Relatório de órgão da ONU sobre recursos hídricos globais alerta sobre futuro

Nesta quinta-feira (18/09), a Organização Meteorológica Mundial (OMM), órgão parceiro da ONU, publicou no seu site oficial, um relatório sobre o estado dos Recursos Hídricos Globais 2024. O relatório busca monitorar o estado dos rios, reservatórios, gelos, águas subterrâneas, solos, entre outros componentes do ciclo hidrológico. Seu objetivo é ampliar uma visão global sobre os extremos hídricos, baseada em dados, e orientar ações de adaptação, gestão e proteção dos recursos hídricos.

O documento aponta que apenas um terço das bacias hidrográficas do mundo registrou condições normais no ano passado, nas outras houve excesso ou escassez de água. Por meio deste relatório é possível entender e comparar o que está fora dessa normalidade, os extremos de seca e enchentes, tanto no mundo quando no Brasil. 

Extremos no Brasil

Em território nacional, a estiagem na Amazônia, que já foi sentida com muita força em 2023, atingiu 59% do território nacional em 2024, comprometendo principalmente rios, transportes fluviais e comunidades próximas aos rios. os principais reservatórios do país, Serra da Mesa (GO), já foi reportado que estava com 23% de sua capacidade total. Sobradinho–BA, teve momentos de reservas muito baixas, porém hoje ela está com 38% (o que é melhor, mas ainda sob risco dependendo do período de estiagem). Reservatórios de água da Região Metropolitana de São Paulo, o volume médio estava por volta de 38,4% nos sete sistemas principais, pode parecer alto, entretanto para um reservatório que abastece a maior Metrópoles do Brasil é algo insuficiente.


Vídeo: Sobre a seca na Amazônia (Vídeo: reprodução/BBC News Brasil/YouTube)

Alguns especialistas alertam que isso aumenta o risco de apagões e encarece a conta de luz, já pressionada pela bandeira vermelha patamar 2, acionada devido ao baixo nível dos reservatórios dos rios. Por outro lado, no Sul, enchentes deixaram 183 mortos e milhares de desabrigados, e, para os especialistas, esses extremos hídricos serão mais prolongadas, com secas há longo tempo e enchentes mais intensas, isso ocorre por conta de o planeta estar ainda mais quente.

Relatório sobre situação no mundo

Em 2024, foi o terceiro ano consecutivo em que todos os glaciares monitorados perderam massa. Isto é, águas congeladas que derreteram e se juntaram à água líquida do mar, portanto contribuindo para o aumento do nível do mar no mundo. O relatório traz exemplos da crise em várias regiões, como, por exemplo, seca no sul da África, enchentes na Europa, ciclones na Ásia e chuvas intensas na região do Sahel, na África Ocidental todos elas passaram da normalidade de tempo e quantidade.


Vídeo explicando o efeito estufa (Vídeo: reprodução/Toda Matéria/YouTube)

O relatório afirma que, em 2024, a temperatura da superfície do mundo ficou, em média, 1,55 °C acima dos níveis pré-industriais. O efeito estufa é um dos principais fatores, mas os esforços para combatê-lo nos últimos anos pelos países ainda não são suficientes. O que demonstra a não eficácia no combate a ele. O relatório deixa explícito também que por muitas vezes não conseguiu cobrir todas as áreas e é necessária uma cooperação maior dos países, investir nesses monitoramentos e sistemas de alerta precoce para extremos hidrológicos.

2025 registrou o janeiro mais quente da história

O ano de 2025 começou registrando o janeiro mais quente da história. As temperaturas vêm aumentando fazendo com que o planeta esteja a 18 meses sob recordes de extremo calor. Os números são preocupantes e pegaram os especialistas de surpresa, isso porque eles esperavam uma diminuição nas temperaturas devido ao resfriamento dos oceanos causado pelo La Niña.

Recorde de extremo calor

De acordo com um levantamento feito a pedido do G1 pelo Centro Nacional de Monitoramento de Desastres (Cemaden), “Mais de 6 milhões de brasileiros enfrentaram pelo menos 150 dias de calor extremo em 2024 – um ano marcado como o mais quente da história da Terra”.

