fim do século XXI além de um redução de emissões e implementação de programas de reflorestamento no futuro. Também faz parte do quadro otimista a diminuição de áreas de cultivos agrícolas, adoção de políticas climáticas mais rigorosas e um menor consumo de energia vindo de combustíveis fósseis, como petróleo e carvão natural.

Já o cenário pessimista, obviamente o mais alarmante, aponta um quadro contrário e mais agressivo onde o nível de gás carbônico pode se elevar até o final do século além de um futuro sem mudança das atuais políticas públicas para redução de emissão de gases. Desse cenário, também faz parte um aumento de CO² no ano de 2100 três vezes maior do que atualmente. Uma expansão de áreas agrícolas e de pastagens também pode acontecer afim de suprir a demanda visto o crescimento da população mundial, projetada em 12 bilhões em 2100 além de alta dependência dos combustíveis fósseis.

O professor de meteorologia Ricardo de Camargo, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP apontou que os pesquisadores usaram de modelos climáticos e fizeram uma regionalização dessas simulações a partir da meteorologia. Em exemplo, o professor citou as previsões para cenários futuros em resolução espacial na casa dos 100 a 200 km.

Consequências Climáticas

A pesquisa concluiu a respeito de diversas consequências, algumas delas já nos assolam. A primeira, e uma das principais, foi o aquecimento da atmosfera de forma menos intensa na faixa litorânea (devido ao controle exercido pelo oceano), e maior na região Noroeste, mais afastada do Oceano Atlântico. Para a temperatura máxima anual, os estudiosos reconheceram um aumento em todo o estado, variando de 0,5°C a 1,5°C no Litoral Norte e na Baixada Santista.

Ainda sobre aquecimento, os maiores valores partem de 3°C a 4°C acima da temperatura normal (considerando o intervalo entre as décadas de 1960 e 1990), chegando até 6°C no limite superior do cenário pessimista.


Projeção do aquecimento segundo estudo divulgado na APqC (Foto: reprodução/ G1/ APqC)

A falta de chuva também será um inimigo presente. O estudo obteve um resultado onde é projetada para a maior parte do estado a redução nos totais anuais de precipitação, simplificando, da possibilidade de chuvas, sendo que no Norte e Noroeste todos os cenários marcam tendência de redução.

Dentro do quadro pessimista, o estado inteiro ainda pode ter redução de ondas de frio entre 1 e 3 dias, com pequenas áreas isoladas destacando redução de até um dia. Segundo a projeção, o estudo também pôde verificar a possibilidade de haver um aumento do indicador de duração de ondas de calor ao considerar o máximo de dias consecutivos no ano com temperaturas elevadas. Numa visão ainda mais degradante, o aumento é superior a 150 dias no norte do estado. Já com um cenário positivo, o menor aumento seria de 25 dias, no Sul.

O professor de meteorologia Ricardo de Camargo ainda pondera que apesar dos números, não é um acontecimento exato visto que apenas foi considerado o período de 1961-1990, quando poucas ondas de calor já haviam sido registradas.

O que diz a APqC

A presidente da APqC, Helena Dutra Lutgens, salientou a importância da pesquisa e afirmou que a emergência climática é real e ainda criticou os gestores estaduais.

A emergência climática é real e pode trazer consequências devastadoras para o planeta e para o estado, cuja economia pode ser fortemente atingida se as projeções se confirmarem.”, de acordo consigo, o governo de São Paulo não dá a atenção devida aos alertas científicos.

“O estado tem adotado, nos últimos anos, medidas que fragilizam o sistema paulista de ciência e tecnologia, como a extinção do próprio Instituto Geológico, autor do estudo, do Instituto Florestal e do Instituto de Botânica, além da Sucen [Superintendência de Controle de Endemias], que também poderia contribuir diante deste cenário, estudando a mudança de comportamento de vírus e vetores.”

A Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo também cobra algumas medidas do governo como um plano de ação contra o aquecimento do estado além de medidas para garantir a preservação das áreas de conservação ambiental. Também faz parte das cobranças a recriação dos Institutos Geológico, Florestal e Botânica, bem como da Sucen. O desejo de fortalecimento e investimento do sistema paulista de pesquisa e tecnologia também é reforçado.

“É urgente fortalecer o sistema paulista de pesquisa e tecnologia, exigindo investimentos financeiros e em recursos humanos. Enquanto isso, o governo Tarcísio de Freitas tenta entregar áreas de conservação para a iniciativa privada, uma afronta ao futuro dos paulistas”, critica a presidente Helena Lutgens referente a licitação de concessão de áreas públicas de preservação e pesquisa ambiental do interior do estado, suspenso pela Justiça.

