Caso Djidja: família planejava criar vila para ampliar seita e fazer uso de cetamina 

Em novas informações divulgadas a respeito da investigação do caso envolvendo Djidja Cardoso e sua família, foi descoberto o planejamento para a criação de numa vila na Zona Norte de Manaus a fim de ampliar o grupo religioso fundado e comandado por eles. O envolvimento indiscriminado de cetamina também fazia parte das motivações da família.  

Cenário do caso

Após a conclusão do inquérito policial sobre o caso, foi divulgado nesta quinta-feira (20), mais informações sobre o aterrorizante caso envolvendo a ex-sinhazinha do Boi Garantido e sua família. A descoberta do terreno comprado a fim de promover atividades ilegais selou um dos principais cenários do caso. 

De acordo com o laudo da necropsia, a morte da empresária Djidja Cardoso foi causada por “depressão dos centros cardiorrespiratórios centrais bulbares; congestão e edema cerebral de causa indeterminada”. A polícia ainda investiga se o quadro pode ter sido causado por overdose de cetamina — anestésico de uso humano e veterinário; a droga se tornou ilícita na década de 1980 e só pode ser vendida com receita.

Pelas palavras do delegado Cícero Túlio, as investigações relataram que a família da empresária, responsável pela fundação de uma seita que incentivava o uso da droga, queria criar um lugar para que indivíduos viciados no anestésico pudessem usar de forma indiscriminada.  

Segundo as investigações, Djidja foi vítima de tortura praticada por Cleusimar, sua mãe.


Djidja Cardoso em fotos pessoais (Foto: reprodução/ Instagram/ @djidjacardoso)

“Eles almejavam a criação de uma comunidade, a partir da compra de um terreno na Região Norte aqui de Manaus, para criar uma espécie de vila onde as pessoas iriam ali residir naquele ambiente e fazer uso indiscriminado da cetamina, além de promover os cultos de forma criminosa”

Cícero Túlio, delegado do caso.

Cleusimar Cardoso e Ademar Cardoso, mãe e irmão respectivamente, foram indiciados por doze crimes além de tráfico de drogas e tortura com resultado de morte. Mais nove pessoas com envolvimento no caso também foram indiciados.

Algumas delas eram pessoas próximas de Djidja, como o ex-namorado, Bruno Rodrigues além de Hatus Silveira, apresentado como personal da ex-sinhazinha. Além deles, funcionários de uma rede de salões de beleza comandado pela família e funcionários de um petshop.

Como exposto pelo delegado, os funcionários do salão envolvidos são: Claudiele Santos da Silva; Verônica da Costa Seixas; e Marlisson Vasconcelos Dantas. Todos eles operavam o esquema criminoso, promovendo a realização de cultos religiosos com a utilização de entorpecentes. Espera-se que o Ministério Público deva denunciá-los à justiça. 

Ainda segundo Cícero, o grupo queria criar uma comunidade ou algo próximo, para fomentar as práticas da seita na utilização de cetamina. Também fazia parte dos planos montar uma clínica veterinária para facilitar o acesso e a compra de medicamentos de uso controlado com ajuda dos donos das clínicas, Sávio Pereira, José Máximo de Oliveira e Roberleno Fernandes.

A polícia também apontou Hatus Silveira como elo entre os autores e fornecedores das drogas, principalmente José Máximo, Sávio e Roberlano. De acordo com o titular do 1º DIP, ainda existe entre os indiciados um indivíduo identificado como Emicley, este que teria ajudado na dissimulação de provas durante buscas em uma das clínicas veterinárias.

A polícia também atuou pela conversão da prisão temporária em preventiva de Bruno Rodrigues, ex-namorado de Djidja, nesta semana, com base nas provas coletadas em seu aparelho celular que indicam participação do indiciado também na gestão da seita criminosa.  

Bruno também integrava a seita religiosa, atuando como auxiliar durante as meditações. Foi por meio dele que a família conheceu Hatus, que serviu de ponte de ligação entre a família e um dos fornecedores, José Máximo. Hatus já utilizava substâncias usadas no ramo veterinário, facilitando a aquisição dos entorpecentes para que a família pudesse continuar com as atividades da seita

Cícero Túlio, delegado do caso.

