Governo Trump amarga derrota na Suprema Corte de Wisconsin

O governo Trump sofreu um baque direto nesta terça-feira (1) ao perder a eleição da vaga de juiz para a Suprema Corte do estado de Wisconsin. Com a eleição de Susan Crawford, a ala liberal manteve a maioria democrata no tribunal. 

A juíza Crawford derrotou o conservador republicano Brad Schimel, que foi procurador-geral do estado. Schimel reconheceu a vitória em um telefonema à democrata e em um discurso para os seus apoiadores. A vencedora liderou a eleição com 9 pontos de vantagem com uma margem aproximada de 191 mil votos e 88% da contagem dos votos. 

Supremas Cortes estaduais

Cada estado americano tem a sua própria Suprema Corte, equivalente à segunda instância da Justiça brasileira. Questões que interferem em regras eleitorais locais, por exemplo, são decididas nessas cortes estaduais. Em 38 dos 50 estados americanos, é o povo que elege os magistrados. 

Em Wisconsin, o tribunal é composto por sete juízes. Três mantêm uma linha ideológica próxima ao Partido Republicano, partido do presidente Donald Trump, e quatro eram mais alinhados às políticas do Partido Democrata. Com a abertura de uma vaga, o governo Trump tentou eleger um candidato aliado e manter a maioria da corte a seu favor. 

Bilionário derrotado

Susan celebrou ao lado de seus apoiadores em Madison, na capital do estado. “Tenho que dizer a vocês, como uma menina que cresceu em Chippewa Falls, eu nunca poderia imaginar que estaria confrontando o homem mais rico do mundo em favor da justiça e por Wisconsin. E vencemos!”, disse Crawford. 

Os democratas consideram a conquista um passo à frente em direção ao seu objetivo de recuperar a maioria na Câmara dos Deputados dos Estados Unidos em 2026. 

Esta noite, o povo de Wisconsin rejeitou de maneira firme a influência de Elon Musk, Donald Trump e dos interesses especiais de bilionários.

Ken Martin, presidente do Comitê Nacional Democrata

Segundo a Reuters, aparentemente os eleitores estavam conscientes dos desdobramentos desta eleição em outros estados. O eleitor West Roberts, de 26 anos, antes do encerramento da votação na noite de terça, disse que “apoiar pessoas comuns é mais importante do que apoiar pessoas que estão dando respaldo a Elon Musk ou aos multimilionários”

Em contrapartida, na cidade de Genesse, o aposentado Gary Christenson prometeu votar em Schimel. “Se um liberal entrar aqui, eles vão continuar a tentar destruir os esforços de Trump em enxugar o governo”, disse o eleitor republicano. 

O presidente Trump preferiu não comentar sobre a derrota em uma uma rede social. Ao invés disso, comemorou a vitória de uma medida favorável em uma votação à parte no estado que tinha maior importância de identificação com seus eleitores. 

Durante a corrida para a vaga na Suprema Corte estadual, o presidente Trump defendeu o patriotismo de Schimel nas redes sociais e acusou Crawford de “liberal de esquerda radical”, acusando-a de libertar pedófilos e estupradores, afirmando que sua eventual vitória seria um desastre. 


Empresário Elon Musk compartilha postagem em que Trump acusa Susan Crawford de libertar pedófilos e estupradores (Foto: Reprodução/X/@elonmusk)

Milhões de dólares gastos na campanha

De acordo com o Centro Brennan, da Universidade de Nova Iorque, esta campanha se tornou a competição judicial mais cara na história norte-americana, com gastos que ultrapassaram os 90 milhões de dólares, gastos pelos candidatos, pelos partidos estaduais e outros grupos de apoio. A campanha de Shimel gastou mais de 53 milhões de dólares, enquanto a campanha de Crawford investiu mais de 45 milhões. 

O assessor do presidente norte-americano, Elon Musk, foi até Wisconsin e empreendeu esforços para a campanha do candidato de Trump. Com o equilíbrio do tribunal em risco, Musk e grupos políticos aliados investiram mais de 21 milhões de dólares para a campanha do rival de Crawford. 

No domingo, dia 31 de março, Musk entregou pessoalmente cheques de um milhão de dólares a eleitores durante um comício da campanha de Brad Schimel, o que os democratas consideram ilegal. No entanto, a ação não foi suficiente e o governo Trump teve o seu primeiro grande fracasso no teste eleitoral do seu segundo mandato. 


Elon Musk presentei eleitor com um cheque de $1 milhão de dólares durante evento de campanha em Wisconsin (Reprodução/Jeffrey Phelps/AP)

Apesar do golpe em Wisconsin, Trump e seus aliados puderam comemorar o sucesso de duas eleições suplementares para a Câmara dos Representates na Flórida, que manteve a maioria republicana. 

Relevância de Wisconsin na política americana

O estado de Wisconsin, localizado no Meio-Oeste do país, é um dos estados-pêndulos dos Estados Unidos, considerados aqueles que podem dar a vitória para qualquer um dos lados partidários na corrida presidencial e mantém o suspense até o fim da contagem de votos. 

Wisconsin é uma velha briga entre democratas e republicanos e foi palco para as vitórias de Barack Obama em 2008 e 2012. Os progressistas dominavam o estado desde o fim dos anos 1980, porém Hillary Clinton inesperadamente perdeu a eleição para Trump no estado em 2016. 

