Líderes do setor exportador brasileiro soaram o alerta após os Estados Unidos, sob o comando de Donald Trump, anunciarem a aplicação de uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros. Os segmentos de madeira e pescados são os mais preocupados, temendo um colapso caso a medida passe a valer em 1º de agosto. Apesar de reuniões recentes com representantes do governo brasileiro, os empresários avaliam que os avanços nas tratativas seguem lentos e insuficientes.
Desde o anúncio do tarifaço, o governo Lula intensificou o diálogo com lideranças empresariais por meio de um colegiado interministerial, sob comando do vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin. No entanto, representantes do setor alegam que, embora a iniciativa tenha sido positiva, a ausência de desdobramentos concretos tem gerado frustração e incerteza no mercado.
Impasse nas negociações e tensão diplomática
Paulo Roberto Pupo, superintendente da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), relatou que saiu da reunião com o governo com a expectativa de que medidas urgentes seriam tomadas. No entanto, segundo ele, o cenário “piorou” nos dias seguintes, tanto pelas declarações públicas de autoridades quanto pela falta de retorno concreto.
Embora tenha elogiado a articulação do governo como bem estruturada, Paulo Roberto Pupo avalia que, desde então, pouco foi avançado nas negociações e que o prejuízo aumenta a cada dia sem uma saída concreta. Segundo ele, o risco de paralisação no setor madeireiro é real, principalmente entre empresas que destinam toda a produção ao mercado norte-americano.
O principal entrave, de acordo com representantes empresariais, está na dificuldade de estabelecer um canal de negociação com a Casa Branca, em meio à relação tensa entre Lula e Trump. A sugestão do governo brasileiro para que o setor privado pressione os importadores norte-americanos foi recebida com ceticismo, sobretudo no ramo de pescados, que vê pouca chance de essa estratégia surtir efeito.
Setor de pescados teme perder mercado construído em décadas
Para Eduardo Lobo, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca), a situação é crítica. Com 70% das exportações voltadas aos Estados Unidos, a nova tarifa pode tornar inviável a operação das empresas brasileiras. Diante disso, a entidade solicitará ao presidente Lula uma linha de crédito emergencial de R$ 900 milhões para garantir a sobrevivência do setor enquanto não se alcança uma solução diplomática.
A entrada de peixes brasileiros no mercado europeu está bloqueada desde 2017, o que torna ainda mais urgente a busca por alternativas. Embora haja expectativa em torno do acordo Mercosul-União Europeia, Lobo alerta que essa possibilidade não virá a tempo de evitar perdas imediatas com o tarifaço.
Segundo Lobo, se os produtos brasileiros saírem do mercado norte-americano, será difícil voltar a esse espaço. Ele destacou que anos de investimento foram necessários para construir uma relação de confiança baseada em qualidade e regularidade, e que perder essa posição seria um retrocesso para o setor.
A principal demanda dos setores até o momento, que é o adiamento da aplicação da tarifa, ainda não foi atendida. Empresários defendem que isso seria essencial para permitir um espaço de negociação mais técnico, além de oferecer tempo para que os exportadores se adaptem às novas exigências.
