Entre as várias fragilidades do cenário geopolítico global que foram expostas com o início da guerra entre a Ucrânia e a Rússia, foi fácil para vários países observarem a dependência crítica nos satélites: com um simples ataque de hackers russos na infraestrutura terrestre do sistema Kyivstar, mais de 24 milhões de ucranianos ficaram incomunicáveis em janeiro deste ano. E agora os Estados Unidos se preocupam em relação ao próprio sistema de GPS, em relação a seus rivais.
Além da Rússia, que poderia facilmente lançar um míssil nuclear para a órbita dos satélites, o atual GPS (Sistema de Posicionamento Global) também está ameaçado pela competição com outros sistemas, seja o da União Europeia ou o da China. Com espaço de órbita limitado e em alta demanda, especialistas como o general da Força Aérea americana, John E. Hyten, já advertiram que a vulnerabilidade do sistema transforma os satélites em “alvos grandes, gordos, e suculentos“.
Em anos recentes, a Rússia, a China, a Índia, e os Estados Unidos já testaram mísseis antissatélites. Com o desenvolvimento da tecnologia de comunicações, há uma corrida entre as ferramentas que interrompem os sinais no espaço e as ferramentas que superam esses bloqueios.
Alternativas ao GPS
O equivalente ao GPS na Rússia é o Glonass, na União Europeia é o Galileo, e na China é o Beidou. Todos tem expandido em anos recentes, e embora a constelação de 32 satélites dos Estados Unidos ainda seja a principal, os seus competidores tem realizado esforços significantes para se tornarem independentes do espaço.
Por exemplo, a China tem investido em uma infraestrutura de 20 mil km de cabos de fibra óptica no subsolo, só para fornecer serviços de tempo e navegação sem depender de sinais do seu sistema Beidou, que é prevista ainda assim para expandir com o lançamento de novos satélites na forma de um sistema parcial.
“Devemos aproveitar essa oportunidade estratégica, dedicando todos os nossos esforços para desenvolver capacidades que abranjam todos os domínios – subaquático, terrestre, aéreo, espacial e espacial profundo – o mais rápido possível,” escreveram pesquisadores da China Aerospace Science and Industry Corporation.
Atraso dos Estados Unidos
Em contraste, os Estados Unidos tem tido noção do problema desde a administração de Barack Obama, em 2010, mas nenhum dos planos projetos foi efetivamente posto em prática para lidar com o problema.
“Os chineses fizeram o que nós, nos Estados Unidos, dissemos que faríamos,” disse Dana Goward, presidente da Resilient Navigation and Timing Foundation. “Eles estão decididamente em um caminho para serem independentes do espaço.”
Caso o sistema americano seja derrubado do ar, é esperado que as consequências afetem desde os aplicativos de navegação civil (Waze, Google Maps, e outros) como também sistemas científicos e militares que utilizam o poder de geolocalização dos satélites, e até navios cargueiros, que ao interrompidos poderiam bloquear o comércio em uma escala global.