Crimes atribuídos e presos do caso

Os quatorze crimes atribuídos aos indiciados são: tráfico de drogas; associação para o tráfico; perigo para a vida ou saúde de outrem; falsificação, adulteração ou corrupção de produtos destinados a fins terapêuticos ou medicinais; aborto provocado sem consentimento da vítima; estupro de vulnerável; charlatanismo; curandeirismo; sequestro e cárcere privado; constrangimento ilegal; favorecimento pessoal e real; exercício ilegal da medicina além de tortura com resultado de morte.

Quanto aos envolvidos, já foram presos: Ademar Farias Cardoso Neto, irmão da ex-sinhazinha; Cleusimar Cardoso Rodrigues, mãe de Djidja; Verônica da Costa Seixas, gerente do salão de beleza Belle Femme; Marlisson Vasconcelos Dantas, cabeleireiro do mesmo salão; Claudiele Santos da Silva, também funcionária do salão; Bruno Roberto, ex-namorado da empresária; Hatus Silveira, o então identificado como personal trainer de Djidja além de José Máximo de Oliveira, dono da clínica veterinária suspeita de fornecer a substância para a família Cardoso.

Outros dois funcionários da clínica veterinária também foram presos mas sem nomes divulgados.  

Investigação do caso Djidja aponta seita familiar e uso de drogas

Na última terça-feira (28) a empresária e ex-sinhazinha do Boi Garantido faleceu. Após investigações, as suspeitas da causa da morte são de overdose. De acordo com a Polícia Civil, o irmão, a mãe e a própria Djidja se viam como representações de Jesus Cristo, Maria de Nazaré e Madalena. No caso, a família parecia viver em uma espécie de seita onde se enxergavam como essas figuras bíblicas e usavam de substâncias ilícitas que podem ter causado a morte de Djidja. 

Uso e dependência de drogas 

Ainda após investigações da Polícia Civil, descobriu-se que a família criou um grupo religioso chamado “Pai, Mãe, Vida”, em que incentivaram o uso de cetamina, anestésico injetável de uso veterinário também chamado de ketamina. De acordo com os acusados a droga era usada “para alcançar uma falsa plenitude espiritual”. A família usou a droga pela primeira vez há pouco mais de um ano. Djidja, o irmão Ademar e a mãe Cleusimar começaram até mesmo a ter alucinações por conta do uso excessivo da substância.

Em abril deste ano, todos passaram a ser investigados por tráfico de substâncias. A gerente do salão de beleza de Djidja foi apontada como a responsável pelas compras da droga. A compra era realizada ilegalmente e sem receita em clínicas veterinárias, pela gerente Verônica da Costa, e a família passava o dia utilizando a substância, que é altamente viciante. Além disso, também participavam de alguns rituais e até publicaram vídeos nas redes sociais, segundo o delegado Cícero Túlio. O delegado também compartilhou que os três liam livros sobre a seita e que se imaginavam como os líderes da mesma.


Djidja, Cleusimar e Ademar (Foto: reprodução/Instagram/@djidjacardoso)

Ademar, Cleusimar, Verônica e outros dois funcionários foram presos na quinta-feira (30). Ademais, a polícia apreendeu seringas e frascos na casa da família e em uma clínica veterinária. Lidiane Roque, advogada de Ademar, Cleusimar e Verônica, afirma que no momento, a prioridade é o bem-estar e a saúde mental dos clientes e que os mesmos devem ser internados. “Os meus clientes precisam de ajuda médica“, afirmou.

Denúncia de abuso

Além da família, uma ex-namorada de Ademar diz que foi aliciada por ele para entrar na seita e que passou a utilizar a substância por isso. Segundo ela, as pessoas só podiam frequentar a casa se usassem a droga e meditassem. “’Pai, Mãe, Vida vai cuidar de você. Pai, Mãe, Vida vai te curar'”. Investigações estão apurando se Ademar teve relações sexuais com a vítima enquanto a mesma estava sob efeito da cetamina, o que caracterizaria estupro de vulnerável. Também existem indícios de que a vítima sofreu um aborto dentro da casa devido ao uso da substância.