Arqueólogos encontraram, nesta sexta-feira (8), na região de La Libertad, perto da costa norte do Peru, os restos mortais de 14 indivíduos enterrados com a face para baixo e mãos amarradas atrás das costas. As vítimas foram descobertas em valas comuns e em montes de areia no templo de Puémape. A região peruana é conhecida pelo seu rico conteúdo arqueológico. A situação encontrada representa, segundo os arqueólogos, indícios claros de sacrifício ritual. Acredita-se que os rituais estejam associados à antiga cultura Cupisnique, que prosperou mais de mil anos antes dos incas.
Sacrifício e mistério arqueológico
A descoberta ocorreu em um possível templo ritual localizado a cerca de 675 km ao norte de Lima, junto a uma praia. A posição dos corpos — de bruços e mãos amarradas — é considerada uma forma típica de sacrifício humano, como explicou o arqueólogo Henry Tantalean, líder da escavação. Ele também destacou que os traumas observados nos ossos, além da ausência de oferendas funerárias, diferem dos enterros elaborados encontrados em outras partes do Peru.
A cultura Cupisnique: arte e sacrifícios milenares
A cultura Cupisnique floresceu entre cerca de 1500 a.C. e 500 a.C. na costa norte peruana, edificando templos em adobe e produzindo cerâmica decorada com símbolos religiosos marcantes, como o “deus-aranha”. Estudiosos apontam que a iconografia de decapitação — uma temática que se repete em culturas posteriores como a Moche — já estava presente nessa fase antiga.
Ritualizar o sacrifício humano era relativamente comum em antigas civilizações andinas. Os Moche, por exemplo, realizavam sacrifícios em cerimônias de fertilidade e rituais de antepassados, envolvendo derrotados de batalhas e até episódios de canibalismo ritualístico. Já os Chimú promoveram, próximo de Chan Chan, um sacrifício infantil em massa com 227 vítimas, possivelmente para aplacar eventos climáticos adversos.
Outras culturas, como os Incas, praticaram o ritual capacocha: sacrifícios de crianças consideradas puras, realizados em altos andinos, muitas vezes com uso de substâncias como coca e ayahuasca para tranquilizar as vítimas.
No Brasil: práticas rituais e antropofagia
Embora o sacrifício humano como nos Andes seja raro na história indígena brasileira, algumas manifestações simbólicas de antropofagia ritual foram registradas entre povos Tupi-Guarani, especialmente os Tupinambá. Nesses casos, a antropofagia tinha caráter de vingança e simbolismo espiritual, não sendo equiparável aos sacrifícios religiosos andinos.
Vestígios que contam histórias
A descoberta dos 14 corpos sacrificialmente enterrados abre uma janela para compreender práticas rituais de sociedades pré-incas como os Cupisnique. Ao revelar não apenas violência, mas também sentidos religiosos profundos associados à fertilidade, renovação ou poder, o achado enriquece o entendimento dos sistemas simbólicos andinos ancestrais — e ressalta a importância de continuar investigando os vestígios dessas civilizações esquecidas.