Em 2020, Biden derrotou Trump em Wisconsin com uma diferença de apenas 20 mil votos. Desde então, é difícil prever se quem vence ali é o campo conservador ou o progressista. 

O progressismo político na história americana nasceu em Wisconsin durante as décadas de 1890 e 1900. O estado é pioneiro na adoção de direitos do trabalho, reformas econômicas, sociais e educacionais, além de ter sido o primeiro estado do país a abolir a pena de morte. Wisconsin também foi pioneiro por ser um grande centro educacional. A primeira universidade norte-americana a aceitar cursos na modalidade a distância, por meio de correspondências, e o primeiro jardim de infância norte-americano foram criados naquele estado. 

Wisconsin possui um dos maiores rebanhos de gado bovino e é o maior produtor de queijo e manteiga. Também é o segundo maior produtor de leite dos Estados Unidos. Porém, no momento, as principais atividades que movimentam a economia são a prestação de serviços financeiros e imobiliário, a indústria manufatureira e o turismo. 

Juíza progressista derrota candidato apoiado por Musk e Trump em eleição histórica nos EUA

Em uma eleição histórica, a juíza progressista Susan Crawford derrotou o candidato conservador Brad Schimel, apoiado pelo bilionário Elon Musk e pelo presidente Donald Trump, para uma vaga na Suprema Corte de Wisconsin.

A vitória de Crawford mantém a maioria liberal de 4 a 3 no tribunal. Estes, deverão decidir em breve sobre questões cruciais como direitos reprodutivos e redistritamento eleitoral.


Susan Crawford ganha disputa pela Suprema Corte do Wisconsin (Foto: Reprodução/AP)

Investimento recorde e apoio de figuras influentes

A campanha de Schimel recebeu mais de US$ 20 milhões em apoio financeiro de Musk e seus aliados, tornando esta a corrida judicial mais cara da história dos EUA. Musk, que compareceu pessoalmente a comícios em Wisconsin, enfatizou a importância da eleição para o futuro do país e do mundo. Além disso, o ex-presidente Donald Trump endossou publicamente Schimel, buscando consolidar uma maioria conservadora no tribunal.

Apesar disso, desse investimento e do respaldo de Trump, os eleitores optaram por Crawford, sinalizando uma possível resistência à crescente influência de Musk na política americana. Analistas políticos, decerto, sugerem que a tentativa de Musk de “comprar” a eleição pode ter gerado um efeito contrário. Isto é, mobilizando eleitores preocupados com a integridade do processo democrático.


Cobertura da vitória de Susan Crawford sobre Brad Schimel, candidato de Musk e Trump, na eleição para Suprema Corte de Wisconsin (Vídeo: Reprodução/YouTube/milwaukee Journal Sentinel)

Além disso, grupos de defesa da democracia criticaram a intervenção de Musk, argumentando que grandes doações de bilionários podem minar a confiança pública nas instituições. Essa preocupação foi, então, amplamente discutida nos meios de comunicação e nas redes sociais durante a campanha.

Implicações para o cenário político nacional

Ademais, a derrota de Schimel é vista como um revés para Trump e Musk, especialmente considerando os esforços do ex-presidente para consolidar o poder conservador no judiciário. Durante seu mandato, Trump nomeou 234 juízes federais, inclinando a Suprema Corte dos EUA para a direita. Ou seja, a vitória de Crawford pode indicar uma mudança no sentimento público em relação à administração atual e influenciar futuras eleições de meio de mandato.

Além disso, a eleição destaca a crescente preocupação com a influência de grandes doadores na política americana. A tentativa de Musk de influenciar a eleição com contribuições financeiras foi um ponto focal da campanha de Crawford, que argumentou que a democracia não deve estar à venda.

Observadores políticos sugerem que a vitória de Crawford pode servir como um modelo para outras campanhas progressistas enfrentando adversários com recursos financeiros significativos. A mobilização de eleitores em resposta à influência de grandes doadores pode sinalizar uma mudança na dinâmica eleitoral nos EUA.

Reações e perspectivas futuras

Após a derrota, Musk e Trump intensificaram as críticas ao judiciário. Musk chegou a pedir uma “onda imediata de impeachments judiciais”, alegando que juízes estariam impedindo a agenda conservadora. Essas declarações foram condenadas por diversas entidades jurídicas, que as classificaram como “riscos sérios para nossa estrutura constitucional”.

Enquanto isso, Crawford prometeu proteger os direitos e liberdades básicas dos cidadãos de Wisconsin, incluindo direitos reprodutivos e eleitorais. Sua vitória é um sinal de que os eleitores estão atentos e dispostos a desafiar a influência de figuras poderosas na política estadual e nacional.


Brad Schimel, candidato de Musk e Trump, reconhece derrota, diz parabenizar Crawford e agradece aos seus apoiadores em seu dircuso de concessão (Vídeo: Reprodução/YouTube/WISN 12 NEWS)

Analistas preveem que essa eleição pode ter um efeito em outras disputas judiciais e legislativas, encorajando candidatos progressistas a desafiar a influência de grandes doadores. A mobilização popular demonstrada em Wisconsin pode servir de exemplo para outros estados.