O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na terça-feira (12), em carta enviada ao Smithsonian Institution, que 8 museus localizados em Washington e pertencentes à rede, incluindo o Museu Nacional de História Americana, Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana e Museu Nacional do Índio Americano, passarão por uma revisão de conteúdo. Além dos 8 museus, outros centros culturais serão inspecionados em uma segunda fase, afirmou a carta.
A análise inicial envolverá exposições e mostras itinerantes atuais e futuras (para os próximos 3 anos), além de orçamentos, organogramas, manuais para funcionários, descrições de cargos e comunicados internos sobre seleção e aprovação das obras de arte.
Em 30 dias, os museus devem catalogar todos esses itens e receber “visitas de observação no local”. Haverá também entrevistas a curadores, em até 75 dias. A previsão é que as “correções” comecem a ser feitas dentro de 3 meses.
Instituição de pesquisa e preservação já fora alvo de Trump anteriormente
Essa não foi a primeira vez que o bilionário estadunidense ameaçou a Smithsonian Institution, maior complexo de museus e pesquisa dos Estados Unidos, com 21 centros culturais e 142 milhões de itens sob administração.
Em janeiro, a rede teve de interromper as atividades de seu escritório de diversidade após uma ordem executiva proibir políticas de equidade e inclusão em organizações financiadas pelo governo.
Em março, um decreto intitulado “Restaurando a Verdade e a Sanidade da História Americana”, voltado diretamente à instituição, determinava a remoção de “ideologias inapropriadas, divisivas ou antiamericanas” de seus museus. O documento atribuía ao vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, a missão de, junto a líderes do Congresso, indicar novos membros para o conselho diretor da entidade.
Um dos mais importantes do país, o Museu Nacional de História Americana, em Washington, faz parte da Smithsonian Institution (Foto: reprodução/Kevin Carter/Getty Images embed)
Em maio, Trump transmitiu através das redes sociais a demissão da diretora da Galeria Nacional de Retratos, vinculada à rede, Kim Sajet. Primeira mulher a dirigir o museu, desde 2013, Sajet nasceu na Nigéria e tem formação em história da arte.
Ela é uma pessoa altamente partidária e uma firme defensora das políticas de diversidade, equidade e inclusão, o que é totalmente inapropriado para o cargo. Sua substituta será nomeada em breve”
Trump
Em julho, devido a pressões do governo Trump de demissão de funcionários, o Museu Nacional de História Americana alterou o conteúdo da exposição “Presidência Americana: Um Fardo Glorioso” para que não constasse mais as referências às duas tentativas de impeachment que Trump sofreu em seu primeiro mandato.
Universidades também sofreram com ações de Trump
Ainda neste ano, os noticiários mundiais foram tomados com a escalada de tensão entre Trump e grandes universidades, como Princeton, Columbia e Harvard. É que, sob justificativa de apoio a ações antissemitas (por terem sido ocupadas por estudantes contrários à guerra na Faixa de Gaza), o presidente estadunidense congelou verbas bilionárias destinadas à pesquisa.
A primeira grande instituição a sofrer com os cortes foi a Universidade de Columbia, em Nova York, onde os protestos começaram. Em março, Trump suspendeu o financiamento de 400 milhões de dólares à universidade, que, na esperança de conseguir reavê-los, se comprometeu a punir os manifestantes e coibir novas mobilizações estudantis. O dinheiro nunca retornou e a reitora Katrina Armstrong foi tão criticada que decidiu renunciar ao cargo, no mesmo mês.
Em abril, Trump enviou uma carta a Harvard, considerada um dos melhores centros de ensino superior do mundo, exigindo controle sobre a contratação de docentes, ingresso de alunos e alocação de recursos. Harvard foi a primeira universidade de ponta dos EUA a negar as demandas governamentais e, por isso, sofreu um corte de 2,2 bilhões de dólares para a pesquisa.
Dias depois, a Associação Americana de Faculdades e Universidades (AAC&U) e a Academia Americana de Ciências e Artes publicaram uma declaração pública criticando o “uso coercitivo” de financiamento público para pesquisa, que recebeu a assinatura de quase 600 dirigentes de instituições e organizações acadêmicas, entre os quais os reitores de Harvard, Princeton, MIT, Yale e Cornell.
Um levantamento da revista científica Nature aponta que cerca de 6 bilhões de dólares já foram congelados pela Casa Branca para o financiamento de pesquisas durante a administração Trump, o que mostra que o artifício financeiro é usado não apenas contra instituições culturais, mas contra à abrangente intelectualidade de seu próprio país.
