Vacina universal contra o câncer com RNA mensageiro avança em testes promissores

Cientistas da Universidade da Flórida deram um importante passo em direção à criação de uma vacina universal contra o câncer. Utilizando a tecnologia de RNA mensageiro (mRNA), eles desenvolveram uma formulação genérica que estimulou fortemente o sistema imunológico de camundongos, combatendo diferentes tipos de tumor, inclusive os mais resistentes a tratamentos.

O estudo foi divulgado na última quinta-feira (18) e o experimento combinou a vacina com imunoterápicos já utilizados em humanos, como os inibidores de checkpoint imunológico. O resultado impressionou: alguns tumores desapareceram por completo, abrindo caminho para testes clínicos com pacientes.

Abordagem gera reação imune sem personalização

O diferencial desta vacina está em sua atuação não específica, visto que não mira em mutações individuais, mas sim, “engana” o sistema imunológico. Essa “enganação” provoca uma resposta generalizada, como se o organismo estivesse combatendo um vírus. Tal estímulo levou as células de defesa a reconhecerem e destruírem células cancerígenas.


A tecnologia do RNA mensageiro (Vídeo: reprodução/YouTube/RFI Brasil)

Além disso, os pesquisadores usaram a estratégia de forçar os tumores a expressarem a proteína PD-L1. Essa proteína torna os tumores mais visíveis às células T, aumentando a eficácia da resposta imunológica e potencializando os efeitos da imunoterapia.

mRNA como esperança no combate a cânceres

A nova tecnologia da vacina segue o modelo das vacinas desenvolvidas contra a covid-19, como as da Pfizer e da Moderna. Os cientistas utilizam nanopartículas lipídicas para entregar instruções genéticas às células. Com isso, o corpo aprende a produzir uma resposta contra o câncer.

Segundo os autores do estudo, essa abordagem pode inaugurar um novo paradigma. Em vez de personalizar vacinas, os pesquisadores buscam desenvolver uma solução mais potente e abrangente, capaz de funcionar em diferentes pacientes e tipos de tumor. A equipe já organiza os testes clínicos em humanos.

A proposta também acompanha iniciativas globais. A Organização Mundial da Saúde (OMS) apoia o uso de vacinas de mRNA no combate a doenças como a gripe aviária. No Reino Unido, cientistas já iniciaram os testes da vacina BNT116, também baseada em mRNA, em pacientes com câncer de pulmão.


Funcionários em pesquisa de vacinas, sede da Moderna (Foto: reprodução/Adam Glanzman/Getty Images Embed)


Enquanto isso, a mídia brasileira acompanha casos de enfrentamento do câncer, como o da cantora Preta Gil, que iniciou tratamento nos EUA, e do chef Edu Guedes, que passou por cirurgia no pâncreas. Assim, os avanços como essa vacina podem oferecer a cura, ao combate dos cânceres e promovem


Vacina contra o câncer começa a ser testada na Europa

Pacientes de vários países da Europa, como Espanha, Alemanha, Bélgica e Reino Unido, participaram de uma série de testes para um novo tratamento, chamado de vacina personalizada.

O primeiro paciente a testar o novo tratamento foi o britânico Elliot Pfebve, de 55 anos, recebendo uma vacina para um câncer no colón. Ela terá como base a tecnologia usada na maioria das vacinas contra covid-19, o RNA Mensageiro (mRNA).

O Reino Unido, país no qual reside o primeiro paciente do estudo, teve até o momento 30 hospitais inscritos na plataforma de Lançamento de Vacinas contra o câncer. O objetivo é que a plataforma consiga ligar o paciente a um dos hospitais participantes.


Paciente recebe vacina contra câncer (Foto: reprodução/ Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido/ Instagram/ @uhbtrust)

O funcionamento da vacina personalizada

As vacinas contra o câncer têm visam algo diferente da vacina tradicional, uma vez que ela será desenvolvida com base em um diagnóstico. Porém, um ponto em comum entre os dois tipos de vacina é que ambas preparam o sistema imunológico para procurar um adversário, como câncer.

O primeiro paciente desse ensaio, Elliot, teve uma amostra de seu tumor enviada para a empresa BioNTech, na Alemanha, onde puderam observar até 20 mutações específicas de seu câncer. Com isso, os cientistas conseguiram desenvolver proteínas mutantes capazes de combater as células cancerígenas.

A principal função da vacina personalizada é combater quaisquer células cancerígenas a fim de evitar o ressurgimento do câncer.

Uma nova inovação para a área da saúde

A tecnologia de RNA Mensageiro sendo aplicada em tratamentos contra câncer pretende ser uma grande inovação no campo da saúde, embora os estudos ainda estejam em fase inicial. “Acho que esta é uma nova era. A ciência por trás disso faz sentido”, diz Victoria Kunene, uma das pesquisadoras do ensaio, ao jornalista Fergus Walsh, da BBC.

Entre os pesquisadores a esperança é que a vacina personalizada seja uma alternativa com menos danos colaterais que a quimioterapia.