Governo avalia contato entre Lula e Trump em meio a tensão comercial

O governo brasileiro estuda a possibilidade de uma conversa entre Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump nos próximos dias. A princípio, a ideia é que o primeiro contato aconteça por telefone ou videochamada antes de uma reunião presencial. Há pouco, o presidente dos Estados Unidos afirmou durante um encontro da Organização das Nações Unidas (ONU) que teve “química” com Lula e que acertou conversar sobre tarifas, mas ainda não há definição oficial do encontro.

Contato ainda em negociação

No Planalto e no Itamaraty, diplomatas defendem que haja cautela. Dessa forma, eles avaliam que um telefonema seria mais rápido e viável diante das agendas lotadas. Ao tempo que Lula tem viagens previstas à Ásia em outubro, Trump pode participar da cúpula da Asean na Malásia. Assim, há a possibilidade de um encontro em país terceiro.

Já interlocutores afirmam que uma conversa inicial ajudaria a alinhar os pontos de divergência e a construir uma confiança. Por outro lado, auxiliares de Lula consideram essencial mostrar firmeza sem abrir espaço para interpretações de concessão política.

Relação marcada por desconfiança

Desde que Trump assumiu, em 2024, a relação bilateral tem sido difícil. O republicano impôs tarifas de 50% a produtos brasileiros e, recentemente, sancionou a advogada Viviane Moraes, esposa do ministro Alexandre de Moraes com a Lei Magnitsky. Para diplomatas, essas medidas revelam imprevisibilidade.


Eduardo Bolsonaro critica Trump após evento da ONU (Vídeo: reprodução/YouTube/MetrópolesTV)

Apesar da tensão, Lula reforçou na ONU que está aberto ao diálogo sobre comércio. Ele destacou, porém, que soberania e independência do Judiciário não entram na negociação. Especialistas afirmam que a diplomacia brasileira deve manter firmeza e prudência diante das pressões americanas.

Pressão econômica em Washington

Nos últimos anos, empresas brasileiras como JBS e Embraer investiram bilhões nos Estados Unidos, gerando milhares de empregos. Consequentemente, esse cenário pressiona Trump a recuar parcialmente nas tarifas. Embora analistas avaliam que, mesmo sem acordo imediato, dificilmente o Brasil sairá prejudicado, o professor Laerte Apolinário, da PUC-SP, afirma que o governo deve insistir em negociações justas. Já Carolina Pedroso, da Unifesp, prevê um encontro mais discreto que outros conduzidos por Trump. Para Rodrigo Amaral, também da PUC-SP, a postura firme de Lula pode evitar desgastes.

“Predidente Lula” defende soberania nacional e manda recado para Donald Trump

Em meio à recente tensão comercial entre Brasil e Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender com veemência os recursos naturais do país. Durante um evento realizado nesta quinta-feira (24) no Vale do Jequitinhonha, em Minas Novas (MG), Lula afirmou que o Brasil não permitirá interferências externas em seus bens estratégicos, como petróleo, ouro, minerais raros, água doce e biodiversidade amazônica

Declaração do presidente Lula

A declaração ocorre em meio a especulações sobre o interesse do governo norte-americano, liderado por Donald Trump, em explorar ou negociar o acesso a minerais considerados cruciais para a indústria tecnológica global. Segundo Lula, essa tentativa esbarra em um princípio inegociável: a soberania nacional.

O presidente destacou a extensão territorial do Brasil — com mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, 16.700 km de fronteira terrestre e 8.500 km de costa marítima — e reforçou a responsabilidade do Estado brasileiro em proteger não apenas seus territórios, mas também os 215 milhões de cidadãos que neles vivem.

O discurso também incluiu uma crítica direta à postura do presidente norte-americano. Lula afirmou que Trump foi eleito para governar os Estados Unidos, e não para impor decisões ao restante do mundo. Segundo ele, o Brasil está aberto ao diálogo e à cooperação internacional, desde que haja respeito mútuo e reconhecimento da autonomia brasileira.


Imagem aérea mostrando garimpo ilegal e desmatamento na Amazônia em Terra Indígena Yanomami, no Estado de Roraima (Foto: reprodução/Alan Chaves/Getty Images Embed)


Impasse nas relações comerciais

Durante a cerimônia, que teve como foco o anúncio de investimentos em comunidades indígenas, o presidente ressaltou a capacidade do país de negociar de forma justa e soberana. Ele comparou sua trajetória de líder sindical com a atual política externa, defendendo que negociações devem ocorrer com equilíbrio, sem submissão.

A fala de Lula surge em um momento de aumento das tensões geopolíticas globais em torno de recursos estratégicos, como terras raras e minerais essenciais para a transição energética. O posicionamento público do presidente brasileiro sinaliza uma tentativa de proteger os interesses nacionais diante de pressões externas, ao mesmo tempo em que mantém aberto o canal para tratativas comerciais. Com isso, o governo reafirma sua postura de defesa do patrimônio brasileiro, ao mesmo tempo, em que busca manter o país como um ator ativo e soberano nas relações internacionais.