Em nota, o governo de São Paulo declarou:

“A Secretaria do Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística de SP tem compromisso com a sustentabilidade ambiental e resiliência climática e possui um aparato de programas voltados para o equilíbrio ambientalista do Estado. Desde 2022, a pasta possui o Plano de Ação Climática (PAC) 2050 e o Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE-SP), que mapeiam cenários climáticos globais para aplicação e gestão de riscos ao estado.

Dentre as estratégias e especificidades de atuação para implementação do PAC 2050, o Governo de SP montou um comitê gestor da Política Estadual de Mudanças Climáticas (PEMC), intersecretarial, para discutir ações integradas correlatas à pauta. As ações visam atingir os objetivos de neutralidade de emissões de São Paulo, a partir de seis eixos: Transportes; Energia; Resíduos; Agropecuária, Florestas e Usos do Solo; Processos Industriais e Uso de Produtos; Finanças Verdes e Inovação. O planejamento e as execuções devem ainda serem monitoradas por um conselho, tripartite – neste momento, em processo de estruturação.

Lançado recentemente pela pasta, o Finaclima-SP, mecanismo de financiamento que permite a combinação de recursos públicos e privados, atuará para complementar a implementação das ações necessárias de mitigação e adaptação previstas no PAC e no Plano Estadual de Adaptação e Resiliência Climática (PEARC).

Sistemas estaduais de pesquisa e tecnologia

Desde 2021 a Semil possui o Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), fruto da união dos institutos Florestal, Botânica e Geológico, cujas atividades técnico-científicas desenvolvidas são voltadas para o planejamento territorial, de restauração de ecossistemas, de manutenção das unidades de conservação e das mudanças climáticas – totalmente integrado às políticas públicas de Estado. Ainda, o IPA dá suporte às atividades da Defesa Civil estadual no atendimento de desastres naturais, principalmente os ligados a deslizamentos.

Quanto às ações voltadas para o monitoramento de endemias, a Coordenadoria de Controle de Doenças (CCD), da Secretaria de Estado da Saúde, realiza estudos e pesquisas sobre os temas, sob avaliação de conselhos responsáveis. As atividades regionais de campo são realizadas pelos municípios, vinculadas aos Grupos de Vigilância Epidemiológica (GVE) e de Vigilância Sanitária (GVS) estaduais.”

A possibilidade de eventos climáticos extremos e riscos de morte advindo das consequências climáticas também são alertadas pela pesquisa e seus pesquisadores.

Ondas de calor ameaçam espécies de tartarugas marinhas na Malásia 

Conforme a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), que dispõe sobre o estado de conservação de espécies em todo o mundo, as tartarugas marinhas estão sob ameaça de extinção. Na ilha de Redang, localizada no leste da Malásia, a situação é agravada pelos efeitos das mudanças climáticas, que levam ao aumento da temperatura do mar e da superfície, afetando diretamente a proporção dos gêneros dos filhotes e, consequentemente, a prolongação da espécie pela reprodução.

Observações científicas

Um pesquisador da Universidade da Malásia (UMT), Nicholas Tolen, explica que isso ocorre com base na temperatura do ambiente no momento da incubação: 

Qualquer temperatura média de incubação acima de 30 graus Celsius vai resultar em uma produção de eclosão 100% feminina, e em qualquer lugar mais perto de 28 graus Celsius e abaixo, resultará no efeito oposto de viés masculino”.

Nicholas Tolen

Isso foi descoberto após observadores constatarem uma rápida eclosão de ovos de tartaruga localizados nas regiões mais quentes da areia, o que ocasionou, no entanto, à “feminilização” da prole, com um número cada vez menor de nascimento de machos sendo observado nos últimos anos. 

Esforços de voluntários pela conservação

Com isso, conservacionistas do Santuário de Tartarugas Chagar Hutang, na ilha de Redang, estão somando esforços, juntamente a voluntários, para mover os ovos para um local mais fresco e sombreado, onde há mais árvores e seja possível manter a temperatura entre 28 e 30 graus Celsius. O sucesso da iniciativa ainda está sendo medido. 


Voluntários cavando um ninho de tartaruga marinha verde em busca de ovos eclodidos e não eclodidos na costa do Santuário de Tartarugas Chagar Hutang, na ilha de Redang (Foto: reprodução/Getty Images Embed)


Efeitos do El Niño

O fenômeno climático do El Niño – “O Menino” em português – costuma iniciar no mês de dezembro e é caracterizado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico Equatorial. Cientistas acreditam que a irregularidade na frequência do surgimento deve-se à interferência humana, visto que vem ocorrendo todos os anos desde 1990, quando seria esperado um intervalo a cada dois ou dez anos. Com isso, a temperatura da superfície do mar da Malásia vem enfrentando uma crescente, tendo atingido o recorde de 21 °C este ano, segundo a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos, fazendo com que a vida marinha na costa oeste dos EUA seja uma das mais afetadas.