Estudantes de Harvard criam óculos com reconhecimento facial

Óculos com reconhecimento facial criados por estudantes de Harvard reacendem debate sobre privacidade e ética

Beatriz Wicher Por Beatriz Wicher
4 min de leitura
Foto Destaque: estudantes que criaram a nova tecnologia (Reprodução/Instagram/@jackfroot)

Dois estudantes da Universidade de Harvard, AnhPhu Nguyen e Caine Ardayfio, recentemente chamaram a atenção com um experimento que revela os avanços e dilemas da tecnologia de reconhecimento facial. A partir de dispositivos da Meta, como os óculos inteligentes Ray-Ban, os alunos desenvolveram uma combinação de ferramentas tecnológicas para identificar, em tempo real, desconhecidos na rua e acessar informações pessoais, como nome e ocupação.

O projeto rapidamente se tornou viral após a divulgação de um vídeo demonstrando sua funcionalidade nas redes sociais, provocando uma onda de reflexões sobre ética e privacidade no uso dessas tecnologias.


Óculos Ray-ban meta smart (Foto: reprodução / Meta)


Uso das ferramentas e desafios éticos

Nguyen e Ardayfio utilizaram óculos Meta para transmitir vídeos ao vivo, capturando rostos através de softwares de detecção facial e, em seguida, cruzando os dados em um mecanismo de busca facial chamado PimEyes. Com isso, eles conseguiram encontrar informações de indivíduos em bancos de dados na internet. Além disso, utilizaram uma ferramenta semelhante ao ChatGPT para sintetizar e organizar os resultados, o que incluía potencialmente informações como telefone e endereço da pessoa abordada. A ideia inicial dos estudantes não era comercializar o dispositivo, mas sim demonstrar as capacidades dessa integração de tecnologias acessíveis e refletir sobre a facilidade de sua implementação. Segundo Nguyen, as ferramentas utilizadas já estavam disponíveis ao público; o diferencial foi apenas a combinação dessas tecnologias.

O experimento, que demorou apenas quatro dias para ser codificado, ressalta questões de segurança e privacidade digital. Embora os óculos Meta possuam uma pequena luz que indica que estão gravando, as pessoas abordadas, como o jornalista e especialista em biotecnologia Kashif Hoda, nem sempre notam essa indicação, o que levanta preocupações sobre a invasão de privacidade. Hoda, por exemplo, só soube que havia sido filmado após ver seu rosto no vídeo dos estudantes. O caso ilustra como a tecnologia atual tem o potencial de violar a privacidade e, ao mesmo tempo, mostra a rapidez com que as inovações em reconhecimento facial estão avançando e se tornando populares, ainda que algumas empresas, como a própria Meta, tenham evitado investir nesses desenvolvimentos por questões éticas.

Respostas da indústria e impactos da experiência viral

A Meta, empresa responsável pela criação dos óculos Ray-Ban, já havia cogitado criar um dispositivo com reconhecimento facial, mas abandonou o projeto por conta das questões legais e éticas envolvidas. Andy Stone, porta-voz da Meta, afirmou que o experimento dos estudantes poderia ser reproduzido com qualquer câmera ou dispositivo de gravação, e destacou que, ao contrário de outros aparelhos, os óculos Meta sinalizam o ato de gravação com uma luz LED. Essa declaração, porém, não minimiza as implicações do experimento, uma vez que demonstrou como ferramentas acessíveis podem ser usadas de forma invasiva.

O projeto dos estudantes também atraiu investidores interessados em desenvolver a tecnologia, mas Ardayfio afirmou que o objetivo inicial era apenas demonstrar suas possibilidades, e não torná-lo um produto comercial. Além disso, em uma iniciativa voltada para a conscientização pública, eles compartilharam dicas de como as pessoas podem remover suas informações pessoais de bancos de dados na internet, visando a proteção de dados e a privacidade. A experiência dos estudantes de Harvard ilustra não apenas o poder da tecnologia em moldar nosso cotidiano, mas também alerta para os dilemas éticos que ainda precisam ser enfrentados com o avanço de dispositivos de reconhecimento facial e a popularização da inteligência artificial.

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