No total, 111 cidades do Brasil tiveram 5 meses de calor extremo com temperaturas que, muitas vezes, ultrapassaram os 40°C. No entanto, não apenas essas cidades foram afetadas pelas temperaturas extremas, ainda de acordo com o levantamento, todas as cidades brasileiras enfrentam ao menos um dia com temperaturas máximas extremas.

Região Norte é a mais afetada pelo calor extremo

O Norte do país foi a região mais afetada pelas altas temperaturas, enfrentando uma seca extrema no ano de 2024. Os rios da maior bacia hidrográfica do mundo, a Amazônica, secaram completamente fazendo com que a maioria dos Estados declarasse situação de emergência.


Morador de Porto Velho sentado próximo ao Rio Madeira (Foto: reprodução/G1)

La Niña

Os especialistas esperavam uma trégua nas temperaturas neste mês de janeiro devido ao resfriamento dos oceanos com o La Niña, no entanto, mesmo com o fenômeno acontecendo, os índices não foram bons. Em janeiro de 2024, mesmo com o fenômeno El Nino, que aumenta a temperatura dos oceanos, os números foram menores do que neste ano.


Temperaturas aumentam apesar do La Niña (Foto: reprodução/Estadão)

A causa desses índices extremos na temperatura é o aumento da emissão de gases do efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global. Com o crescente aumento das temperaturas, os pesquisadores temem que o mundo atinja um novo recorde de temperaturas.

Imagens da NASA revelam a fumaça das queimadas no Brasil a milhões de quilômetros da Terra

A seca e as queimadas que assolam o Brasil estão agora visíveis até mesmo do espaço. Imagens captadas neste domingo (15), pelo satélite Deep Space Climate Observatory (DSCOVR), da NASA, mostram uma enorme coluna de fumaça que se estende do Norte ao Sul do país, ilustrando o impacto ambiental que atravessa fronteiras.


Fumaça das queimadas no Brasil vista do espaço. Foto: Divulgação/Images/NASA Earth Observatory

O Brasil enfrenta uma temporada crítica de queimadas, potencializada pela seca prolongada. As imagens captadas pelo satélite da NASA, localizado a 1,5 milhão de quilômetros da Terra, mostram uma extensa nuvem de fumaça que percorre o país. Além de afetar a visibilidade e a qualidade do ar, as queimadas têm contribuído para o aumento das temperaturas e trazido graves consequências às regiões Norte e Sul.

Queimadas vistas do espaço

O satélite DSCOVR, lançado em 2015 pela NASA, foi projetado para monitorar o clima espacial e o ambiente terrestre. No entanto, as imagens capturadas neste final de semana revelam uma nova realidade: a coluna de fumaça gerada pelas queimadas no Brasil. Essas imagens impressionantes mostram como a poluição causada pelo fogo na Amazônia e em outras regiões do país se espalha pelo território, afetando até o litoral de São Paulo.

Equipado com instrumentos avançados, como a Earth Polychromatic Imaging Camera (EPIC), o DSCOVR capta imagens detalhadas da Terra, permitindo uma visão sem precedentes da interação entre o Sol e o nosso planeta. Além de monitorar as tempestades solares e prever eventos que podem impactar sistemas de comunicação, o satélite agora tem um papel crucial na observação das mudanças climáticas na Terra, como as queimadas no Brasil.

 Impacto da seca, das queimadas e a consequência para a saúde


Imagem de satélite mostram a coluna de fumaça que percorre o Brasil.Foto: Divulgação/Images/NASA Earth Observatory

Com a chegada da seca, o Brasil registra um aumento preocupante no número de queimadas, que já ultrapassam 7 mil focos de calor, segundo o INPE. A Amazônia, historicamente conhecida como um pulmão verde, está entre as áreas mais afetadas. As cidades do Norte, diretamente atingidas pelo fogo, enfrentam problemas graves, enquanto os estados do Sul e Sudeste também sofrem com a fumaça que chega por um corredor de vento.

A fumaça gerada pelas queimadas tem efeitos devastadores para a saúde das populações nas regiões afetadas. A qualidade do ar piora, e os problemas respiratórios aumentam, principalmente entre crianças e idosos. Além disso, a alta concentração de partículas no ar contribui para o aumento das temperaturas, criando um ciclo perigoso que agrava ainda mais a crise climática no Brasil e na América do Sul.

