Israel mata mais de 100 civis que esperavam por comida em Gaza e viola leis humanitárias internacionais

Alexandre Kenzo Por Alexandre Kenzo
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Civis em volta dos caminhões na esperança de conseguir comida (Reprodução/Reuters/CNN)

Na manhã desta quinta-feira (29), as Forças de Defesa de Israel (FDI) abriram fogo em civis palestinos que estavam reunidos em volta de caminhões de ajuda humanitária, aguardando a entrega de alimentos. Até o momento, foram confirmadas 104 mortes e mais de 760 pessoas feridas.

De acordo com o Ministério da Saúde palestino, os dois números ainda devem aumentar após a contagem dos corpos e pessoas que ainda estão no local. O massacre ocorreu na rua Haroun Al Rasheed, no oeste de Gaza, e já foi condenado pelo Ministério das Relações Exteriores da Autoridade Nacional Palestina (ANP) como “hediondo”, e pelo governo do Egito como “um ataque desumano israelense” contra “civis palestinos desarmados”.

Nós consideramos atacar cidadãos pacíficos que correm para pegar parte da ajuda um crime vergonhoso e uma flagrante violação do direito internacional”, comunicou o Egito, em concordância com a Oxfam International, que denunciou o caso como uma “grave violação das leis humanitárias internacionais e da nossa humanidade”.


Palestinos em volta dos caminhões de ajuda humanitária (Vídeo: reprodução/Youtube/UOL)

“Massacre hediondo”

As FDI já divulgaram imagens sobrevoando o local antes do ataque, evidenciando a densidade de civis palestinos em torno dos caminhões que traziam ajuda humanitária. Após os palestinos se aproximarem dos veículos, o Exército israelense abriu fogo com tiros de drone e tanques de guerra.

Atualmente, Israel descreveu duas versões do incidente, com um comunicado das FDI afirmando que os civis morreram “como resultado do empurra-empurra, pisoteamento e atropelamento pelos caminhões“, enquanto que um oficial israelense disse à CNN que o que realmente ocorreu foi que “a multidão se aproximava das forças de uma maneira que representava uma ameaça às tropas, que responderam à ameaça com fogo real”.

Esse incidente, junto com a ofensiva sobre Rafah, demonstra que Israel tem cada vez mais avançado sobre locais onde ajuda humanitária poderia chegar aos palestinos, cortando o acesso a suprimentos, e vias de escape.


Palestinos indo ao mar para recuperar ajuda humanitária (Vídeo: reprodução/Youtube/UOL)

Israel vs. Ajuda Humanitária

O bloqueio israelense de ajuda humanitária chegou a tal ponto que palestinos famintos (que no total podem representar 2,2 milhões em Gaza, segundo a ONU) chegaram a ir ao mar tentar recuperar uma parte dos suprimentos que caíram de um avião nesta última segunda (26).

Tratando-se de ajuda humanitária, em raros casos países são forçados a entregá-la por ar, devido à ineficiência e custo alto do transporte, além do risco claro em dirigir uma embarcação aérea sobre uma zona de conflito. No entanto, foi justamente desse modo que os suprimentos tiveram de ser entregues, uma vez que as tropas israelenses passaram a bloquear grande parte da ajuda terrestre. Com o incidente desta manhã, a precaução parece ser justificada.

O incidente está sobre revisão“, disseram as Forças de Defesa de Israel. Os hospitais locais, Al Shifa, Kamal Adwan, e Al Awda, afirmaram que muitas das vítimas estão chegando já mortas, e com grande atraso por causa de escombros bloqueando o caminho das ambulâncias. O número de mortos e feridos ainda deve ser atualizado pelo Ministério da Saúde palestino após a contagem final.

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