Mais de mil cidades brasileiras estão em situação de seca extrema ou severa

Segundo os dados divulgados pelo Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres (Cemaden), órgão que monitora o tema da seca por todo Brasil. O estudo do Cemaden mostra que ao menos mil cidades brasileiras estão enfrentando seca severa ou extrema.

Os números exatos no estudo são de 1.024 cidades brasileiras com problemas de seca, o número é 23 vezes maior do que no ano de passado. Em 2023 somente 45 cidades estavam sofrendo com problemas de estiagem.

Os estados do Acre, Espírito Santo, Amazonas, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia, São Paulo e Tocantins são os que enfrentam as maiores consequências em relação as secas.

Esta seca está ocorrendo porque ouve recorde de calor, e a chuva ficou abaixo da média esperada no Brasil.


A seca que aconteceu em 2023 no Rio Negro (Reprodução/AFP/Michael Dantas)


A situação da seca nas regiões do país

No Sudeste, os estados que estão com maiores problemas são Espírito Santo e São Paulo. Em ambos estados há cidades com situações extremas de seca.

No estado de São Paulo foi registrado em junho, o pior índice de focos de incêndios, com a vegetação seca a chama se espalha com mais facilidade. A Cantareira que abastece milhões de pessoas no Estado está com 63% de sua capacidade, o que é considerado bom, porém devemos ter cautela até porque a seca deve durar por mais alguns meses. Já no Espírito Santo, a seca já prejudicou as safras de café, leite e derivados.

Na região Centro-Oeste, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul são as que estão sofrendo mais com a seca. A falta de chuva inclusive já está causando grandes incêndios no Pantanal.

O Norte já estava buscando se recuperar da pior seca em 40 anos. Os estados dessa região estão ficando novamente vulneráveis e estão ficando sem água. Rondônia e Acre estão sofrendo uma grave crise hídrica.

A seca está mais grave em comparação com o ano passado

A seca deste ano está sendo muito mais intensa e extensa, observando os dados do Cemaden de 2023 de 2024.

Os registros de seca extrema foram de uma única cidade no ano passado, em 2024 cresceu bastante com 106 cidades em situação de seca extrema.

Já a seca severa teve 44 cidades registradas nessa situação em 2023, neste ano 918 cidades brasileiras estão enfrentando seca severa.

Amazonas enfrenta seca severa e declara emergência em 20 municípios

Nesta sexta-feira (5), o governo do Amazonas declarou estado de emergência em 20 municípios das regiões do Alto Solimões, Juruá e Purus devido à baixa no nível dos rios que assola o estado. Segundo a Defesa Civil, os níveis dos rios estão abaixo das médias históricas para esta época do ano.

Entenda a situação

O Rio Negro registrou, nesta sexta-feira (5), uma cota de 26,70 metros, enquanto nos anos anteriores as marcas foram de 27,89 metros em 2023, 29,59 metros em 2022 e 29,87 metros em 2021.

O governador Wilson Lima destacou a importância do Decreto de Emergência para oferecer suporte legal aos municípios afetados. “É importante para que eles possam se mobilizar e que a gente possa também estabelecer essa relação e essa comunicação com o Governo Federal”, declarou Wilson. 

Além disso, o governo do Amazonas emitiu um Decreto de Emergência Ambiental que proíbe totalmente o uso de fogo em 22 cidades do sul do estado e na Região Metropolitana de Manaus.

Importância da medida

O secretário de Estado de Meio Ambiente, Eduardo Taveira, destacou que o Decreto de Emergência Ambiental é inovador, pois, além de definir as responsabilidades das entidades governamentais, proíbe o uso de fogo enquanto durar a seca e estabelece critérios de qualidade do ar, o que é importante considerando o problema com fumaça que Manaus enfrentou no ano passado.

Para gerenciar todas essas medidas, foi criado o Comitê de Enfrentamento à Estiagem, composto por 33 secretarias e órgãos estaduais. Um Comitê Técnico-Científico também dará suporte às autoridades em questões relacionadas às mudanças climáticas extremas.


Governador Wilson Lima institui Comitê de Enfrentamento à Estiagem e Mudanças Climáticas (Foto: reprodução/Instagram/@wilsonlimaam)

Desde o ano passado, o governo do Amazonas vem planejando ações para minimizar os impactos de possíveis novas estiagens, priorizando o abastecimento de água potável, insumos médicos, produção rural, logística educacional e ajuda humanitária.